Capítulo 1

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Diana

O desenho estava ficando bom.
Na verdade eu estava ficando cada vez melhor naquilo.
Não estava prestando a mínima atenção na aula de química, geralmente não ligava para algumas aulas. Sempre pegava o caderno e desenhava, não era a toa que minha mãe sempre ouvia uma reclamação ou outra, contudo, minhas notas eram as melhores em todas as matérias, ela dizia que essas reclamações eram tolas e injustas.
- Diana! - senti cutucadas no ombro. Olhei para o lado, tinha até esquecido que ainda estava na escola. Ethan me olhou com aqueles olhos verdes brilhantes de sempre quando estou desenhando.
- O que foi? - perguntei baixo.
- A aula acabou! - ele sorriu travesso e se levantou.
- Quer dizer que... - ele não esperou eu terminar a pergunta.
- Férias! - ele falou animado e pegando a mochila. Sorri largo e me levantei, guardando o caderno.
Saímos juntos da sala, indo em direção a saída procurando minha irmã, Tiana. Ethan é apenas um amigo, considerado irmão, contudo, sinceramente, eu e Ethan éramos mais parecidos que Tiana e eu.
Eu tenho cabelos pretos lisos, olhos verdes escuros que chegavam a parecer pretos, minha pele é branca. Tiana é loira dos olhos claros azuis acinzentados, pele branca e delicada. Ethan tem os olhos como os meus, cabelo pretos, geralmente bagunçados, a pele branca.
Dizem que a Tiana parece meu pai, com os olhos da minha mãe e eu a minha mãe, com os olhos do meu pai. Nós apenas concordamos, mesmo não lembrando muito do meu pai, sei que ele era loiro e os olhos verdes escuros.
- Como foi a última aula de vocês? - Tiana sorriu me tirando dos pensamentos.
- Chata. - Ethan suspirou e fomos andando para casa, morávamos perto um do outro. - O que vão fazer nessas férias?
- Nossa mãe quer visitar nossa tia. - Tiana respondeu. - E você? - olhamos atentas para ele.
- Então. - ele pareceu tenso. - Vou voltar para o Orfanato. - ele falou, calmo.
Eu e Tiana paramos de andar e ficamos olhando para ele que já estava uns passos a frente. Ethan era órfão, morava com um casal que o adotou.
- Mas e o senhor e senhora Flint? - perguntei.
- Eles vão se mudar, estão com problemas financeiros. - ele disse, nos olhando triste. Aquilo já bastava.
- Vamos poder nos ver? - perguntei esperançosa. Ele sorriu largo.
- Claro! - corri e o abracei.
- Quando você vai?
- Semana que vem. - ele respondeu e Tiana nos abraçou.
- Desde quando...
- Descobri ontem. - ele respondeu, já sabendo minha pergunta. - Eles não quiseram me contar antes.
Voltamos a andar, já estávamos perto das nossas casas. Pensar que Ethan era órfão de pai e mãe, eu e Tiana de pai, isso dói. Faz 13 anos que os pais do Ethan faleceram, 10 que meu pai se foi.
Nunca disse que ele morreu, eu sinto que meu pai não morreu, só que está longe. Sempre que perguntavam eu respondia:
- Ele está longe.
Ethan segurou minha mão, sabendo no que eu estava pensando, Tiana estava segurando a dele, eu sabia.
- Nos vemos depois. - ele disse me dando um beijo na têmpora e recebendo um na cabeça da Tiana. Somos assim, Tiana é a mais velha, ele o do meio e eu a mais nova, Tiana diz que adotamos ele como irmão, gostamos de pensar assim.
Tiana pegou as chaves de casa.
- Vamos continuar falando com ele, não vamos? - perguntei virando a rua. Meu coração estava apertado desde quando acordei, talvez fosse por causa disso, porque ia perder meu melhor amigo.
- Claro que vamos! - Tiana disse decidida, raramente ela falava assim, com tanta veemência. - Não vou deixar nosso irmão se afastar, ele prometeu ser meu padrinho de casamento!
Sorrimos com a brincadeira, mas logo o sorriso sumiu de nosso semblante. Um carro estranho estava parado na frente da nossa casa, ele era branco, não sabia qual o modelo, não conheço de carros. Corremos até lá para encontrar a porta destrancada.
- Mãe? Está em casa? - perguntei.
Andamos pelo corredor de entrada e nos deparamos com nossa tia Kathy sentada no sofá. Ela era irmã do nosso pai, loira assim como ele, mas fora isso, não eram parecidos em nada. Ela abriu um sorriso afetado, não o sorriso habitual.
