Capítulo Dois

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Depois de rodar pela vizinhança e encontrar pelo caminho dois restaurantes, minha barriga parecia dar voltas, entrei num mercado que achei, lá procurei por suprimentos para passar a primeira semana, minha barriga dava voltas entre tantos alimentos, não parava de pensar em voltar pra casa e comer, peguei o carrinho livre mais próximo e comecei a jogar nele várias coisas: um quilo de arroz, um de feijão, peito de frango, queijo, pão e outras coisas. Comecei a pensar em tudo que havia acontecido naquele mês, foi o que me distraiu, pois quando percebi bati o carrinho que eu portava em um moça estranhamente familiar.
- Jorge?! O que você está fazendo aqui.-Pensei por um instante, nenhuma desculpa me vinha a cabeça.
- Estou aqui com Laura - Ela pareceu surpresa e se não a conhecesse diria que vi um flash de ciúmes em seus olhos, mas aquilo seria impossível já que ela mesmo havia terminado comigo.
- Vocês estão... - Ela deixou a frase solta como se não conseguisse ou simplesmente não quisesse completa-lá.
- Namorando - Completei. Seria ótimo fazer com que ela sentisse um pouco de ciúmes. - Sim, estamos morando juntos aqui.
- Morando?
- Sim, algo te incomoda?-A reação dela era inexplicável, não sabia se era ódio, ou incerteza, ciúmes ou se ainda não havia se acostumado, assim como eu, com a ideia de não tê-la. Foi quando parei para pensar em meus atos, o que eu havia acabado de fazer? O que Luísa iria pensar se soubesse? Mas, tudo isso não valia a cara que Mary havia feito.
- Me incomodar? Não, nada. Você está morando por aqui?
- A menos de uma quadra daqui.-Ela ainda não parecia acreditar na ideia deu estar lá.
- Então a gente se encontra por aí?
- Quando você quiser-Disse eu com a minha cara de bobo apaixonado de sempre, logo me recompus e corrigi-Talvez.-Ela deu um sorrisinho que, agora, demonstrava confiança, de que era o que eu iria descobrir. Mas antes que eu pudesse ter chance de falar qualquer coisa ela partiu em direção ao caixa.

