Aos prantos!

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Quem precisa de um despertador quando se tem os gritos do seu padrasto? 
Peguei meu celular em cima da escrivaninha e era quase uma 13h da tarde. Tava cedo para mim que na noite passada fui dormir às 6h. Eu nem tentei voltar a domir, os gritos de Willian estavam começando a me deixar com dor de cabeça.
Toda lesada me levantei, parecia um zumbi em pessoa. Caminhei ate a janela, aonde vi meu padrasto gritando com o hidrante na frente de nossa casa. Estava bêbado como sempre.
Bufei e amarrei meu cabelo.
De pijama mesmo caminhei para fora de casa em sua direção.
- Willian. - Chamei e nada. Os vizinhos começavam a nos olhar emburrados. Passei a mão pela testa e fui em sua direção e o puxei pelo braço. - Vamos entrar Willian.
- VAMOS ENTRAR PORRA NENHUMA. - Ele gritava olhando para o hidrante como se o objeto tivesse alguma culpa de estar la. Com um pouco de dificuldade consegui puxa-lo para dentro de casa.
- Senta ai e toma sua cerveja. - Lhe entreguei uma latinha e ele ligou a tv. Suspirei e caminhei ate a cozinha, estava começando a fazer o almoço quando ouvi meu celular tocar no meu quarto. Quase me quebrei ao subir a escada correndo.
Era Melissa.
- Oi Mel. - Falei assim que atendi.
- Oi Maya, será que podemos conversar? - Sua voz era estranha.
- Claro, já almoçou?
- Não.
- Vamos nos encontrar no restaurante de sempre então.
- Ok.  - Desliguei e desci correndo para desligar o fogo do fogão. Subi apressada novamente e me vesti da primeira roupa que vi, amarrei meu cabelo num coque, peguei minha bolsa e fui. Antes de sair me certifiquei de que Willian ainda estava vivo e que assim ficaria ate eu voltar.
- Aonde você vai Amaya? - Ele disse assim que eu abri a porta.
- Vou sair.
- Para onde? - Olhei em direção a sala e ele sequer me olhava.
- Vou ir para a casa da Melissa.
- E meu almoço? Você não vai a lugar nenhum enquanto não fazer o meu almoço. - Bufei e voltei a fechar a porta. Caminhei ate a cozinha e peguei no armário um pacote grande de salgadinho, voltei para sala e joguei do seu lado.
- Seja feliz. - E lhe dei as costas.
Não me venham dizer que sou uma má garota porque eu não sou, eu o aguento faz anos, ja passei por muitas coisas que ninguém imagina e pra que? Para ele no final do mês receber a pensão da morte da minha mãe? Me erra, eu trabalho naquela maldita boate pra pagar uma divida dele, ele gasta todo o dinheiro que era para ser meu e ainda tenho que ficar aguentando desaforo todos os dias.
Sai de casa pisando firme, por sorte assim que cheguei no ponto o ônibus já chegou atrás. Entrei e dei oi para alguns conhecidos. O centro não era muito longe dali e o que me deixava na paz era ver como o céu estava bonito, o sol brilhando forte e as arvores com flores deixando o caminho mais atraente.
O ônibus parou e eu desci. Andei alguns metros e entrei no restaurante, Melissa ja estava sentada numa mesa com as mãos sobre o rosto.
- Mel. - Ela me olhou e vi como seu rosto estava cansado.
- May. - Ela disse com uma voz tristonha, nos abraçamos e me sentei a sua frente. - Ja pedi o seu prato favorito.
- Brigada. - Sorri de canto. - Então... Que houve? Me conta.
- Ontem foi umas das piores noites da minha vida. - Ela disse passando as mãos pelo cabelo. - Logo depois que eu e Nicholas saímos de la, ele me obrigou a entrar no seu carro e o caminho inteiro discutimos, ate pararmos em frente a minha casa.
- Eu achei que ele não lembrasse aonde vocês moravam.
