Capítulo 1

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Saí ontem. Fui pra boate. Precisava me jogar, e me acabei. Dancei muito. Nossa! Pulei a noite toda. Mentira: metade da noite estava vivendo um romance. Sim, sou desses que vivem romances duradouros como a noite. Apaixonei-me enquanto tragava um cigarro e tomava uma dose de uísque com energético. Não que eu tenha tomado uísque com energético a noite toda, mas fiz cara de rico até ver a última nota de cinquenta sair da minha carteira; e olha que eu não economizei. Fui tomado por uma alucinação insana e me joguei sob as luzes da noite. Posso dizer que me perdi. Estive tomado por uma excitação enorme enquanto o som tomava conta da noite, de mim e das mãos que me seduziam. Amo a noite, mais ainda as pessoas que vivem nela. Alguns dizem que sou fútil, talvez eu seja mesmo. Foda-se! E foi assim que começou a minha noite na boate.

Antes de qualquer coisa, vamos fazer uma introdução sobre como eu fui parar na boate. Tenho que fazer algumas considerações: eu me chamo Eduardo, tenho 27 anos, sou vendedor de uma rede de lojas de departamento e moro em Águas Claras, cerca de 20 quilômetros do centro de Brasília. Além de trabalhar, estudo e sou viciado em academia. Meu vício em academia me faz ser desejado por oito em cada dez homens que estão saltitantes e sem camisa na pista de dança agora. Não tome isso como prepotência ou arrogância, mas esse sou eu. Ostento elegância e alguma grana. Sou do tipo que faz qualquer um parar o que está fazendo só para me ver passar; deixo muita gente alucinada quando passo. Tenho meus predicados e pode ter certeza de que você provavelmente adoraria sentir-se mais perto de mim, mesmo que só de leve; como que tomado por um esbarrão enquanto o bate-estaca como solto na pick-up do DJ.

Moro num apartamento alugado e tenho um carro novo. Comprei o carro à vista. Ganho bem e vivo sem precisar de ninguém. Minha família não é daqui e acham que eu sou hétero. Mal sabem que minha feminilidade vem desde o berço; berço cor de rosa porque esperavam uma menina. Vivia me embaraçando com meus primos quando criança no interior do Ceará. Sou nordestino, graças a Deus. Sou lindo também, só pra constar. Haa! Sobre meus primos: todos eles são pais de família e nunca mais aconteceu nada entre nós depois da puberdade. Até tenho vontade, às vezes, de relembrar aquele passado distante nas areias do litoral, mas é melhor que fique só na vontade mesmo. Poderia me lamuriar e dizer que a culpa é deles e que, por minha fragilidade, acabei sendo o único "pervertido", mas não é do meu feitio. Superei todos meus traumas por ser homossexual e hoje tenho um orgulho 'do caralho' de consumar meu desejo por homens como eu.

Sou branco. Devo ter por volta de 1, 74m de altura. Aderi ao cabelo estilo "Gusttavo Lima" e, vez em quando, um cavanhaque. Na cama, não tenho preferências. Mas, em todo caso, prefiro ser passivo porque acho mais excitante ser dominado do que ter que dominar. Não sou bem dotado e isso influencia muito durante uma relação sexual, seja casual ou romanceada. Tenho a média do homem brasileiro e isso não é muito legal no mundo gay. Veado gosta de coisas grandes, e eu também. Se você me perguntasse o que eu procuro ou do que estou a fim, talvez eu dissesse que de um amor que durasse a vida toda e reticências. Mas, serei realista e hoje acho que preciso apenas de alguém para me fazer passar à noite sóbrio ou cuidar de mim enquanto eu estiver embriagado.

