PRIMEIRO CAPÍTULO

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Junho de 2009

Dr. Sérgio Ferreira, profissional muito conhecido, era um dos melhores cirurgiões plásticos do Brasil. Prestigiado por celebridades e pelos nomes mais importantes do país, tornou-se não só um homem rico, como também famoso. Além de seu indiscutível talento, Sérgio possuía carisma: era um senhor de 52 anos, baixinho e gordinho, que sempre vivia sorrindo e sendo simpático. Casado há 30 anos com a mesma mulher, tinha uma filha, e todos viam Dr. Sérgio como um exemplo a ser seguido.

Contudo, ele possuía um defeito: era mulherengo, e, obviamente, não seria nada bom para sua imagem de bom moço, descobrirem que ele traía a esposa. Em função disso, aquele encontro tinha que ser em um local o mais improvável e sigiloso possível.

Como se não bastasse aquele motel esquecido e descuidado à beira da estrada, Sérgio ainda teve o cuidado de ir com um carro alugado equipado com forte insulfilm.

Ao chegar à entrada, abaixou o vidro e foi recepcionado pela mulher mais gorda e feia que já tinha visto.

— Oi. É no apartamento 202. A garota já vai subir — disse a recepcionista, estendendo a mão com uma chave.

— Obrigado — disse Dr. Sérgio ao pegar a chave.

Ele levantou o vidro e estacionou o carro. Ainda dentro do veículo, pôs boné, óculos escuros, pegou uma maleta no banco traseiro e só depois desceu.

Enquanto subia as escadas em direção ao apartamento, percebeu que era o lugar mais sujo, malcheiroso e precário que já tinha visitado em toda a sua vida. Eu acho que me entenderam mal quando disse que queria um lugar seguro. Eles me colocaram num chiqueiro — pensou.

Dr. Sérgio chegou ao corredor do segundo andar e parou em frente ao apartamento 202. Abriu a porta e a fechou atrás de si. Logo ao entrar, reparou em uma boneca que estava em cima de uma cadeira, em frente à cama. Estudou o quarto por alguns segundos, mas foi a boneca o que lhe chamou a atenção.

Era de plástico, com aproximadamente 30 centímetros de altura e possuía um longo cabelo loiro até a cintura. Tinha olhos azuis e usava um vestido preto. Mas o que lhe interessava era saber quem a tinha posto ali e por quê.

O cirurgião decidiu esquecer a boneca e sentou-se na cama, pondo a maleta ao seu lado. Ele não se surpreendeu ao perceber que a cama era dura e desconfortável. Tirou os sapatos e começou a afrouxar o nó da gravata. Nesse instante, a porta se abriu, e a garota de programa entrou usando uma roupa de colegial.

De imediato, Sérgio aprovou a beleza da jovem.

Era loira, cabelos longos até a cintura, olhos azuis, abençoada com um belíssimo corpo. Além disso, entrou chupando um pirulito de morango de forma muito provocante — coisa que o fez sentir-se excitado.

— Oi. Já vi que conheceu Santinha — disse a jovem.

— O quê? — indagou Sérgio, ainda meio perdido com a beleza da moça.

— Santinha. A boneca em cima da cadeira.

— Ah, tá — disse ele, olhando a boneca.

A jovem se aproximou da boneca e a ajeitou na cadeira de modo que ela ficasse em frente à cama.

— Se importa se a Santinha olhar a gente transar?— indagou, mudando a posição do pirulito na boca.

Dr. Sérgio estranhou e demorou alguns segundos para responder:

— Não. Não me incomodo.

— Que bom. A Santinha não gosta de perder nenhuma das minhas transas. Então... Vamos começar?

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