Capítulo 4

29 3 0
                                    

Tiana

Sem querer, deixei Diana só, não sei se ela precisava de tempo, porém eu precisava. O tempo do banho seria suficiente.
Saí já vestida, um vestido de alças grosas e florido.
Ia em direção ao quarto que dividia com Diana, quando vi ela abraçando Ethan, decidi não atrapalhá-los.
Sem fazer barulho, dei meia volta e fui para cozinha. Tia Kathy estava lá, fazendo o que a deixava calma o suficiente para pôr os pensamentos no lugar. A observei por alguns segundos mexendo numa vasilha, me perguntando: quando veria minha mãe fazer aquilo? Quando veria minha mãe de novo? Quando a abraçaria e sentiria seu cheiro? Será que eles a deixarão viva? Será que ela estava com meu pai? Ele estava mesmo vivo?
Eram tantas incertezas, sempre tive algumas incertezas, todas tolas comparadas com as de agora.
Fechei os olhos com força e me sentei ali no chão, ela não havia me notado e então, me concentrei no que deveria fazer.
- Tiana?
Abri os olhos e vi Tia Kathy me olhar preocupada.
- Acho que cai no sono - disse esfregando os olhos e com uma vontade de deitar numa cama macia.
Ela sorriu para mim.
- Depois do almoço você se deita, temos que resolver algumas coisas.
Me levantei do chão e sacudi as roupas, talvez por mania, elas não estavam sujas, ou para me despertar, funcionou. A tia pediu para que eu chamasse meus irmãos, sim, Ethan e Diana, meus irmãos.
Abri a porta do quarto devagar, eles estavam deitados na cama, dormindo aconchegado um no outro. Olhei para eles, e se não encontrasse noss mãe? E se algo acontecesse a Diana? E a Ethan?
Dúvidas e incertezas, perguntas e perguntas invadiam-me. Tomando cada vez mais meu ser, mas duas certezas eu tinha.
Encontraria meus pais e protegeria minha família na busca.
Caminhei até eles e os acordei devagar. Diana protestou um pouco, puxando Ethan de volta para cama, já que o usava como travesseiro, não pude deixar de rir. Tinha vontade de deitar-me ali e dormir com eles. Sabia, porém, que a tarde isso seria mais oportuno, pois não só meu corpo estaria cansado, mas minha cabeça também. Tínhamos que resolver algumas coisas.
Fomos os três para cozinha. A tia preparara um almoço muito soboroso. Salada, macarrão e carne, Diana e eu não comemos carne vermelha, por isso, atacamos o macarrão e a salada deixando a carne para Tia e Ethan.
- Então, tia... - comecei. Tínhamos comido, conversando sobre assuntos simples. Tia Kathy não nos deixou lavar a louça, imaginei que isso a deixaria ocupada durante a tarde, então obedeci.
Voltamos a nos sentar na mesa. Todos sérios. Olhava para tia inquieta.
- Diga-nos o plano. - pedi.
- Quero levar vocês para o Orfanato. - ela despejou.
Não sabia o que sentia, creio que o que senti foi isso, raiva. Não pela tia, mas sim pelo que estava implícito na sua fala.
Orfanato? Não somos órfãos! Para que ela iria nos levar para um orfanato?
Diana segurou minha mão, a encarei e ela apontou para Ethan.
- Não um orfanato qualquer, mas o que Ethan viveu. - ela prosseguiu. - Vocês sabem usar os poderes, - fez uma pausa olhando para mim e para Diana. - mas não sabem se defender. Lá, terão alguém para treiná-las.
Ela olhou para Ethan e ele concordou.
- Aprendi lá tudo que sei. - disse.
- Por que Orfanato? - perguntei, um tanto ríspida demais.
- Prefiro que descubram quando chegarem lá, Logan explicará tudo a vocês.
Olhei para tia e depois para Ethan. Íamos ser treinadas num orfanato, lá deveria ter mais de nós, ou algo assim.
- E nossos pais? - Diana perguntou.
- Vou fazer algumas pesquisas, sei quem eles são, mas não onde estão. Precisarei de um tempo, enquanto vocês treinam.
- Parece loucura. - comentei baixinho.
- E é. - Diana concordou com um aceno de cabeça.
- Podemos partir ainda hoje ou amanhã, suponho que partir hoje é mais aceitável.
Concordei com ela e olhei para Ethan, apesar de tudo ele parecia animado em rever um lugar conhecido.
- Vamos partir daqui uma hora. Se arrumem, Ethan, se quiser pegar algumas daquelas roupas, fique a vontade, tem uma mala lá. - ele sorriu em agradecimento. - Vou arrumar algumas coisas. Daqui uma hora, todos prontos.
Ajeitei a mala e Diana a dela. Faltava pouco para dar 10 minutos desde a conversa na mesa. Eu estava ficando nervosa, a preocupação exalava por meus poros, dava para ver no olhar da Diana.
- Preocupada com...?
- Tudo. - respondi para ela. - Com nossos pais, com Você. Ethan, com a tia.
- E com você? - ela me sorriu. - Senta e escreva um pouco.
Assim que peguei o caderno da mochila e me sentei, ouvi batidas na porta, Diana disse para entrar e a Tia o fez.
- Antes de irmos, quero conversar uma coisa com vocês. - ela fechou a porta atrás de si. Carregava dois livros, capas duas, de couro, com aqueles fechos antigos. Um era verde, o outro colorido.
Ela me entregou o verde escuro e o colorido para Diana. Passei meus dedos por ele, não tinha título, mas tinha um relevo de letras ali.
- Esses livros, contam a história. De quem vocês são. Era do meu pai, o avô de vocês, já os li, mas como eu não tenho poderes, não é útil para mim. Quero que guardem, e se forem para ler, que leiam quando estiverem no orfanato.
- Obrigada, Tia - Diana e eu falamos em uníssono, sorrindo largo para ela. Ela saiu do quarto nos deixando só, guardamos os livros na mochila.
Deitei ao lado de Diana na cama. E a abracei de lado. Esperando as horas passarem.
Foi uma eternidade, colocamos tudo no carro, Ethan também tinha uma mala, havia aceitado as roupas. Sorri com aquilo, feliz talvez.
Ele foi atrás com a Diana, ela estava desenhando e ele a observava. Conversavam baixo.
A viagem demorou, decidi observar pelo vidro, não preguei os olhos, estava bem cansada, mas isso não me venceu. O sol já tinha sumido, o azul claro já era escuro e estrelas tomavam o céu.
Estávamos na minha cidade, conhecia aquelas ruas principais, porém, a tia tomou um caminho que eu nunca fui.
O carro parou e eu sabia que tínhamos chegado. Imaginei um lugar sombrio, com as paredes pretas e com um muro alto com cerca elétrica e coisas assim. Mas não.
O lugar tinha um muro alto sim, mas sem cerca elétrica ou algo de segurança. Era pintado de uma cor viva como todas as casas vizinhas. Descemos do carro e fomos para o portão, levamos apenas as mochilas.
Apertamos a campainha, quase sai correndo. Percebi uma câmera acima de nós, plano por água abaixo.
Um garoto bonito surgiu, olhos azuis intensos, cabelos pretos bem cortados e uma barba rala. Pele branca com algumas cicatrizes.
- Bem vindos ao Orfanato Rei Arthur! - ele abriu um sorriso e abraçou Ethan.



Até que fim! Capítulo novo depois de quase um mês!
Esperam que tenham gostado!
Abraços!

Os Filhos de Merlin - HiatoOnde histórias criam vida. Descubra agora