"Everybody wants to be loved every once in a while.
We all need someone to hold on to, just like a helpless child.
Can you whisper in my ear, let me know it's all right?
It's been a long time coming down this road..."
— James Oliver
Naquele noite invernal, o vento frio que entrava por uma pequena fresta da porta da sacada era quase como ter um ar condicionado ligado no forte. Eu estava sentada no chão de madeira da sala, de moletom e com um cobertor felpudo jogado nos ombros. Como sempre, me encontrava cercada por papéis, canetas, meu notebook e, é claro, uma caneca de chocolate quente. Em geral, aquelas eram as condições perfeitas para acionar minha inspiração—mesmo o vento frio me animava mais do que incomodava. Mas não naquele dia. Porque nada estava funcionando naquele dia.
Eu já havia rascunhado pelo menos quatro versões da mesma cena nas últimas duas horas, mas era impossível conseguir algo sólido, possível de continuar. Suponho que você possa imaginar, e estará certo: minha maior inspiração também podia ser a fonte de minha desconcentração, e esta atendia por nome e sobrenome—Christopher Uckermann.
Christopher e eu nos conhecemos cerca de três anos atrás. Na época, nós estávamos trabalhando para o mesmo seriado de TV. Ele é produtor musical e sonoplasta, enquanto eu sou roteirista. Veja, apesar de ligados, nosso trabalho não está relacionado diretamente, por isso não tínhamos um contato real, embora soubéssemos vagamente da existência um do outro. Eu simplesmente mandava o roteiro para o pessoal encarregado e, lá, era passada uma cópia para que fosse arrumada a trilha sonora e efeitos de som com a equipe. Ou algo assim. A verdade é que por muito tempo eu sequer me preocupava em saber sobre o processo completo e todas as fases de produção.
Porém, a questão é que eu amo o que faço, então, só fico satisfeita se as cenas estiverem sendo interpretadas com perfeição, e por isso às vezes apareço durante as gravações dando dicas e me intrometendo. O diretor de Trouble, seriado em que trabalhávamos, até gostava quando eu ia, embora, reconheço, ele era uma das pessoas mais simpáticas com quem já tive a honra de trabalhar, e não saberia nunca ser rude, de qualquer maneira.
A questão é: foi assim, frequentando regularmente as gravações, que ganhei uma colega. Anahí. Cabelos castanhos, olhos azuis e um corpo perfeito, ela deixa mais da metade de nossos colegas de trabalho caídos aos seus pés. Sendo a ótima atriz que era, ela sabia incentivar as ilusões dos homens sem muito esforço, só para manter seu ego nas alturas. Talvez você aponte que eu deveria questionar esse padrão de comportamento, mas estou tentando ser honesta, então confessarei que aquilo nunca me incomodara. O que Anahí fazia em sua vida pessoal não me dizia respeito, e desde que ela continuasse a passar aquela mesma emoção e intensidade ao atuar em minhas obras, eu estaria satisfeita. Mas o resto das mulheres não suportava aquele comportamento, e eram rápidas em julgá-la, motivo pelo qual ela acabou por se aproximar de mim e iniciar a nossa improvável relação.
Mas estamos falando de Anahí, então é claro que algo aconteceu.
Porque, em um belo dia, ela me apresentou a seu novo namorado, o charmoso e encantador Christopher Uckermann.
Não sei dizer o que senti naquele precioso instante em que nossos olhos se cruzaram pela primeira vez, e não acredito que tenha sido amor a primeira vista. Contudo, lembro perfeitamente de ter me encantado por aquele sorriso e logo tê-lo refletido em meus próprios lábios, sem sequer ter pretendido.
O que Christopher ainda estava por descobrir, porém, é que ser próximo de Anahí era se afastar de todo o resto que condenava cada passo que ela dava. Logo, a nossa aproximação e posterior amizade foi um passo bastante óbvio.
O começo dos meus problemas surgiu em algum momento por aí.