- O que houve, tia? - Tiana foi direto ao ponto. Enquanto trocávamos abraços.
- Sua mãe, ela me ligou... Onde ela está?
- No trabalho. - respondi. Mas a cara que ela fizera me deixou na dúvida.
- Tudo bem. - ela sorriu. - Vamos esperar ela, geralmente, quem faz a janta? - ela bateu palmas uma vez.
- Geralmente... Nós três. - Tiana começou com um sorriso de malícia. - Mas quem vai fazer hoje é vossa senhoria. - ela disse se referindo a tia, coloquei a mão na boca para abafar o riso.
- Eu? - ela se fez de surpresa. - Mãos a obra! - disse animada e indo para cozinha. Deixamos nossas mochilas nas cadeiras da mesa e fomos cozinhar.
Tia Kathy é uma ótima cozinheira, a melhor que já havia visto, minha mãe cozinha muito bem, mas como eu não como sempre a comida da tia Kathy, tia Kathy cozinha melhor.
- Vocês continuam com os treinos? - Tia Kathy tirou os olhos da cenoura e nos encarou.
Os treinos! Tiana e eu, somos especias, não sabemos muito bem o que é, só sabemos que: Tiana pode fazer objetos ganharem vida e eu posso fazer coisas levitarem e sentir o que as pessoas sentem.
Nosso pai começou com o nosso treinamento, quando ele se foi, Mamãe tomou seu lugar de treinador, ela não tem poder nenhum, contudo nos treinou assim mesmo.
- Sim, algumas vezes treinamos, Diana treina todo dia. - Tiana afirmou, elas olharam para mim.
- Está bloqueando? - Tia Kathy perguntou, fiz que sim com um aceno de cabeça.
Antes, meu poder me trazia grande dor de cabeça, sentir o que todos a minha voltam sentiam, tudo ao mesmo tempo, acredite, não é legal. Aprendi, então, a bloquear isso, a desligar, só ligo quando for necessário usar. Também aprendi a fazer isso só com uma pessoa, mesmo que tenha outras por perto.
Tia Kathy sorriu, mesmo ela sendo irmã do nosso pai, ela não tinha poderes. Era como nossa mãe.
- Chris ficaria orgulhoso de vocês. - disse. Chis é o nome do nosso pai, Christian Clizark, ou só Chris. - Imagino que Emma também esteja orgulhosa. - ela concluiu, Emma é nossa mãe, Emma Cassidy Clizark. Sempre achei o nome dela bonito.
O meu e da Tiana também são bonitos, mas não gostamos de espalhar nosso segundo nome por aí, só os sobrenomes.
- Na verdade, tia, nós três estamos orgulhosas, é uma coisa recíproca. - Tiana disse. A tia fez uma cara confusa e eu sorri da cena.
- Não foi fácil nos treinar, tia. - expliquei. Ela compreendeu na hora.
Antes de terminarmos o jantar, minha mãe chegou.
- Uau! - ela sorriu largo, carregava umas sacolas. - Temos janta!
- E compras? - franzi o cenho. Ela sorriu.
- Já venho. - ela sumiu de vista e Tiana me ajudou a colocar a mesa.
Quando ela voltou, a tia já estava trazendo a lasanha. Logo que colocou no centro da mesa, tia Kathy abraçou minha mãe apertado. Observei as duas, elas eram parecidas.
Minha mãe tem os cabelos pretos e lisos e os olhos são azuis acinzentados. A Tia Kathy, como meu pai, é loira com os olhos pretos.
Nos sentamos e a conversa voou solta.
- Preciso cumprir meu papel de tia. - declarou. - Tiana, como vão os garotos?
Nós começamos a rir, ela sempre fazia essa pergunta. Dizia que tias deviam perguntar isso. Contamos tudo a nossa mãe e a Tia, são as duas mulheres da nossa vida, em quem nos espelhamos e confiamos plenamente. Ela não sabia sobre Ethan, então contamos tudo.
- E ele vai voltar para o orfanato. - Tiana terminou. Mamãe e Tia Kathy trocaram um olhar indecifrável.
Comemos e arrumamos a cozinha enquanto conversávamos. Já estava na hora de dormir.
Tiana e eu fomos para o quarto.
- Elas estão escondendo algo de nós. - avisei a Tiana, que ainda se arrumava para deitar. - O que acha que é?
- O motivo da visita inesperada. - ela respondeu, fazendo uma cara pensativa e mexendo no pingente do colar.
Deixei meus pensamentos voarem vendo as luzes do quarto. Os enfeites que Tiana e eu fizemos eram lindos. Toquei minha pulseira, com o coração ainda apertado e Tiana ainda acordada, dormi.

Os Filhos de Merlin - HiatoOnde histórias criam vida. Descubra agora