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Estava na sala de aula, a ter uma aula normal como sempre (dentro dos possíveis) "normal", até ao momento em que comecei a ouvir vozes, ao princípio pensei que fossem colegas meus a falar, pois aquela turma não se caracterizava por ser calada, mas passado um tempo apercebi-me de que as vozes diziam o meu nome, então comecei a virar a cara a ver quem me chamava. Era um sussurro imperceptível, mas eu ouvia-o, e ele chamava por mim, cada vez mais alto, eu comecei a ficar muito nervoso e só virava a cabeça a ver quem me chamava, mas nada.
-Tem alguma coisa a incomoda-lo senhor Pascal?- pergunta o professor com aquele ar de que é importante, e especificamente aquele professor não me caia bem.
-Não, nada, pró...fessor- eu continuava a olhar para todos lados, a voz não parava, mas ninguem estava a falar comigo.
A aula retomou o seu rumo, e eu tentei ignorar as vozes, e resultou até ao momento em que todos os sons da sala se intensificaram, um telemóvel a vibrar, o raspar da borracha num papel, o segredinho do colega de trás para o da frente, a caneta a escrever no quadro, tudo.
Soltei a minha caneta e Tapei as orelhas com um esgar de dor, as vozes retornaram com mais força, e eu estava quase a explodir.
Levantei-me da cadeira, com toda a gente a olhar para mim, o ptlrofessor vira-se e pergunta novamente:
-Está bem Pascal?- Irritante, com aquele sorriso provocador, e olhos maliciosos.
Sem mais nem menos, sai da sala, nesse momento encontrava-me no corredor da escola, comprido, na penumbra, branco, com cacifos de um lado e portas do outro, e silencioso, acima de tudo silencioso.
Passado algum tempo ouço a porta da sala abrir-se, não me virei, estava a espera que fosse o professor a chamar , com o seu sorriso provocador, e a sua maneira lenta de falar com as palavras bem pronunciadas, "pior que um professor de português", pensei.
-Pascal estas bem?!- O que me espantou foi que não foi o professor a falar, e depois foi uma rapariga, e eu conhecia essa rapariga, mas...
O corredor ficou escuro, como se mais nada existisse, e virei-me, era o corpo dela, mas assim que olhei para a cara, perdi toda a vontade de viver, o medo apoderou-se de mim, e bloquiei. A boca dela era uma coisa que ia de uma orelha a outra em forma de sorriso, com tudo em sangue, os dentes eram de metal, e umas coisas chigantescas e pontiagudas, os olhos dela eram pretos, incluindo a parte branca, o cabelo meio aloirado estava todo desgrenhado, e a cabeça era maior em proporção ao corpo, mas a voz continuava a mesma de sempre.
A minha única reacção foi abrir a boca para não sair nenhum som, segundos depois a minha garganta seca e eu começo a asfixiar, e tudo desaparece.
Quando volto a abrir os olhos, coisa que não me lembro de ter fechado, encontro-me num pântano no meio da noite, tudo enevoado, com árvores mortas, e barulhos de animais por onde quer.
Começo a olhar a minha volta e, sem mais nem menos aparece um espelho, simples, mas ao mesmo tempo impunha respeito, tinha um metro e oitenta de ao altura, (eu sei-o porque meço um e setenta), e alguma coisa de comprometimento, tinha uma armação prateada e, estava a flutuar.
Eu calmamente aproximei-me, o estranho, e coisa que não notei na altura, era que o espelho não me reflectia, mas eu continuava a olhar para ele, até ao momento em que começam a sair mãos castanhas de dentro dele, muitas mãos, mãos do inferno, que me agarram as roupas e me começam a puxar, e as vozes voltam, mais estridentes, mais fortes, mais agudas, sempre a dizer o mesmo -" Vem, vem ter com nosco, Pascal, Pascaaal, VEM, VEM JÁ ".
E fui puxado para dentro do espelho.
Era um mundo estranho, acizentado, até ao momento em que notei que eu estava dentro do espelho. Montes de pessoas a passar por mim e ninguem me via, apesar de eu gritar com todas as minhas forças, e bater com com todas as minhas forças no vidro, um sentimento angustiante, depressivo, e saturante, o sentimento de desistir de viver.

PesadeloOnde histórias criam vida. Descubra agora