Fiquei parado ali até digerir o que havia acontecido, então minutos depois  segui rumo ao caixa, paguei as compras  com o meu cartão, afinal teria que arranjar um emprego em breve para conseguir dinheiro e me manter aqui,  quando me retirei do mercado viajei em meus pensamentos, agora recomeçar é a única saída, a escolha foi dela. Não. Quem eu quero enganar? Como esquecê-la, não sinto os pés no chão, tudo parece um castigo.
Depois de vagar com o cheiro predominantemente maravilhoso dos restaurantes cheguei à porta de minha nova casa quase aos prantos, coloquei as sacolas que eu portava no chão para procurar minhas chaves, passei as mãos nos bolsos até sentir o pequeno objeto de metal, o peguei e abri a porta. Peguei algumas sacolas, fui rumo à cozinha. Lá comecei a desensacar os alimentos e os guardar no pequeno armário de madeira.
- Precisa de ajuda?- Disse Laura entrando na cozinha.
- Há algumas sacolas à porta.
Laura retirou-se da cozinha, e foi possível ouvir a porta sendo fechada. Quando voltou, começou a me ajudar na arrumação dos mantimentos. Assim que terminamos, meus olhos começaram a vasculhar a sala atrás de um relógio. Bem acima da porta da cozinha havia um em vermelho sangue, ele marcava meio dia e quarenta e oito.
- Está com fome?- Perguntei a Laura.
- Que tal tacos? - Disse ela se animando.
- Mas não há por perto.
- Quem falou em comprar? - Ela riu, e eu ri.
     Começamos a tentar fazer tacos. Ela deu todas as explicações, perecia fácil mas não era, ela me mandou colocar azeite, água e sal e deixar levantar fervura. Quando comecei a ligar o fogão ela se aproximou.
- Jorge, não é assim que se liga um fogão, quer que o gás exploda?-Ela deu risada, e eu rebati com um sorriso tímido.-Vou te ensinar.-Ela havia se aproximado mais, nossos narizes estavam se tocando, se eu quisesse poderia beija-lá, e ela também percebeu isso. Então ela virou e ligou o fogão, eu percebi que ela ainda me observava pelo canto do olho-Não é difícil está vendo.-Ela sorriu, agora estava novamente cara a cara comigo, eu me aproximava mais e mais. Eu conseguia sentir seu cheiro, era doce, ela tinha um aroma adocicado de sabonete. Eu estava tão próximo que nossos lábios se tocavam levemente. Passei a mão pelos seus cachos, estava me segurando para não puxa-lá pela cintura. Foi aí que reparei em sua roupa.
- Você está linda.-Disse eu quase num sussurro já que não queria afastar nossos lábios. Seus olhos estavam fixados nos meus, ela estava ficando mole, quando seus olhos mudaram rapidamente e seu rosto foi tomado por medo.
- Jorge!-Ela falou em alto tom mas sem gritar.-Olhei para o lado e reparei que a nossa panela queimava.
      Luisa se desesperou e desligou a panela rapidamente, logo estávamos rindo do acontecido.
- Jorge, acho melhor pedirmos uma pizza.-Disse ela entre gargalhadas.
- Seria melhor mesmo.
      Pedimos uma pizza e enquanto a pizza não chagava, colocávamos o papo em dia.
- Esse vai ser um recomeço - Disse eu feliz.
- Espero que sim-Ela sorriu-, mas você não sabe porque a Maryana terminou com você?
- Não... - Fiz uma pausa - As vezes, eu só queria que ela viesse curar a cicatriz que deixou. - Lágrimas rolaram pelo meu rosto - Ela era tudo, Laura! E agora eu não sou nada.
- Você não pode ficar assim, J - Disse ela se aproximando, parecia raiva nos olhos dela, afinal eu quase a havia beijado - A escolha foi dela, não vai trazer ela de volta. - Ela estava séria olhando para meus olhos, quando de repente deu um lindo sorriso, havia uma ideia em sua cabeça - Chega Jorge, que viadagem, parece uma garotinha, você não acha isso muito drama da sua parte? - Perguntou ela, me fazendo dar risada e olhar para mim mesmo. - Quantos namoros não acabaram antes? - Quando eu estava prestes a perder a conta ela me olhou - Não seja bobo. - E riu. - Você precisa sair, descontrair, imagine se você encontra alguém, ou essa pessoa simplesmente não está na sua frente. - Ela corou naquele momento e eu entendi a mensagem.
- Ainda não vi ninguém tem certeza que está bem à minha frente? - Falei num tom brincalhão e então rimos. - Mas, e a pizza, se sairmos agora o que fará o entregador? - Disse num tom brincalhão, porém eu estava procurando uma forma de fugir daquilo, não estava com cabeça para sair sabendo que ela estaria lá, Luiza não se importou e pegou meu braço e então subimos as escadas um degrau de cada vez, ao chegar no topo entramos em meu quarto.
- Então, que tal escolhermos uma roupa decente para darmos uma voltinha pela cidade?
- Não sei... - Mal terminei a frase e Laura já estava mexendo nas roupas que estavam em algumas malas que eu ainda não tinha desfeito. - Olha Mary, eu não quero sair, não estou disposto. - Ela olhou pra mim com uma mudança repentina de humor, e franziu o cenho. Ela virou bruscamente e saiu do quarto sem esquecer de bater com bastante força a porta. Minha primeira reação foi parar e analisar o que havia acontecido, logo depois ir atrás dela, uma tentativa falha já que a porta do seu quarto, que ficava de frente a minha num corredor, estava trancada.  - Laura! O que foi aquilo? - Falei batendo na porta.
- As pessoas acham que sabem quem amam, mas na verdade não sabem.
- Porque você está dizendo essas coisas?
- Jorge eu só queria que você... - Sua voz foi interrompida pelo toque do celular da mesma. Pude ouvir apenas poucas partes da conversa, quando ouvi a tranca se abrir, e então a porta. - É pra você - E entregou o celular.
- Alô?
Chamada encerrada.
- Desligaram, quem era? - Ela pareceu hesitar, quase cuspiu as palavras seguintes.
- Não importa. - Pegou o celular que eu portava na mão direita e entrou quarto à dentro.
Entrei em meu quarto, não era necessário arrumar aquelas roupas que Laura havia retirado, apenas joguei-me por cima delas. Estava quase anoitecendo porém ainda era cedo, a única coisa que consegui foi olhar o teto e pensar. Pensar. Pensar. Pensar. Pensar. Pensar. Pensar. Pensar. Pensar. Pensar. Cansado. Pensar. Cansado. Dormir...





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