05 | Assassino

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Passei os dedos pelas bochechas secando algumas lágrimas e caminhei em direção á porta. Ouvi um fio de voz e me virei ao mesmo tempo que vi Hannah com seus olhos abertos e vermelhos.

O sorriso apareceu automaticamente nos meus lábios e os segundos mudaram tudo quando ouvi o apito frequente e alto da máquina.

-SOCORRO!ALGUÉM?SOCORRO!-Gritei depois de me lançar para a porta a escancarando e pedi por ajuda.

Dois médicos e algumas enfermeiras correram para dentro e enquanto isso tudo se movimentava em flashs na minha cabeça.

-NÃO DEIXEM ELA MORRER!POR FAVOR!-Pedi desesperado e corri até a cama.

-Saía daqui Senhor Styles. Por favor. -O médico pediu calmamente.

-NÃO!EU VOU FICAR AQUI!-Gritei e lágrimas saíam sem parar dos meus olhos.

Minha visão estava ofuscada e por isso não notei quando os seguranças me agarraram pelos braços e me puxaram para fora do local.

-ME SOLTEM!ME SOLTEM!-Me remexi e tentei me soltar mas foi em vão.

A porta foi trancada e só fui solto no corredor.Perdi as forças e caí ajoelhado ao chão. Apertei minhas mãos contra meu rosto enquanto o choro se tornava mais intenso.

-Harry!O que aconteceu meu amor?-Minha mãe perguntou e se abaixou me abraçando.

-Ela não pode me deixar mamãe...Não pode.-Sussurrei entre soluços e apertei seu corpo o máximo que pude.

*1 hora depois*

A dor que me ocupa mentalmente não consegue superar a física de estar a tanto tempo chorando e sem comer. Como se isso fosse me deixar bem.

Apenas ela me deixa bem.Seu sorriso, o brilho dos seus olhos, sus boca rosada, o doce cheiro dos seus cabelos, o modo como se fazia de criança para conseguir algo.

Fui sacudido pelo ombro e percebi ser mamãe apontando para o médico que vinha em nossa direção. A tensão tomou conta do meu corpo e meus passos foram mais lentos do que pensei que fosse.

Respirei fundo e esperei que ele dissesse algo.Anne me abraçou com um braço e suspirou.

-Não sei como dizer isso mas...-Ele começou e já senti meus olhos marejados.

-Eles não resistiram.-Sussurrou.

Não pude me conter e desabei em lágrimas. Chorei como se fosse uma criança que tinha de voltar pra casa depois do parque, como se tivesse sido muito levado e tivesse medo de não ganhar o presente do papai noel.

-Se acalme meu bem.-Mamãe me reconfortava e deslisava suas mãos pelos meus cachos.-Espera um pouco...-Se pronunciou. -Você disse "eles" mas só estamos falando de uma pessoa.-Se dirigiu ao homem de barba por fazer.

A esperança era quase nula mas ainda sim poderia ser uma confusão, irresponsável é claro mas o que importa?!.

-An, pensei que soubessem.

-Soubesse o quê?-Mamãe perguntou.

-A senhora Hannah estava grávida . Há 5 semanas.

Um bebê. Um pequeno ser com metade minha e metade dela. Um fruto. O nosso fruto. Morto. Sem chances de nem se quer mostrar o quão perfeito seria. Culpa. Um sentimento que agora se tornou o único existente. Já me senti mal por algum dia fazer algo de errado.

Mas causar uma morte não foi uma delas. Um assassino. Foi o que me tornei.

Continuei paralisado nos braços da minha progenitora. Me recusava a olha - lá, a vergonha era maior do que alguma vez sentira.

-Temos que conversar sobre o corpo...-O médico se pronunciou e mamãe fez um gesto com a mão.

Ele saiu e a mulher de cabelos escuros segurou em meu rosto: -É melhor ir descansar, nem tente dizer não. Eu fico aqui e cuido de tudo.