- Pois é mas lembrou. Ai nós ficamos parados dentro do carro e brigamos muito mesmo, brigamos tanto que ate minha mãe saiu na janela. - Arregalei os olhos. - Então ele resolveu entrar para dentro de casa e contou tudo para minha mãe. Minha mãe passou mal e desmaiou por uns minutos. Nesses minutos que ela passou mal eu o xinguei de tudo. Ele nem deu tempo dela abraça-lo e dar boas vindas como ela sempre faz. Contou tudo como uma enxurrada.
- E ai? - Ela me olhou e vi seus olhos se encherem de lágrimas.
- Minha mãe praticamente me expulsou de casa, mas ela disse que eu teria que morar com o Nicholas, de primeira ele se recusou a me deixar morar com ele mas depois aceitou. - Arregalei os olhos.
- Você vai embora?
- Não. Pelo lado bom ele tem um apartamento aqui, então não precisarei ir embora com ele. Mas eu me senti tão mal May, você sabe que o único motivo de eu fazer aquilo é porque eu queria ajudar minha mãe, ajuda-la a ter uma vida melhor. Eu sei, eu sei que poderia ter arranjado um emprego digno mas quando entrei eu só queria dinheiro fácil sem ter que me preocupar muito. E agora minha mãe me acha um lixo. - Ela se debruçou na mesa e começou a chorar. Me levantei e a abracei de lado.
- Ei, Mel, vai ficar tudo bem. Sua mãe só esta assim pois foi um impacto muito grande, mas ela vai entender que você so fez isso para ajuda-la. - Ela me olhou e lhe entreguei um lencinho para enxugar os olhos. - Eu estou do seu lado para tudo, você não esta sozinha.
- Brigada May. - Ela disse segurando minha mão.
- Agora respira fundo, você ja passou por tanta coisa não é? Tem que continuar a ser forte, eu to aqui para te ajudar a levantar amiga. - Ela assentiu e vi um leve sorriso aparecer em seu rosto.
Então a garçonete apareceu e colocou os pratos na mesa.
- Vamos comer, nada melhor que comer a comida que gostamos não é? - Voltei para meu lugar e vi seu sorriso aumentar ao ver sua comida favorita, que nada mais era que um grande hambúrguer e muita batata-frita. Comi meu macarrão alho e óleo e tentei distraí-la.
- Quer ir para onde? - Perguntei assim que saímos do restaurante.
- Vamos la para casa? Preciso pegar minhas coisas e ir para a casa de Nicholas. - Ela suspirou.
- Vamos.
Fomos andando mesmo por conta da casa dela ser perto. Por sorte sua mãe não estava em casa, caso ela me visse ia falar que a culpa era toda minha, Dona Roberta nunca foi com a minha cara.
Pegamos algumas malas e colocamos todas as roupas de Mel e alguns pertences.
- Você tem a chave do Ap? - Perguntei.
- Ainda não mas Nicholas esta lá pelo que entendi. - Ela suspirou.
Apesar de ser perto tivemos que chamar um táxi por conta das malas.
Assim que chegamos um funcionário do hotel abriu a porta do taxi e nos ajudou com as malas.
- Boa tarde, posso ajuda-las? - A recepcionista disse com um grande sorriso no rosto. Ou ela estava realmente feliz ou era uma ótima atriz.
- Sim, acho que Nicholas Barks avisou que eu chegaria.
Enquanto ela conversava com a recepcionista aproveitei para observar o hotel era todo chique, nas cores dourado, marrom e bege. Não parecia ser um lugar barato para se viver, obviamente não era.
- Amaya, vamos. - Mel disse me chamando. Um funcionário que estava ao lado do elevador nos olhou e sorriu, nem precisemos apertar o botão para chamar o elevador, o próprio moço tinha feito isso por nós.
- Obrigada. - Agradecemos e entramos no elevador. Mel apertou o botão correspondente ao andar de Nicholas e a porta se fechou.
- Como você esta? - Perguntei a olhando.
- Estou... Sóbria, eu acho. - Ela disse cabisbaixa.
- Se você quiser apenas dormir aqui e ficar o dia inteiro la em casa fique a vontade. - Ela me olhou e sorriu.
- Não vai precisar, eu vou arranjar um emprego de verdade e focar nos estudos. Vou tentar ocupar minha cabeça ao máximo para não pensar na besteira que fiz. - Ela escorou a cabeça na parede.
Então o elevador parou a alguns andares antes do de Nicholas e entrou um garoto. Ele nos olhou e nos cumprimentou com a cabeça. Era bem arrumado, típico filhinho de papai. Vi Melissa se ajeitar e olhar com um olhar safado para mim. Segurei a risada.
Em silêncio esperamos chegar em nosso andar.
- Tchau. - Falamos para o garoto que nos olhou e sorriu.
- Até. - Ele disse e assim se fechou a porta.
- Caralho, que gato. - Melissa disse de boca aberta, apenas ri.
- Qual o número do ap? - Perguntei.
- Bom... - Ela disse olhando para os lados, e só havia uma porta a nossa frente. - Só tem essa, então deve ser essa.
Ela apertou a campainha e esperamos uma resposta. Abriram a porta e demos de cara com uma senhorinha baixinha, ela nos olhou e sorriu.
- Sejam Bem vindas, fiquem a vontade.
- Obrigada. - Respondemos e ela abriu mais a porta nos deixando entrar. Assim que entramos nos deparamos com uma sala de estar enorme, juro por Deus que só a sala era maior que a minha casa todinha. Tudo parecia ser tão... Caro.
- Eu me chamo Maria, sou a empregada, qualquer coisa que quiserem podem me pedir. - Ela disse sorrindo.
- Eu sou a Melissa e essa é minha melhor amiga Amaya.
- Oi. - Sorri.
- Olá, é um prazer conhece-las. Bom, o senhor Barks esta no momento em seu escritório resolvendo uns problemas, ele ja vem.
- Ja estou aqui na verdade. - Ouvimos uma voz vir do corredor, ele apareceu vestido formalmente, nem parecia o cara de ontem a noite. - Obrigada Maria.
- Á sua disposição. - Ela disse e saiu nos deixando a sós.
- Sinta- se em casa maninha. - Ele disse com um sorriso vencedor em seu rosto.
- Impossível eu me sentir em casa com você aqui. - Melissa disse bufando.
- Suas coisas estão no quarto de hóspedes já.
- Eu vou trocar de roupa, essa aqui esta me pinicando. - Assenti e ela caminhou em direção ao corredor. Eu e ele ficamos lá parados olhando um para o outro.
- Nem tente falar comigo. - Falei assim que o vi abrir a boca para dizer algo.
- Por que não?
- Será mesmo que preciso responder? - Cruzei meus braços.
- Eu não tive culpa...
- A não? Certeza mesmo que não? Você foi um babaca, não dava noticias a anos dai aparece do nada e acaba com a vida da minha amiga.
- Ela acabou com a própria vida a partir do momento que entrou naquela boate.
- IDAI? VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO. - Gritei. O sangue estava começando a ferver.
Ele se aproximou ficando a alguns centímetros de mim. Não me abalei ao ver que ele era bem mais alto que eu.
- Você esta dentro da minha casa, não vou tolerar que grite comigo.
- Não seja por isso. - Lhe dei as costas e saí do apartamento. Era muita filhadaputagem.
Resolvi esperar no saguão do hotel, aonde fiz amizade com alguns funcionários muito simpaticos.
- Maya? Que houve? - Mel disse correndo em minha direção.
- Seu irmão idiota... Discuti com ele.
- Eu ouvi. Eu sinto muito. - Ela disse com a mão no meu ombro.
- Relaxa, esta tudo bem. Agora vamos dar uma volta, precisamos espairecer. - Ela assentiu.
E lá fomos nos passear...

She Is Just a MisteryOnde histórias criam vida. Descubra agora