A primeira vez que o vi foi no shopping. Eu tinha acabado de sair da loja onde trabalhava e dei de cara com ele que vinha despercebido. Não deu outra: acabamos nos esbarrando ali. Resultado: um milk-shake de baunilha ficou estampado na sua camiseta branca. Lembro exatamente da camiseta branca, a calça jeans e a havaiana.
_Desculpa! Eu não vi que você estava vindo!
_Não tem problema. Eu vou ao banheiro e me limpo já.
Eu fiquei meio constrangido de ter feito aquilo, mas, no fundo, o achei bem bonito. E era. Tentei de tudo para que ele aceitasse minha ajuda, seja lá qual fosse, mas ele estava irredutível e saiu se limpando do resto do milk-shake que descia pelo seu corpo. Eu, como estava de saída, fui atrás. No primeiro banheiro que ele entrou, eu o segui. Lá estando o vi sem camiseta, molhando-se ali mesmo na pia. Ele tinha o corpo de um deus e eu me encantei enquanto ele, sem nenhuma malícia, se alisava. Naquele instante, senti um puta tesão naquele corpo. Não só eu, mas a meia dúzia de homens que entrou no banheiro nesse tempo em que eu estive observando seu ato de se limpar depois de tomar banho de Milk-shake, ou teve inveja do seu corpo perfeito ou quis ter aquele corpo perfeito dentro de si. Enquanto eu o observava de longe, pensei em me aproximar e, mais uma vez, pedir desculpas. Tive receio porque me lembrei de que já tinha oferecido e ele se recusara veementemente. Fiquei ali ainda algum tempo observando, mas meu instinto foi mais forte do que eu.
_ Cara, desculpa mesmo. – Lá estava eu mais uma vez implorando por uma desculpa de alguém que eu nem conhecia. Estava lá pedindo desculpa talvez, ou talvez a intenção fosse apenas chamar a atenção mesmo.
_ Olha você aí de novo. Deixe-me ver se não está carregando nenhuma arma de baunilha. – Além de tudo, ainda era brincalhão.
Enquanto ele se limpava, a camiseta branca estava pendurada em um dos lados da pia para secar. Ele devia ter por volta de 1,80 de altura e sua beleza era inebriante. Eu mesmo, enquanto falava, tentava não olhar tanto para seu físico reluzente de perfeição sob as luzes do banheiro e o reflexo vindo do espelho, que era seu corpo seminu. Do acidente ocorrido com o Milk-shake, eu não me sujei quase nada. Não sei se isso é bom ou ruim porque poderia estar ali sem camisa também me exibindo mais do que já estava para tentar ser notado por ele enquanto ele se enxugava depois do banho de baunilha.
_ De fato, você saiu quase ileso do nosso acidente.
_ Que azar o meu! – Pensei na mesma hora. Naquele instante pedi um caminhão de baunilha caindo sobre minha cabeça só para ficar nu em sua frente.
_ Meu nome é Caio. Muito prazer!
_ Eduardo!
Pronto. De alguma forma, eu consegui reverter a situação e tirei a impressão de que o acidente pudesse ter feito ele me odiar. Agora, poderia estar satisfeito e me retirar, ir embora e deixá-lo ali se limpando. Poderia, se eu fosse louco. Pensei comigo na probabilidade de ele ser gay: fiz uma revista em cada milímetro perfeito daquele corpo e procurei por traços comumente encontrados em corpos de homens gays. E ele tinha todos.
Quando dei por mim, estava fazendo a entrevista. Digo entrevista por que são aquelas perguntas que todos fazem quando encontram algum cara interessante e já esmiúçam sua vida: idade? O que faz da vida? Onde mora? O que procura e tal? Foram cerca de 20 minutos ali conversando. Meia hora depois, eu estava saindo do reservado depois de transar com aquele desconhecido que não era mais desconhecido porque já tinha seu nome, seu telefone e transado com ele no banheiro do shopping.
Do banheiro até o estacionamento foram cinco minutos. E foram exatamente nos cinco minutos passados que ele me mandou uma mensagem dizendo que queria me ver de novo. Disse ainda que gostou da minha ousadia em ir atrás e levá-lo para o reservado do banheiro. Transamos por uns seis meses. Ele conheceu minha intimidade e eu a dele: era metido a intelectual e desses que criticam o mundo e o comportamento gay. Pra mim soou como recalque, mas respeito a opinião de cada um. E o esforço de aturar sua prosa sem cabimento e seu falatório contra o comportamento homossexual, era compensado quando ele ficava nu sobre mim coberto pela sua libido insaciável: era foda pra caralho!
Com o tempo, fui perdendo a paciência com aquele papo chato de criticar tudo e todo mundo, além de vê-lo se sentir superior a qualquer um de sua raça. Mas, pelo sexo, ainda tentei superar os seis meses. Então, certa vez ele me fez uma surpresa: foi até o meu trabalho e me levou um buquê de rosas vermelhas. Foi lindo. Fez declaração e disse que queria construir algo a mais comigo. Eu já andava meio desconfiado porque bisbilhotei umas mensagens no seu celular. Não deu outra: recebi a declaração, nos beijamos, fizemos aquela ceninha de novela e rompemos com a barreira do preconceito para quem quisesse ver naquele shopping numa segunda-feira à tarde. Eu me recompus, voltei ao trabalho e ele foi embora.
Passaram-se exatamente 20 minutos até eu sentir meu celular vibrando no bolso. Vejo um número desconhecido. Na mensagem:
"Tadinho! Todo iludido pelo safado do namoradinho! Olha só onde ele está agora!"
Em seguida, chega o arquivo da foto de Caio nu numa cama redonda de motel. Ele não percebera que a pessoa com quem estava, tirou a foto e agora era tarde. A foto chegou uma hora ou duas depois da declaração e do pedido de namoro. Eu não sei qual dos dois acontecimentos causou mais furor e espanto em mim. Talvez eu tivesse gostado da ideia de namorá-lo porque ele preenchia grande parte dos requisitos que preciso para estar com alguém, mas fazer uma sacanagem de levar outro para o motel no dia que me pede em namoro foi demais.
Já tinha me acostumado em vê-lo quase que diariamente e gostava da sua presença, mas segui em frente. Do que ficou? Não pedi explicação e não fiz nada. Desci tudo que ele tinha no meu apartamento e deixei com o porteiro do prédio. A última vez que falei dele ou sobre ele foi quando o mesmo porteiro veio me perguntar o motivo da expulsão tão assim...
_ Eu te conheço? – Na fila da boate, fiz de desentendido e não dei assunto. Ele ainda insistiu para que eu falasse mais sobre esse tempo em que nos afastamos e o que estava fazendo. Não tive paciência e saí da fila. Fui ao banheiro. No banheiro a fila era duas vezes maior do que a do bar. Muita gente reunida querendo 'se colocar'. Vou ao mictório. Quando estou na entrada do banheiro, Ed me puxa pelo braço e me oferece cocaína. Eu não sei se quero me 'colocar' hoje, mas como sinto que a noite não vai render, os acompanho. Fico irritadiço com o tamanho da fila e sugiro que procuremos outro lugar para fazer isso. Quinze minutos depois, estamos fazendo rodinha para cheirar pó no canto mais isolado da boate. Começo a me animar e vamos para a pista de dança.
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OS DESCAMISADOS (Romance Gay)
RomanceImagina uma noite: dois amigos resolvem curtir uma balada gay e experimentar tudo que a noite tem para oferecer. Esse é o desfecho desse romance que para ser lido precisa de uma música bate-estaca. Então, escolha uma música que te lembre um pista d...