Desentendimento

207 11 3
                                    

28 de Janeiro, dia do meu aniversário e primeiro dia de aula. Que ótimo presente!
Eu estava no terceiro ano do Ensino Médio, com 19 anos, que droga! Me juntar com um monte de pivetes, mas era a minha última chance de terminar a escola antes "dos 30".
Acordei com os meus fones de ouvido, ainda no último volume, vi que o sol brilhava e fazia clarear o meu quarto, revelando os meus posters na parede azul escuro, quase preto que havia pintado na semana passada. Sempre gostei do meu quarto, era o único lugar da minha casa que me sentia bem, acho que os posters dos meus vários cantores favoritos me acalmava e me fazia pensar nessa vida chata que era morar com a minha tia, depois da morte dos meus pais.
Minha tia Rose era irmã do meu pai, ela decidiu ficar comigo após o acidente de avião que resultou na morte deles; Preferia ter ficado num orfanato! Ela era insuportavelmente "certinha" e crítica, muito crítica.
As vezes ficava pensando como seria minha vida se meus pais estivessem vivos, tudo seria tão diferente, pena que eu não tive oportunidade de aproveitar o tempo com eles.
Levantei-me da cama, coloquei a calça rasgada e o All Star velho e sujo de sempre, baguncei ainda mais o meu cabelo e fiquei me olhando por alguns minutos no espelho. A única coisa que me chamava a atenção era os meus olhos, pretos como a escuridão da minha mente.
Desci as escadas em direção a cozinha e lá estava minha tia, com a mesma cara de enterro de sempre.
-Bom dia Amanda! Você vai sair com essa roupa? -perguntou minha tia sendo crítica como de costume.
-Me deixa em paz! Será que você não consegue me deixar sossegada nem no dia do meu aniversário? Que inferno!
Peguei uma maçã da fruteira, coloquei minha mochila velha nas costas, meu fone de ouvido com as músicas aleatórias do Guns And Roses, e fui enfrentar mais um começo de um ano letivo.
Fui em direção ao meu carro, a única coisa que eu gostava da minha tia é que ela havia me dado um carro quando fiz 16 anos.
O meu carro era uma Savero Preta rebaixada, com vidros fumê. Quando me aproximei do carro vi que no para-brisa tinha uma rosa vermelha com um cartão.
"Feliz Aniversário. Te adoro. Do seu admirador secreto".
Peguei a rosa, e eu já sabia quem havia me dado, o filho dos Sanders, James, um moleque de 9 anos que se dizia apaixonado por mim! Mereço!
Olhei para a vidraça da casa dos Sanders e vi que James estava me olhando, aproveitei a situação e despedacei a rosa e pisei em cada pétala. Entrei no carro e fui para escola.
Eu não gostava que nenhum homem independente da idade, demonstrasse qualquer tipo de interesse por mim. No do meu carro havia várias músicas do gênero musical que eu mais gostava: Rock. Sempre de manhã eu ouvia as mesmas, tinha minhas preferidas como "War Machine" da banda AC/DC e "Buy The Way" do Red Hot.
Cheguei na escola, coloquei meu carro na última vaga da fileira A.
Estava anciosa para encontrar minha única amiga Cecília Stone. Ela era a única que me entendia, por mais que ela fosse CDF ela repetiu o terceiro ano por minha causa, pois ela queria sentir a emoção de ser uma repetente. Que comédia!
Entrei na sala 7 e vi que meu ex-namorado idiota e babaca estava na mesma sala que eu, e Samantha Timberley estava sentada no colo dele, acariciando os seus cabelos.
Samantha era branca, tinha os cabelos lisos e loiros, na verdade são loiros depois de tanta tintura que ela usou, tinha os olhos verdes escuros e era a maior patricinha do Colégio Madson High School. Todos os garotos da escola desejavam namorar Samantha e pelas minhas contas ela já namorou o colégio inteiro, agora era vez do babaca do Nathan.
Nathan Medley foi o meu primeiro namorado, a gente estava junto desde o último ano, e depois no verão passado tivemos uma briga feia e terminamos. Ele até que era bonitinho e eu gostava dele, mas a total falta de noção e descontrole me fizeram sentir cada vez mais raiva e repulsa dele. O "babaca" espalhou para a escola inteira que eu era virgem e que ele foi o "primeiro". Depois de toda essa babaquice relacionada a minha virgindade, eu fiquei um bom tempo sem namorar e estou até hoje solteira.
