Capítulo Um

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      Talvez fosse tarde da noite, mas eu ainda estava ali conversando com Mary, algo inacreditável era o modo como as coisas estavam indo, nós estávamos namorando já fazia nove meses e eu estava completamente apaixonado, seus olhos cor de mel, seu cabelo cacheado, com ondas que nem o mar conseguia fazer. Seu jeito havia me conquistado: simpática, alegre, parecia não existir tristeza naquela pequena cabeça, ela era cheia de defeitos, eu os via, mas os amava mesmo assim, nada podia ser melhor, mas como nada é um conto de fadas, eu sabia que algo ia mal. Ela despediu-se hoje mais cedo que o normal, desliguei o celular e fui rumo a cama, retirei os sapatos, joguei a roupa sobre o pequeno criado mudo de madeira, e recostei-me.
      O sol bateu em meus olhos com forte intensidade, sentei-me rente a cama, o relógio ao lado marcava cinco e meia da manhã, então levantei e fui em direção ao banheiro. Entrei no Box, liguei o chuveiro, a água fervia como fogo, foram necessários alguns minutos para que o mesmo voltasse a sua temperatura normal, logo tomei meu banho. Vesti uma camisa de manga, uma calça jeans e meus tênis novos, nunca fora necessário mais de cinco minutos para que eu ajeitasse meu curto cabelo castanho escuro, então não demorava a frente do espelho, mas hoje reparei logo abaixo dos meus olhos azulados, haviam olheiras, lembrei das ultimas noites em claro conversando com Mary, noites perderia pelo resto da vida se fosse com ela. Desci as escadas peguei minhas chaves e sai.
           Já a caminho da faculdade, com o radio numa estação nunca ouvida, reparei num rosto conhecido logo ao outro lado da rua atravessando a pequena faixa de pedestres.
            - Laura!- Gritei e a pequena menina loira, me olhou e sorriu vindo em direção ao meu carro.
             - Oi, Jorge. - Falou ela com um de seus melhores sorrisos.
             - Está indo pra faculdade? Quer carona?
             - Não o que é isso, não quero incomodar.
            - Você vai é atrapalhar o trânsito desse jeito, entra logo antes que o sinal abra.- Disse eu jogando o meu olhar que ela conhecia muito bem, ela teria que aceitar de qualquer maneira.- Vamos!
             Laura e eu nos conhecíamos a mais de onze anos, pode-se dizer que crescemos juntos, ela veio falar comigo assim que me mudei para a cidade com meus pais nesse tempo éramos vizinhos, hoje em dia ela está muito mudada, ela era uma menina moleque, que jogava bola e era melhor que muito menino por ai, tinha um cabelo loiro longo, e muito liso. Hoje em dia ela tem seus cabelos curtos e cacheados, pelo que ela me disse foi a puberdade, não joga mais no time, e mesmo toda mudada ainda é uma amiga maravilhosa, não perdeu seu jeito meio desleixado, mas quem comanda é seu lado mulher.
              - Obrigada, pela carona.
              - Que nada, e você sabe que se você não aceitasse ainda estaríamos lá- Dei risada e ela o mesmo.
              - Como vai você e a Mariana?
              - Bem, ela é uma menina e tanto.
              Após alguns minutos de silencio chegamos à faculdade, e ela despediu-se de mim. Entrei, a primeira aula seria de filosofia, eu tinha uns cinco minutos para entrar na sala, dez se eu contasse com a demora que o professor sempre tem. Fui à procura de Mary, há essa hora ela já havia chegado, mas não a encontrei em local algum, resolvi mandar uma mensagem.
              - Mary cadê você?
                Digitando...
                - Jorge, preciso falar com você, me encontra atrás do palco agora.
             Algo não ia bem, e eu sabia desde o inicio, fui logo para trás do palco não consegui conter meus pensamentos que me levaram a varias coisas que poderiam ter acontecido. Ao chegar no local marcado vi sua silhueta, e me aproximei.
                  - Mary? O que aconteceu?
                   Ela deu um passo para trás como para se afastar de mim. Ela estava nervosa, e os seus lindos sorrisos pareciam ter evaporado.
                  - Mary você está me assustando!
