Após aquele longo dia de conversa, havia ficado claro que entre eles rolava mais do que uma simples amizade. "Um lance colorido, talvez", pensava Laura. Mas no momento não queria pensar em nada que desviasse a sua atenção ao foco principal: conhecer melhor aquele estranho tão absurdamente interessante. Math não gostava de falar muito sobre a sua vida: morava no interior de São Paulo, tinha um irmão, família tradicional com descendência alemã, pais bastante rígidos e uma vida um tanto quanto vazia. Tinham sofrido uma tentativa de sequestro à poucos meses atrás, fazendo com que a sua rotina mudasse; raramente saía sem a companhia de seguranças, a quem ele se referia como "cães de guarda". Era bastante popular na escola e no condomínio onde morava, era rodeado de, principalmente amigas e já havia namorado umas três vezes. Já Laura era uma garota comum de classe média, morava apenas com o pai pois a mãe era uma pessoa difícil de lidar, não tinha muitos amigos com quem pudesse verdadeiramente contar e estava naquela fase de sair, aproveitar a vida. Não que ela saísse por aí beijando cada boca que a atraísse, só achava que com um pouco de cerveja e música boa, a vida era mais fácil. O único namorado que teve havia sido decepcionante o bastante, no momento não queria se prender a ninguém. Até tentara conhecer alguns carinhas, se envolveu com alguns deles mas nunca passou disso. Nenhum fora capaz o suficiente de fazê-la acreditar de novo. Mas aquele estranho a fazia sentir algo completamente novo.
Duas semanas se passaram e conversavam todos os dias, praticamente o tempo inteiro, exceto quando estavam na escola. Chegavam, almoçavam e iam direto para o computador. Numa terça feira, Laura decidiu que estava na hora de perguntar sobre a tal namorada, e descobriu que nunca haviam se visto, mas que ela planejava ir à cidade dele nos próximos dias. Foi dolorido imaginar aquela cena, e ali ela decidiu que não estava certo, como podia ser tão estúpida e pensar que aquilo poderia ter futuro? Despediu-se de Math como se nada estivesse acontecendo ou incomodando-a e resolveu tomar uma decisão: iria dar uma chance à Diogo, um amigo que havia se declarado no dia anterior. Marcou de encontrá-lo e, antes mesmo do primeiro beijo, ele a pediu em namoro. Laura tinha um respeito incrível pelo garoto, evangélico e super caseiro, então decidiu aceitar. Combinou consigo mesma que aquela era a decisão certa a tomar e que sim, poderia dar certo, ela queria que desse. Iria começar a frequentar a igreja e seguir as normas impostas pela doutrina. Mas tinha um problema: contar à Math.
Quando chegou em casa, a primeira coisa que ela fez foi ficar on, e lá estava o seu lance colorido. "Antigo lance, dona Laura. Agora você namora", chegou a dizer baixinho. E resolveu que era o momento de contar. Começou:
"Oi Math. Desculpa ter saído tão rápido aquela hora, precisava resolver algumas coisas."
Tudo bem minha linda. Resolveu?
"Sim, e precisava te contar, não sei porque me sinto nessa obrigação de te dar explicações, mas não quero entender, as darei. Ontem um amigo se declarou pra mim e hoje me chamou pra uma conversa. Ele me pediu em namoro..."
E?...
"Eu decidi aceitar, dar uma chance à ele, à mim. Acho que todos precisam de alguém ao lado. Por exemplo, você namora e precisa da sua namorada, isso te faz bem, não é mesmo?
Uhum
"Então é isso. Mas queria te pedir pra que não deixemos de conversar por isso. Somos amigos."
Claro, somos amigos. Desejo que seja feliz, La. Você merece!
Depois desse acontecido, Math sumiu. Passaram se 2,5,7 dias e nada dele deixar um recadinho ou uma notícia sequer. "Deve estar fazendo os preparativos pra namorada ir vê-lo ou, quem sabe ela já até esteja lá", pensou. Então foi vivendo a sua vida com o novo relacionamento, que por sinal, estava indo bem. Diogo era muito romântico e calmo, o que balanceava bastante o seu temperamento mais agitado. Até que veio a primeira briga: Laura havia saído de casa de shorts, o que gerou todo o stress. Segundo as normas da igreja, shorts não eram roupas de cristãos usarem. Depois, houve a proibição com respeito a várias coisas: bebidas alcóolicas, músicas não religiosas, danças e por aí vai. Mas como já estava sentindo algo a mais pelo namorado, que ela ainda não sabia o que era então decidiu que era um "carinho amoroso", preferiu aceitar as restrições à argumentar. Ele a amava e a tratava tão bem como nunca havia sido antes, aquilo deveria ser o suficiente. Então doze dias se passaram, a vida caminhando normalmente, ia para a escola, via Diogo todos os dias, se divertiam bastante, até aquela sexta feira.
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Quando o amor acontece...
Romance05/04/11 - "Era um dia qualquer, aliás, um dia até mais tedioso que os outros. Cama, cozinha, cama de novo, internet, e assim se seguia a vida monótona. Laura estava no seu Orkut como de costume quando um perfil lhe chamou a atenção: um garoto branc...