Quando fui em direção a mesa, Samantha começou a me provocar, e eu já não estava muito boa, então resolvi ignorar os comentários fúteis e bobos daquela patricinha nojenta.
-Como está sua vida Amanda? Já conseguiu o segundo cara para te levar as loucuras? -disse ela, soltando uma risada escandalosa.
-Não, mas não é por falta de oportunidade, é melhor você ficar na sua porque hoje eu não estou boa.
-E que dia você está? -respondeu ela, com um sorriso de canto de boca.
Ignorei a resposta e sentei na cadeira, ao lado de Cecília, para mais uma aula sem sentido de Biologia. Durante a aula percebi que Nathan estava mexendo no celular, provavelmente trocando mensagens com a loira falsa da Samantha. Uma das regras da escola, era não usar aparelhos eletrônicos nas aulas, e então para me vingar do novo casal mais "nojento de todos os tempos", resolvi dedurar para a professora Carrie.
-Professora?
-Sim Srt Simon?
-Eu tenho um dúvida. -comecei
-Pode falar! -respondeu ela.
-Por acaso é permitido usar celular na sala? Ou alguma regra mudou e eu não estou sabendo?
-Por que a Srt está perguntando isso?
Apontei meu dedo indicador para Nathan e logo a professora entendeu o que eu estava falando.
-Sr. Nathan? -chamou ela
-Sim professora? -disse ele assustado.
-Se encaminhe para a diretoria, AGORA! -gritou ela.
Antes mesmo de Nathan sair da sala comuniquei a professora que não era só ele que estava infringindo a regra.
-Mas professora, não é só ele. Apontei o dedo indicador esquerdo novamente, só que desta vez para a ridícula da Samantha.
-Srt. Timberley? -Não preciso nem dizer o que deve fazer. -respondeu a professora com um olhar rigoroso.
A professora Carrie, era a única dos professores que eu gostava, apesar da matéria de Biologia ser extremamente chata, ela era a única que me entendia e me motivava, diferente da minha própria tia.
Chegou a hora do intervalo, Cecília e eu nos direcionamos até a porta, quando de repente a professora Carrie me chamou.
-Você teve uma grande atitude em dedurar o casal mais famoso da escola. -Exclamou ela.
-Eu fiz isso porque eu acho uma falta de respeito com a senhora e com sua aula professora. -disse tentando convencer.
-Algo meu diz que você vai ser a melhor Alina desse ano. -disse ela.
-Estou tentando. -respondi sem esperança.
Cecília e eu fomos até o refeitório e ela me parou no meio do corredor com algo em suas mãos que me parecia um embrulho mal feito.
-Comprei isso para você, espero que goste! -disse ela eufórica.
Abri o presente e vi que era uma tiara com cristais e em formato de flores bem pequenas que reluzia com as simples lâmpadas fluorescentes do corredor.
-Você acha mesmo que eu vou usar essa coroa?
-Primeiro; isso não é uma coroa, e sim uma tiara, e segundo; as pessoas agradecem quando ganham um presente. -respondeu ela, agora sem entusiasmo.
Fiquei sem reação com a resposta de Cecília, então pedi desculpas ao perceber que eu estava errada.
-Desculpe-me, muito obrigada pelo presente. -disse, tentando concertar o meu erro.
-Mas para que ocasião eu posso usar uma tiara de cristais em formato de flores? -perguntei.
-Você não sabe, pode usar a qualquer momento. -respondeu ela toda fofa.
Cecília era minha melhor amiga desde a oitava série, ela era linda, tinha os olhos claros escondidos em um óculos fundo de garrafa, era magra e sempre usava os cabelos pretos e liso em um simples e bagunçado rabo, ela era a mais inteligente da classe, conseguia ficar com 10 em quase todas as matérias, era a CDF da turma e nenhum garoto prestava atenção no quanto ela era especial, a não ser pelo último namorado dela que foi pego no flagra pela própria no banheiro masculino com ninguém menos que Samantha Timberley.
Chegamos no refeitório e estavam todos lá, Nathan com a sua mais nova e safada namorada, uma turma do segundo ano que era bem estranha, e vários outros alunos que poderiam ser novos, pois eu nunca tinha visto naquele espaço. Sentei com Cecília na mesma mesa de sempre no final do refeitório e fui buscar o meu lanche quando de repente Samantha Timberley veio em minha direção se esbarrando em mim.