Christopher e eu descobrimos que morávamos muito perto um do outro—apenas uma quadra de distância— e, como Anahí também trabalhava de modelo fotográfica e vivia ocupada, ele começou a passar tempo demais comigo.
Entendam, começamos a nos falar por causa de nosso contato em comum, mas a cada descoberta de afinidade que tínhamos, Anahí mais e mais se tornava irrelevante para o que estávamos construindo. A nossa amizade se fortaleceu e cresceu por conta própria, o que foi fácil, visto que ele é o tipo de cara que consegue te fazer sorrir sem nenhum esforço. Carinho, diversão e compreensão, guardados em um corpo definido e rosto de bebê. Não estou tentando me justificar nem nada, mas vejam se tinha como evitar me apaixonar?
Sempre que eu estava perto dele, ficava naquele típico estado de adolescente apaixonada e sorria bobamente, sem motivos aparentes. Mas, naquele noite invernal do qual eu falava antes, ele me deixara confusa ao sair da minha casa. Confusa e com uma droga de uma cena por terminar, do capítulo que eu deveria entregar no dia seguinte.
Anahí fugira, ou, pelo menos, essas foram estas as palavras escolhidas por Christopher ao me narrar a situação. Segundo ele, ela se envolvera com um modelo e, após revelar que o estava traindo, disse também que não podia continuar com aquela situação... E partira. Fim. Apenas isso, assim, sem mais nem menos.
Aquilo me afetara profundamente, mas não exatamente pelo motivo que deveria. Quero dizer, a minha única amiga vai embora sem se despedir, e o que mais me magoa sobre o fato é saber como ela deixou seu namorado. Tudo bem, eu sei que disse que estava apaixonada por ele, mas se vocês o vissem, também teriam pena—apaixonadas ou não— pois seu estado inconsolável realmente era desolador. Aquilo partia o meu coração.
Foi assim que perdi a concentração. Mas eu sabia qual era o antídoto, e já havia me decidido a agir.
Joguei o cobertor no sofá, por pouco não derrubando a caneca de chocolate, e fui passar uma água no rosto para despertar e ver se o frio me dava alguma coragem. Era madrugada, mas eu ia sair mesmo assim, pois sabia que aonde eu ia não haveria ninguém dormindo. Coloquei um tênis, soltei o cabelo e troquei a calça larga por uma jeans, mas mantive o casaco do moletom. Peguei as chaves de casa e o celular, saindo para encarar a fria madrugada. Acho que nunca agradeci tanto a proximidade de nossas casas.
Quando cheguei em frente a casa de Christopher, fiquei em dúvida se entrava ou não, mas sabia que eu não ficaria bem—e muito menos conseguiria me concentrar—se não checasse como ele estava. E, afinal, eu já tinha mesmo ido até ali, não é mesmo?
Peguei a chave reserva, que ficava no famoso esconderijo debaixo do tapete, e entrei. O som de música alta me assustou, mas, seguindo o barulho eu me assustei ainda mais com o que encontrei: Christopher estava jogado de qualquer jeito no sofá, com uma garrafa de cerveja em mãos e várias outras espalhadas pelo chão. Seus olhos tristes observavam vagamente a lareira, com lágrimas rolando por seu rosto. A música alta abafava o som do crepitar do fogo, mas não ajudavam em nada a disfarçar sua dor.
"Que bom que você veio. Eu precisava de alguém como você hoje.", ele disse depois de um tempo, quando finalmente percebeu a minha presença. Aquilo foi o suficiente para quebrar o meu transe de choque e fazer com que eu jogasse ao seu lado no sofá, abraçando-o como se pudesse tirar sua dor com isso.
"Estou contigo. Pode desmoronar, se quiser. Eu recolherei os teus pedaços."
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2 AM // Vondy
FanfictionEram 2h da manhã quando Dulce recebeu aquela ligação. Meia hora depois e ela ainda não conseguia dormir, pois tudo que ocupava sua mente era a desesperança. Quase um ano que sua vida parecia um sonho... Tempo demais. Como pudera ser tão sonhadora? P...