                  -N-nós precisamos terminar... -Ela deixou a frase no ar, parecia ter mais pra falar, apenas não
                   - Porque, o que aconteceu? Alguém está te ameaçando? Porque está nervosa?- Quando ela ouviu a frase pareceu água, mudou totalmente seu estado
                   - Não sou nenhuma menininha indefesa, e mesmo se alguém estivesse me ameaçando eu daria meu jeito, não sou essas princesas idiotas, que sentam e esperam um cavaleiro de armadura branca, eu simplesmente sou eu.
                    Fiquei branco, sem palavras, um relacionamento destruído em minutos. Apenas sai daquele local. Fui direto para a sala, imaginando mil motivos, e o meu amanhã como seria, eu estaria sentindo sua falta? Não, eu já estava sentindo. Aquilo ficou revirando minha cabeça a manhã toda, as aulas foram passando e eu não ouvi uma palavra. O que deu naquela garota doce, de sorriso continuo? Eu sabia que precisava sair dali. Na aula de física lá estava ela a 2/3 de distância da minha carteira, parecia abalada, algo estava acontecendo, mas o meu único desejo era sair daquele prédio, foi quando pedi transferência, enquanto arrumava a papelada não pisaria o pé naquele prédio, pode parecer drama mas não é.
                       Quando consegui finalizar com toda a papelada, liguei para meus pais e contei que estava de mudança, eles não gostaram nada da idéia, mas como sempre me apoiavam em tudo apenas concordaram, já tinha separado exatamente tudo, a passagem, o dinheiro, e até o local onde ficar a única coisa que faltava era o tempo passar, faltava exatamente uma semana para a viagem. Passei os cinco dias seguidos fazendo exatamente a mesma coisa: Dormir cedo, acordar no meio da noite com a sensação de que meu celular havia tocado, e ficar acordado até amanhecer e ir tomar café, essa rotina estava acabando comigo.
Na sexta-feira à noite, faltava apenas um dia, então comecei a arrumar minha bagagem, coloquei tudo que pude na mala, afinal iria morar lá. Foi quando a campainha tocou, não queria abrir, mas poderia ser importante, ao chegar à porta dou de cara com a Laura.
                        - Meu Deus, Jorge! Onde você esteve esse tempo todo? Como pode parar a faculdade assim do nada? E o seu sonho?
                        - Oi, Laura. - Falei e ela conhecia os meus olhares.
                        - Ah não, o que aconteceu? Porque está assim?
                        - Vou me mudar... - Deixei a frase solta no ar e a retomei- Vou continuar com a faculdade, mas bem longe daqui.
                        - Porque essa decisão assim de uma hora para a outra?
                        - Não vou conseguir mais continuar na faculdade, todo dia olhando para a Mary... - Ela me olhou de forma estranha. - Você não soube? A Maryana terminou comigo e de uma forma muito estranha... Ela estava nervosa, havia algo errado, fiz umas perguntas que acho que não devia e ela surtou.
                          Ela me olhou surpresa, fez uma cara e falou colocando em seu rosto um daqueles sorrisos de quem acabava de ter a idéia de como dominar o mundo.
                           - Eu vou junto. - Falou com uma certeza na voz, logo seguida do meu olhar de que não se deve discutir.
                            - Laura eu sei que você está com as melhores intenções e quer me fazer companhia, mas e os seus pais o que vão achar disso?
                             - Eles não vão ligar, afinal vamos continuar a faculdade. Vamos para onde?
- Vamos Laura!- Gritei.
Meu carro estava estacionado em frente a casa dela, tínhamos uma hora para chegar no aeroporto, mas tínhamos de fazer o check-in. Havia se passado apenas um dia desde que Laura tinha aparecido em minha porta, e sabe-se lá Deus como conseguimos sua passagem. Laura só falou com seus pais no dia seguinte a compra da passagem, hoje, e eles concordaram em ver a transferência, porém ela devia mandar noticias todo final de semana.
- Tudo pronto. - Disse ela entrando no carro e colocando a última mala no banco de trás.
- Não falta nada?- Perguntei.
- Não, já peguei tudo.
Foi à deixa para que eu desse ré no carro e saísse da vaga. Fomos ouvindo música e cantando, como nos velhos tempos.
- Jorge?