Assenti e me soltei.Enfiei as mãos nos bolsos e andei cabisbaixo até a saída. Dirigi de volta pra casa e me deitei . Não consegui pregar os olhos, todas vezes que o fechava via ela. Eu queria ter boas lembranças mas só imagens ruins rondavam minha mente.

**

Tirei a cabeça de dentro da água e enchi meus pulmões de ar. Me sequei e vesti com a roupa que já se encontrava pronta na cama. Minha mãe havia saído há pouco tempo e não conversamos, ela sabe que eu só preciso ficar sozinho.

Passei a escova pelos cachos, ajeitei o paletó e apaguei as luzes saindo do local. Estava nervoso demais para manusear qualquer transporte então optei por um táxi.

Cheguei ao lugar e paguei ao taxista. Fiquei o tempo todo ao lado da Gemma e de nossa mãe. Os olhares me perseguiam, era como se eu tivesse que me proteger de um perigo. Talvez eu realmente estivesse, mas não era físico e sim interior.

Os passos seguiam na mesma frequência e os choros eram apenas ouvidos e calados pelo próprio silêncio.

Algumas pessoas falaram, mas foi impossível de o fazer. Os olhos molhados me fitavam e os meus se encheram instantaneamente.

Gemma se aproximou e me puxou acenando para que a cerimônia continuasse. Me escondi em seu ombro e chorei ainda mais porque agora estava tudo acabado.

O corpo foi enterrado e cada um se dividia para deixar flores e até cartas. A maioria havia ido embora.

-Não se preucupe, preciso de um tempo sozinho e logo depois vou pra casa.

-Okay filho.-Apertou minha mão e saiu com Gemma.

Me aproximei do túmulo e passei os dedos pela escritura na lápide.
Grande amiga, esposa maravilhosa, invencível em sua luta por seus sonhos que agora os conquista no céu.

-Já é tarde, mas eu ainda quero dizer algumas coisas. Eu te amo. Não sei se tinha certeza quando disse que me perdoou. Quero acreditar que sim mas meus pensamentos estão negativos na maior parte do tempo. Desculpa pelo nosso filho. Ele seria tão lindo...Como você. Espero que esteja em um lugar melhor agora. -Suspirei e senti o vento frio se aumentando.

-A ama de verdade?-Virei me para a voz e vi uma velha senhora com os cabelos brancos e compridos.

-O quê?-Eu sei que não a conhecia mas sua pergunta me deixou confuso. Porque alguém que eu nunca vi me perguntaria isso?

-A ama? De verdade? - A senhora perguntou pela segunda vez.

-Sim. Muito. -Falei com um sorriso verdadeiro naquele dia.

-Então ela voltará. -Apertou sua mão em meu ombro. O vento gelado se repetiu.

A mulher já não se encontrava ali e não me importei. Voltei para casa e me despi na parte de cima. Coloquei um pouco de whisky num copo e o engoli por completo.

O enchi de novo e mais uma vez o bebi. Segurei na garrafa e bebi o líquido diretamente da borda. Me senti um lixo novamente e as lágrimas não se importaram em cair sem parar.

A bebida alcoólica já havia sido consumida pela metade. Nada sólido passou pela minha garganta e por isso a quantidade bebida já tinha se manifestado em dor de cabeça e tontura.

Bebi o último gole quando passei em frente ao espelho. Observei meu reflexo e me senti sujo. Gritei e joguei a garrafa no espelho o fazendo se estilhaçar em inúmeros pedaços.

Protegi meu rosto enquanto o tilintar irritante ecoava pelo quarto. Deitei na cama e fechei os olhos, não via mais as imagens que temia e depois de 24 horas o sono finalmente me tomou.

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Oiiiie ^-^

Espero que tenham gostado e o próximo capítulo já será o último (sorry).

Comentem o que esperam para o último capítulo e votem se curtiram.

Até ♥♥♥


New Chance |H.S| {shortfic} [TERMINADA] Onde histórias criam vida. Descubra agora