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-Aurora, depressa! Papai está descendo... É melhor você pôr logo a mesa. -Mia me olhava, receosa.

Era doloroso ver uma menina de apenas 15 anos, com olheiras fundas e tantas responsabilidades. Mas ela não era a única, desde que mamãe se fora, nós duas éramos as responsáveis pela casa, papai já tinha assuntos demais para cuidar.

Peguei os pratos e fui colocando-os na bancada, minha irmã fazia o mesmo, colocando-os na mesa. Em uma dança silenciosa que não durou muito tempo, já tínhamos tudo pronto quando meu pai apareceu na cozinha.

-Bom dia, papai. -Eu e Mia dissemos em uníssono, para depois beijarmos suas bochechas.

"Meu pai era um garanhão sorridente e que vivia cantando e falando. Agora, mal consegue prestar atenção em apenas uma coisa durante muito tempo." -Pensei, provavelmente com um sorriso melancólico, já que Mia me retribuiu com outro sorriso.

Em nossas trocas de olhares, havia uma comunicação extraordinária que fomos praticamente obrigadas a desenvolver, já que aquela casa permanecia em um silêncio eterno e, nossas vozes poderiam soar mais altas do que deveriam, expondo todos os nossos segredos.

-Bom dia, meninas. Dormiram bem? -E ele tentou de novo. Ele tentou sorrir novamente. Talvez, no fundo, ele se preocupasse realmente, mas não conseguia demonstrar. Sentia falta do meu pai.

-Claro, pai. E o senhor? -Dessa vez, apenas eu respondi. Mia abaixou a cabeça, e eu entendi exatamente o que se passava por sua cabeça. Por debaixo da mesa, tentei achar sua mão e assim que o fiz, a segurei com força.

-Melhor impossível. -Ele disse, mas ambos sabíamos que era mentira. Seus olhos revelavam isso. Todo o seu corpo dizia isso. Forcei um sorriso e bebi meu café.

-Depois da escola, Mia vai para o meu trabalho, tudo bem? -Perguntei, já sabendo a resposta.

-Claro, tomem cuidado ao atravessar a rua, esses motoristas hoje em dia perdem a noção facilmente.

Era praticamente o mesmo diálogo, todos os dias.

O mesmo teatro, todos os dias.

-Vou trabalhar. Amo vocês. -Papai depositou um beijo em nossas cabeças e saiu.

-É só uma fase, Mia. Vai passar. -Tranquilizei minha irmã, que já saía da cozinha de cabeça baixa. -Vai passar, Aurora, vai passar.

Não foi sempre assim. A casa era cheia de cantoria, bagunça e de vez em quando, muito estresse, mas era melhor assim do que como está agora, tudo tão monótono. Parecia uma redoma de mentiras, onde o silêncio era sufocante, e a paz fazia falta. Mamãe fazia falta.

Sabe quando tudo muda? Uma hora, o vento bate em você tranquilamente e você deseja ficar onde está para sempre e de repente, vem o furacão, tirando de você tudo o que te traz esperança? Exatamente.

-Aurora! Vamos? -Mia entrou na cozinha, com seus óculos escuros e cabelos impecáveis. Olhando assim, nem parecia que estava quebrada Mas ela sempre fora um livro fechado mesmo.

-Vamos, deixa só eu me trocar. -Disse, tirando o avental. -A propósito, você está fantástica! -Pisquei para minha irmã, que abriu um sorriso murcho e me empurrou de leve.

Tomei um banho rápido, mas que provavelmente deixaria a caçula uns 5 minutos mais atrasada do que já estava. Optei por jeans e maquiagem de leve, acompanhada do meu amado Vans. Enquanto me ajeitava no espelho, pronta para deixar o quarto, vi algo que me fez parar.

O que estava fazendo ali? Quem... Não!

Sentei-me, atordoada. 1... 2... 3...

Meu violão.

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⏰ Última atualização: Aug 07, 2015 ⏰

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