>Prólogo <

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Se já pensaste bem , nós não temos controlo em nós. Fazemos às vezes coisas sem pensar nas consequências, eu faço isso a tempo inteiro . Não sou muito pensativa nas consequências dos meus atos , mas tem vezes em que exagero na dose de ser incontrolável . A minha mãe diz que sou muito irrepreensível , mas não sou de todo , digamos que apenas gosto de curtir os momentos que a vida me promove . Gosto de fazer coisas que quando for mais velha não poderei fazer . Aproveitar bem a minha juventude . Porque estes tempos não voltarão . Depois terei emprego , filhos , despesas , contas para pagar e não terei tempo para fazer absolutamente nada . Aproveitar o hoje como se não houvesse amanhã . E é o que eu faço.

Fechei os olhos sentindo a brisa doce e quente do verão bater contra o meu rosto e levantar de leve os meus cabelos , o por-do-sol transparecia através da camada fina de pele do eu olho e dava-me uma visão nula laranja através das minhas pálpebras cerradas . Respirei fundo e voltei a abrir os olhos para encarar a imagem vazia do parque em ton de relva verde e o o céu alaranjado .
Estava calma , a sentir-me confortável naquele pequeno banco de jardim gasto e moldado pelo tempo. Nem todos os dias posso ter uma oportunidade de estar sossegada com os meus pensamentos . O meu telemóvel vibra no bolso das minhas calças mas eu o ignoro . Não quero que me chateiem agora , quero estar sozinha , só eu e eu .

O sol estava a desaparecer na linha do horizonte , a lua já tomara o lugar do sol e isso significava que tinha de tomar o meu rumo para casa . Com alguma pena de deixar o parque , levantei-me e olhei mais uma vez para o céu antes de começar a arrastar os meus pés pelo solo de arenito das calçadas . Meti os fones nos ouvidos e as mãos dentro dos bolsos , cantava mentalmente as músicas dos Guns n Roses , com o olhar para frente ,  via as árvores a dançarem ao ritmo do vento e algumas folhas mortas caiam delas , e pousavam-se no chão com gentileza .
Um bando de crianças a correr passa por mim e eu sorrio com a felicidade estampada nos seus pequenos rostos , eu sou muito chegada a crianças , tenho dois irmãos mais novos , são chatos muitas vezes mas eu tenho a certeza que nunca iria conseguir ficar sem eles .

Levei as mãos ao cabelo e prendi-o em um rabo-de-cavalo, ouvi sons de música na rua movimentada da baixa e vi uma banda de rua . Um rapaz moreno tocava em uma bateria móvel , um rapaz loiro tocava guitarra e uma rapariga ruiva cantava " How to save a life " dos The fray .

Sorri, tirei os fones de ouvido e ouvi-os cantar , a música era incrível e eles tocavam bem , a rapariga canta esplendidamente . No final da canção bati palmas e agachei-me, meti uma nota de cinco dólares na bolsa da guitarra que estava aberta no chão com algumas moedas e notas lá dentro.
Eles sorriram e agradeceram , depois disso voltei a fazer o meu percurso para casa que não era muito longo .
Eles bem que podiam ser uma banda de sucesso , concorriam naqueles concursos televisivos para ganhar dinheiro e um contrato musical e faziam uma carreira.
Eu e a minha simplicidade, a minha mãe diz que eu penso que tudo é fácil e possível, mas eu considero-me uma rapariga com fé e esperança .

Subo as escadas ocas do alpendre da minha casa e vasculho na mochila pelas chaves de casa , assim que as encontro rodo-as na maçaneta e entro para dentro .
Deixo a mochila descair dos meus ombros para o chão e tiro o casaco pendurando-o , de seguida, no cabide do hall de entrada . Não está aquela agitação habitual em casa , o que é um pouco estranho . Na mesinha do hall de entrada perto da porta o telefone fixo pisca , vou até ele e aperto no botão de mensagens .

"Olá querida , nós fomos ao supermercado comprar algumas que faltavam para o almoço de amanhã - mamã eu quero estas bolachas - a voz irritante do meu irmão interrompe a minha mãe , ouço-a suspirar contra o telemóvel e ri-me - não Cody , vai meter esse pacote na prateleira de onde tiraste , okay filha eu esqueci-me de dizer mas amanhã um amigo do teu pai vai almoçar aí em casa , se quiseres comer tem uma torta de frango no forno e sumo no frigorífico , amo-te " o pip deu a chamada por terminada , subi as escadas e entrei para dentro do meu quarto , tirei umas fotos da gaveta da escrivaninha e fiquei a passá-las e a observar os pormenores que haviam nelas .