- Sim. - Disse interrompendo o refrão de Radioactive do Imagine Dragons.
- Você soube que a Mary não estava indo a faculdade também?
Abaixei o volume, e pensei.
- Você acha que tem alguma coisa acontecendo com ela?
- Sempre fui muito amiga dela, mas ela nunca demonstrou nenhum sentimento diferente de felicidade.
- Hum...
Então viajamos em silencio até que Laura, para cortar aquele clima pesado começou a contar histórias muito loucas.
           - Então você não sabia que a Julia era um unicórnio? - E começávamos a dar risada. - Mas é claro que ela é um unicórnio, mas e a Ana, lembra dela, no quinto ano? - Acenti com a cabeça - Ela me disse que era caidinha por você. Mas eu nunca te disse isso porque naquele tempo eu também tinha uma paixão por você. - Quando ela disse isso eu desviei rapidamente para olhar da estrada para ela.
       -Porque nunca me disse isso?
       - Você me via como um parceiro, eu era muito enturmada com os meninos, então eu desisti. - Ela me olhou e gargalhou. - Não fique preocupado, sempre estive a favor do seu namoro com Mary. - Então ela sorriu e eu sorri.
       - Mas é os seus casos senhora Laura? - Ela me olhou e riu como se não ouve-se amanhã, infelizmente sua risada era contagiante e eu ri junto.
       Ela retomou a falar, mas eu não ouvi pois pensei em como era incrível seu modo de me fazer rir, mas lembrei-me então do lindo sorriso de Mary, e então em seu olhar nervoso.
        - Jorge?- Disse Laura me tirando do meu devaneio.
        - O que ouve?
        - Acho que acabamos de passar pelo aeroporto.
        Foi quando me toquei, então parei em um acostamento e virei a rotatória, após alguns minutos chegamos ao aeroporto lá depois de resolver tudo me sentei ao lado de Laura.
- Você ainda não me disse pra onde estamos indo. Porque tanto mistério?
- Não queria estragar, nós vamos pra onde você sempre quis ir, antes mesmo de quase me obrigar a trazê-la, quando comprei a passagem pensei em você e em como quando éramos menores você vivia dizendo que gostaria de visitar Miami.
- Aah não J, sério mesmo cara?!
Soltei uma risada sem querer, a cara que ela fez quando soube para onde estávamos indo era a mesma de quando ganhava uma bola nova quando era pequena. Começamos a rir juntos, parecíamos dois loucos no meio da sala de espera do aeroporto. Logo era a hora do nosso vôo, quando entramos no avião, ela logo puxou o Notebook e eu meu Ipod. Após horas de viagem, virei para ela.
         - Quando perguntei de seus namorados porque você riu? - Ela parou um pouco, respirou e me olhou.
         - Nenhum menino olha pra uma garota que joga futebol como uma garota, eles olhavam pra mim como uma parceira. - Ela fechou os olhos e continuou - Foi por esse e outros motivos que ela me tirou do time, disse que não era uma coisa de meninas, e ela só conseguiu me transformar nessa "boneca" que sou hoje depois de muito tempo e esforço.
        - Mas você sempre foi linda. - Disse e ela sorriu, mas apenas virou o rosto de volta ao computador. E assim se seguiu nossa viagem, quando chegamos ao destino fomos direto para a casa que eu havia alugado lá, foi bem difícil mas eu havia conseguido uma mobiliada, não era pequena e contava com dois quartos. Entrei e fui logo me acomodar em meu novo quarto, logo sai a procura de Laura pela casa, ela se encontrava na cozinha.
- Estou amando este lugar J.
- Vamos ter de arrumar empregos para nos manter.
- Isso será o mínimo afinal estamos em Miami, meu Deus nunca pensei que estaria aqui.
- Pois é, nem eu. - Fiz uma pausa e continuei - Vou sair para me familiarizar com o bairro.
Ela acentiu com a cabeça e eu sai. Já do lado de fora comecei a andar e observar, era uma rua repleta de casas, parecia um desses filmes que se vê na televisão, crianças andavam de bicicleta pela rua e mulheres estavam sentadas conversando. Era um local agradável, mas a sensação de um lugar novo ainda me incomodava, locais que eu nunca vira, repleto de desconhecidos.

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