Um Sonho Distante

Capítulo 1 sem título

LILY

Enquanto visualizo a vista da Ilha de Manhattan pela janela do avião, sinto que minha vida havia sido jogada fora. Tudo que aconteceu me fez crer que era hora de partir. Ver as coisas que eu vi e saber que tudo não passava de uma farsa em minha vida, isso foi a gota d'água. Por isso, ao pedir ao meu pai que viajasse para concluir matérias do curso de jornalismo, percebi que não foi má ideia. Poderia me focar nos estudos, que era o mais importante e trabalhar por um tempo, só para esquecer tudo.

Deixei meu noivo para trás. Não iria precisar dele mesmo. Não depois do que ele me fez. Depois de ter me traído dentro da minha própria casa com a minha mãe. Depois de dizer que só faria sexo depois do casamento. Deus estava vendo o quanto ele estava se esforçando. E eu, além de ver a cena, fui obrigada a me calar diante do meu pai e não dizer com quem ela estava o traindo.

Por isso, quando as coisas ficaram insustentáveis, o pedido do divórcio travado entre meus pais, advogados chegando todos os dias lá em casa, e a minha choradeira pelo fim do relacionamento com Jonas, eu disse chega. Acho que meu pai viu a minha tensão e decidiu me deixar ir embora. A única coisa que me deixava infeliz era que se meu pai soubesse disso, iria surtar e eu não podia dar essa notícia para ele. Eu sentiria falta dele neste tempo fora, mas precisava ir.

Minha mãe queria me prender lá a todo custo, achava bobagem da minha parte fazer isso tudo por nada. Eu não podia ficar mais perto dela. Sentia nojo da pessoa que ela era. Nojo! Ela sempre controlou minha vida, mas agora, ela não iria mais fazer isso comigo, não mesmo, sou maior de idade e tenho que fazer minhas escolhas por eu mesma.

Alex, meu irmão gêmeo, foi mais esperto e antes que pudesse sobrar para ele, saiu de casa e foi para a Europa viajar sem data para retorno. Quando soube o que havia acontecido, já estava bem longe e conhecendo pessoas novas. Aliás, foi ideia de Alex que eu também saísse de casa e fosse parar aqui. Me lembro dele dizendo para mim que não havia nada melhor que respirar outros ares para reorganizar a vida.

Agora estava tudo bem comigo. As pessoas que me magoaram ficaram para trás e eu decidi que era hora de recomeçar.

- Senhoras e senhores, sejam bem-vindos a New York, são 20:48h, horário local. Permaneçam sentados com os cintos de segurança afivelados até a parada total desta aeronave e os avisos luminosos sejam apagados.

A aeromoça terminou de concluir seus trabalhos e eu aguardo enquanto o avião termina seu pouso. Ele estaciona e se acopla ao portão de embarque e para. Retiro o cinto e pego minha bolsa, andando pelos corredores assim como os demais passageiros.

No saguão, vejo milhares de pessoas andando para todos os lados. Estou exausta. Cerca de dez horas dentro da aeronave! Mas este esforço valerá a pena a cada dia que eu passar aqui longe de todos que eu conheço. Ando até a esteira e aguardo até a minha mala aparecer e eu a pego.

O aeroporto é imenso, tem várias lojas que atendem aos turistas e a pessoas naturais daqui. Parece um imenso centro de compras. Custo, mas consigo achar as portas que dão para New York. Na saída, há vários taxis espalhados na entrada do aeroporto JFK. Ouço uma melodia vinda de caixinhas de som instaladas em toda a extensão do aeroporto e vozes. Milhares delas. Tudo muito desconexo. Pessoas falando ao mesmo tempo... isso tudo acrescentado ao fato de eu ainda estar com a cabeça a mil. Aponto para um dos taxistas e ele abre o porta-malas.

A noite está movimentada aqui. É uma sexta-feira e vejo muita gente nas ruas, indo a teatros, restaurantes, bares, boates e a shows diversos. Etnias diferentes, parece que estou em outro mundo! O taxista dirige muito rápido e chego ao meu destino. Um hotel de médio porte, mas aconchegante, que será meu lar pelos próximos meses. Eu pago a corrida e ele me ajuda com as malas até a entrada. Depois vai embora. Chego à recepção e uma jovem moça me atende pacientemente.