"Uau, sou mesmo uma sem vida! " exclamei depois de voltar a guardar as fotos nas gavetas "Tenho de arranjar um namorado " ironizei , sabendo que era mais provável o mundo acabar naquele segundo do que eu arranjar um namorado . Tirei o uniforme trocando-o pelo pijama e deitei-me na cama de bruços , deixando-me adormecer.

"Riley " ouço a voz da minha mãe chamar-me distante , remexo-me na cama resmungando " Acorda , tem alguém que quer te ver lá em baixo " disse , abri os olhos com dificuldade e olhei para o relógio na mesinha de cabeceira.
Onze e vinte e três da manhã , dormi muito.
"Quem é ? " perguntei sentando-me na cama e espreguiçando-me largamente .
"Surpresa " respondeu , resmungei e levantei-me por completo da cama . Os meus pés descalços batucavam nos degraus das escadas . Lá em baixo , perto da porta, Zac estava a olhar para as fotografias de família pregadas na parede . A minha vontade era de subir e trocar de roupa .
Estou com um aspecto matinal péssimo , cabelo despenteado , pijama infantil com corações e porquinhos , sem falar que quando acordo a minha cara fica sempre inchada por dormir tanto tempo . Dei um jeito rápido no cabelo quando ele ainda olhava para as fotos e passei as mãos pela camisola do pijama tentando tirar as suas dobras .

"Riley" a sua voz fina de rapaz na puberdade ecoou pela casa onde todos dormiam , de menos eu e a minha mãe que daqui a pouco estará a preparar o almoço , olhei para ele e sorri de lado ,desci as escadas parando na sua frente, mas em distância segura para que ele não aprecie o meu cheiro à rapariga esquecida do banho .

"Hey " disse apenas , ele olhou para mim de cima a baixo e sorriu "o que foi ? O meu pijama está sujo , tenho algo na cara ? " ironizei , ele abanou a cabeça negando .

"Não de todo , é que eu vejo-te sempre bem arrumada e isso , agora estou a ver a Mariley McCartney de pijama " eu ri-me juntamente com ele .

"Existe uma primeira vez para tudo " falei " então ? O que fazes aqui , na minha casa , em pleno sábado ?"Perguntei.
"Há muito tempo que não estamos juntos , sabes somos melhores amigos , não somos ? " respondeu .

"Sim , claro Zac , porque não seríamos ? " ele encolheu os ombros e olhou em volta .
"Eu beijei-te , lembras-te ? E tu depois deste-me uma chapada e nunca mais falamos após esse dia " a sua voz saiu em um murmúrio baixo .

"Vamos esquecer isso , está bem ? " ele anuiu .
"Voltamos ao mesmo ? " perguntou estendendo a mão
"Voltamos ao mesmo ! " respondi apertando-lhe a mão e abanando-a freneticamente.

"Bem , agora que está tudo resolvido , eu tenho de ir para casa a Ruthie vai ter um recital de ballet e eu sou obrigado a ir para aquela coisa secante " resmungou e eu ri-me.

"Okay Zac , fico feliz por voltarmos a ser ...sabes nós ? E boa sorte com a seca no recital " desejei, ele avançou para mim com os braços abertos e abraçou-me, retribui um pouco desajeitada , ele aproximou a sua boca do meu ouvido e sussurrou :
" Senti a tua falta " afastei-me dele e dei-lhe um beijo na sua bochecha , abri a porta e quando ele passou por ela dei-lhe uma palmada forte no seu rabo.

"Também senti a sua falta " murmurei vendo-o ir-se embora , entrei para dentro de casa e fechei a porta ficando com a testa cola ao vidro gelado da mesma .

"Riley" a minha mãe aparece no corredor com um avental vestido e o cabelo preso em um coque "Vai-te vestir , toma um banho antes , lava esse cabelo e desce para me ajudar" falou e voltou para a cozinha , rolei os olhos e subi para cima em direção à casa-de-banho.

Os almoços com os amigos do meu pai como convidados são um horror , eles só falam de trabalho e política . E sem falar que são todos velhos e chatos , só sabem me perguntar por namorados e escola , parece que estou em um interrogatório policial ou algo do género . Só sei que este será mais um velho chato sem temas de conversa interessante , tenho toda a certeza nisso.


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