Amores rompantes: quem precisa deles? Ando me pervertendo. Instalei alguns aplicativos no meu smartphone e tenho encontrado pessoas estranhas para intimidades necessárias em dias de fúria. Sobre viver amor ou ter tido amores que me desiludiram, talvez quando o uísque estiver alto dentro da minha cabeça, eu te fale mais sobre isso. Agora, meu copo secou. Preciso de álcool. A boate está tomada de gente. Todo tipo de gente: bonita, feia, alta, magra, de perfume doce, muito doce e gente que 'faz carão'. Enquanto passo pela pista, encontro pessoas conhecidas. Beijo. Beijo. Beijo e tchau. Odeio me fazer de simpático com pessoas que não suporto. Mas, preciso ser político. Na verdade, não preciso, mas faço linha.

Foi-se a primeira dose de uísque. Não sinto nada ainda, preciso fumar. Preciso de um cigarro e ainda estou só. Não que eu tenha saído só. Estou esperando por um amigo que vai chegar mais tarde. Não sei se você sabe, mas todo gay é meio mulher em relações de amizade: ele sempre tem alguém a quem confiar seus segredos e suas aventuras, seja outro de sua laia ou uma mulher (de preferência lésbica). Eu tenho o Ed. Ed é meu melhor amigo desde que cheguei à Brasília. Se não estou muito enganado, nos conhecemos na pista de dança faz uns 10 anos e nunca mais nos desgrudamos. Começamos como que envoltos numa paquera que não rendeu muito e acabamos como melhores amigos. Somos inseparáveis e eu morro de ciúmes dele. Ele vive se iludindo: apaixona-se facilmente e acaba sofrendo por homens de corações de pedra como a maioria desses que estão aqui dançando na pista de dança.

_ Você tem um cigarro? – Não resisti. Sei que ainda é cedo, mas preciso entorpecer meu corpo. Pedi um cigarro ao primeiro que vi tragando. Na verdade, o achei bonitinho e isso contou quando resolvi falar sobre o cigarro. Ele tinha e foi gentil, acendi e segui caminho até o bar para mais uma dose. Cigarro horrível. Ruim de doer. Certeza de que amanhã vou amanhecer de ressaca por causa dessa merda desse cigarro de pobre que ele me deu.

Telefone toca. Impossível atender. Ed querendo saber onde estou: digo, por mensagem, que fervendo na pista. Ele diz que está esperando seu novo namorado da última semana terminar de se arrumar para virem. Tédio quando vejo esses casais juntos. Quero muito que meu amigo seja feliz, mas ele precisa amadurecer muito ainda até viver uma história de amor. Sobre eu ter uma história de amor? Sobre eu ter vivido histórias de amor? Vivi várias e aprendi muito com todas elas. Às vezes tenho minhas carências e acabo me apegando e quando isso acontece, acabo deixando fluir com consciência. É difícil, mas com o passar do tempo aprendi a controlar mais meus impulsos e, até quando acabo gostando, tento distrair meus sentimentos para que eles entendam que, às vezes é melhor sozinho do que mal acompanhado e o coração parece gostar de más companhias.

Pego a dose de uísque e misturo com energético. Volto para o meio da pista e começo a me estressar com Ed que nunca chega. Se não estou enganado, já se aproxima da meia noite e meia. Daqui a pouco começa o show e eu continuo sozinho: sem amigo e sem alguém para chamar de meu. Encontro mais meia dúzia de conhecidos: a maioria alguém que já levei para a cama ou me esbarrei em algum lugar desprovido de pudores onde fui à procura de prazer momentâneo.

Preciso retocar a maquiagem. A fila do banheiro já é grande e eu não tenho muita paciência para esperar. Procuro algum espelho espalhado pela boate e percebo que ainda consigo segurar mais um tempo no carão. Quando viro, depois de me olhar no espelho, me esbarro num velho conhecido. Devo dizer que ele passou grande parte do último ano tentando virar minha cabeça e fazendo com que eu me deixasse levar pelo romantismo que pulsava de suas vontades: ele vivia uma paixão que não se consumou e isso meio que frustrou um pouco seus relacionamentos vindouros. Desde então, ele vive tentando me mostrar que só há uma forma de ele (eu) ser feliz: acreditando nesse sentimento que ele nutre por mim.

_ Nossa, você continua lindo! –Ele disse!

OS DESCAMISADOS (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora