Rio Grande do Sul
Ruínas de São Miguel
Julho de 2002
A paisagem era intrigante!
Lembrava um quadro enfeitando uma ampla sala de visitas num castelo medieval europeu, exercendo poderosa atração aos olhares mais sensíveis. Um quadro antigo, envelhecido, assustador, porém extremamente belo: as ruínas de uma igreja localizada no meio de um imenso campo verde, cercada de um lado pelo cemitério indígena e do outro pelos aposentos dos padres.
Júlia encontrava-se ao lado da grande Cruz Missioneira, a cruz de dois braços, afastada o suficiente para dar um panorama do lugar. Ao olhar a paisagem, sua imaginação viajava. Que lugar mágico! Então, voltando a si, correu pelos campos verdejantes na direção da antiga igreja, transbordando felicidade, na inocência de seus sete anos de idade. Seus cabelos longos e castanhos — levemente encaracolados e brilhantes —, esvoaçavam ao doce sabor do vento. E seus grandes olhos azuis —observadores e penetrantes, herança de sua mãe —, contrastavam com seu vestido vermelho e não deixavam nada passar despercebido. Curiosidade era sua característica fundamental.
Ao aproximar-se da igreja, Júlia parecia entrar em um imenso labirinto de tijolos marrons antigos e desgastados pela ação do tempo. Ultrapassou a porta principal e olhou para cima, atônita. Estava na parte central da igreja, em um corredor comprido, ladeado pelas naves laterais. As paredes eram altíssimas e o teto ruíra com o passar dos anos, dando lugar ao céu aberto, que naquele dia estava nublado, mostrando nuvens densas e sinistras. Parecia estar em outro mundo, numa outra época... Uma mágica volta ao passado de um tempo que não existia mais.
Apoiou-se na parede, olhou para trás e viu seus pais andando em um ritmo mais calmo, observando os detalhes do lugar. Paulo fotografava a paisagem cuidadosamente. Júlia sorriu, percebendo que sua mãe, Vitória, havia passado a responsabilidade das fotos para ele, que sabia muito bem como enquadrar o que via em uma fotografia.
Logo, a presença de alguns indígenas andando pelos campos chamou a atenção da menina, que nunca tinha visto um índio pessoalmente. Só na televisão e nos livros. Seu pai havia lhe dito que veria remanescentes dos bravos índios guerreiros guaranis naquele lugar. Mas subitamente, um deles prendeu mais a sua atenção.
Que índio esquisito!, ela observou. Um pouco mais a frente, no canto esquerdo da lateral da igreja, Júlia avistou um rapaz estranho, que a observava. Ele era muito alto e tinha cabelos compridos, lisos e loiros. Seus olhos apresentavam um brilho diferente, que chamou a sua atenção, apesar da distância. Ele usava uma roupa branca, com áreas translúcidas que refletiam cores variadas, o que fez Júlia se perguntar se aquela era uma roupa indígena de festa. Impressionada, olhou para trás buscando seus pais e percebeu que sua mãe já estava bem perto.
— Mãe! — resolveu questionar, franzindo a testa — Existe índio loiro?
—Claro que não, filha! — Vitória afagou a cabeça de Júlia, rindo. — Os índios são todos bronzeados pelo sol e têm cabelos pretos, lisos e brilhantes... Bom, pelo menos aqui no Brasil.
—Mas, mãe... Eu vi um índio loiro com uma roupa brilhante — afirmou a menina, ofegante de empolgação. Depois saltitou de volta para onde o tinha visto e olhou para todos os lados. — O índio sumiu!!! — concluiu espantada, elevando os braços e largando-os ao longo do corpo.
— Ora querida, você deve ter imaginado. — completou Vitória, olhando ao redor e também procurando pelo índio. — Pode ter sido alguém fantasiado de índio. —concluiu.
Ligeiramente irritada com o sumiço do índio, Júlia afastou-se novamente dos pais, correndo e olhando para os lados, à procura dele. Como toda criança alegre, logo esqueceu o que vira e distraiu-se com o passeio. Tudo parecia tranqüilo, até avistá-lo novamente próximo a uma pilastra enorme na lateral esquerda da igreja. Então, ela parou, olhou para ele e ficou extasiada com as luzes refletidas em sua roupa. O homem olhou para a pequena menina e sorriu, sinalizando para que se aproximasse dele. Sem se dar conta, Júlia começou a andar em sua direção, afastando-se cada vez mais dos pais, até chegar bem perto do índio de cabelos dourados, que pareceu hipnotizá-la com o olhar. Ao chegar perto, ele estendeu a mão para ela, que instintivamente lhe retribuiu, dando-lhe a sua. O homem a segurou — sem desviar o olhar —, e ambos desapareceram em meio as pessoas, sem que ninguém percebesse o que acabara de acontecer.
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A Cruz de Zeta
Ciencia FicciónJúlia, uma jovem de 17 anos, moradora da cidade do Rio de Janeiro, conhece um misterioso jovem chamado Marcos e apaixona-se por ele. O que ela nem imagina é que o rapaz é um alienígena. É do tipo nórdico: alto, loiro e de olhos azuis. Vive na Terra...