-Olha por onde anda virgenzinha!
-Repete isso de novo se você for mulher suficiente. -eu disse já irritada.
-V-I-R-G-E-N-Z-I-N-H-A -disse ela no canto do meu ouvido direito.
A partir desse momento não consegui me controlar e enfiei a mão na cara dela. Começamos a brigar no meio do refeitório e todos estavam gritando "Arranca o cabelo dela". Nesse aspecto Samantha até poderia ganhar porque a única coisa que ela sabia fazer em uma briga era "grudar nos cabelos" para se defender. Mas isso não foi o suficiente, quando eu era criança fazia aulas de Muay Tay, dei um golpe certeiro no estômago dela, e assim Samantha Timberley caiu feito uma pata no chão.
Quando Samantha estava caída, o diretor Newman chegou. A rodinha que estava ao nosso redor se desfez.
-Srt. Simon, o que significa tudo isso? -disse Sr. Newman, pasmo com a situação. -O que você fez com a Srt. Timberley?
-Ah! Ela já me deu nos nervos. Ela mereceu!
-Já para a minha sala. -disse o diretor levantando Samantha do chão.
-A Srt. esta bem? -perguntou o senhor Newman à Samantha.
-Não! Preciso ir a enfermaria. -respondeu a loira oxigenada.
-O que você está esperando Amanda? -disse o diretor me apressando.
-Já vou, que inferno. -respondi.
Fui em direção a sala do Sr. Newman, tão depressa e com tanta raiva que quase não via o que estava pela minha frente.
Finalmente cheguei a sala do diretor, vi que tinha alguém em sua sala, sentado em uma das poltronas ao lado da estante de livros, mas nem fiquei reparando muito.
Logo em seguida o diretor chegou super estressado.
-Já não é a primeira vez Srt. Simon, essa é sua única chance e você desperdiça? -disse-me ele com raiva e desprezo.
-Ahh! Dá um tempo, eu não pedi chance alguma, então não jogue isso na minha cara diretor sei lá o quê.
-esqueci o nome de tanto nervoso.
-Ok, Srt! 1 semana de suspensão! Pode ir para casa nesse exato momento.
-Tomara que o senhor tenha uma ótima semana, porque eu vou ter! Eu preciso voltar após uma semana?
Sr. Newman não me respondeu. Olhou-me com ar de reprovação.
Virei-me em direção à saída, entrei em meu carro e voltei para casa.
Quando entrei porta à dentro vi que minha tia estava à minha espera com uma cara de dar medo.
- Amanda! Como pode ferir sua colega? Você parece um animal! -disse ela me ferindo com as palavras.
-Pode ser que eu seja um animal, porque sou sua parente, não seria um espanto se me comparecem com uma cade... -fui interrompida.
-Vá para o seu quarto, agora!
-Com prazer -retruquei
- Mais alguma coisa majestade?
-Saia!!
Fui para o meu quarto, coloquei uma música alta no meu som estéreo que até quem estava do outro lado da cidade ouviria.
Minha tia apesar da raiva sempre se importou comigo, apesar de ser insuportável, acho que ela me queria bem.
Uma batida à minha porta, me trouxe novamente aos sentidos!
- Amanda, abra a porta! -era a voz aguda e desafinada de minha tia.
-Entra!!! -respondi com aspereza.
-Está aberta.
-Oi Amanda!
-O que você quer? Se veio me xingar pode sair! -disse, apontando para a porta.
-Vim conversar com você! Pode abaixar o som? -perguntou ela sendo amável.
Obedeci, sem reclamar.
-Amanda, você sempre foi problemática, não sei porque age assim, sempre te tratei com maior carinho do mundo...
-Carinho? -interrompi. -Você me chama de animal e diz que isso é carinho!
-Me deixe falar agora! -respondeu minha tia ainda com carinho no olhar
- Você ê minha sobrinha e eu te amo, sempre cuidei de você! Mas você de uns tempos pra cá vem sendo muito rebelde e sem educação.
- Você nunca cuidou de mim de verdade. -disse com raiva.
-Eu sempre quis o seu bem minha querida, não se revolte comigo.
-disse ela calmamente.
-Me deixe dormir, Boa noite! -disse com sono.
Deitei-me na cama e cai num sono profundo.

Da Pretensão ao AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora