16.

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Me viro para o corredor cheio de corpos e me obrigo a segurar as lágrimas. Eu havia aceitado jogar o pior jogo de Zayn. Só não sabia que estaria sem forças para isso.

Respiro fundo antes de andar pelo corredor.

Tento não pisar em nenhum corpo nem encostar-me em nenhum lugar sangrento. Sinto pena dessas pessoas que morreram pelas mãos do moreno mas não há nada que eu possa fazer. Eu me recuso a chorar.

Desço as escadas também coberta de sangue e a cena do andar de baixo não está melhor que o de cima: também há corpos pra todo lado.

Inalo o cheiro de suor e sangue e sinto ânsia de vômito. Corro até a porta mas antes que eu possa abri-la, alguém o faz.

Um garoto de olhos claros e cabelos loiros, que aparenta ter menos de 10 anos, entra correndo na casa e eu recuo de susto.

Encaro o pequeno garoto que estava com um olhar de desespero. Nos encaramos por alguns segundos até eu abrir a boca. Mas o garoto não me deixa falar:

"Ele disse que não sente nada" sua voz está repleta de medo "E-ele disse que d-desligou os sentimentos".

Não consigo entender o porquê do garoto dizer isso e penso que Zayn pode o ter mandado dizer.

"Os j-jogos dele vão te f-fazer sentir como ele" o garoto que está com os olhos cheios de lágrimas, retira seu casaco e levanta seu pescoço "Um monstro".

Olho para o pescoço nu do garoto e meus olhos se desesperam. Há uma espécie de coleira nele, com um pequeno relógio. O relógio apontava 00:40 segundos.

Zayn havia me mandando uma bomba. Uma criança bomba.

Eu não sei o que fazer. Havia uma criança inocente chorando a minha frente com uma bomba no pescoço.

Mesmo com as pernas tremendo, ando até a criança e essa chora ainda mais alto.
Encosto minha mão no ferro no pescoço do garoto e tento achar alguma forma de abri-la. 30 segundos.

"E-eu vou m-morrer?" a voz do garoto soa e eu encaro seus olhos avermelhados graças às lágrimas.

Eu não podia salvá-lo. Não havia nenhuma forma de abrir a bomba de seu pescoço. Ele iria morrer e se eu não saísse, morreria junto.

Zayn havia lhe mandando dizer que os seus jogos iam me fazer sentir como ele, um monstro. E é assim que eu me sentia na ideia de deixar esse garoto morrer enquanto eu me salvava. 20 segundos.

"Você acredita em anjos?" minha voz não passa de um sussurro e já sinto lágrimas quentes molharem meu rosto.

O garoto acena com a cabeça e fala: "Sim, você parece um".

Meu coração se corta com isso. A pequena criança havia dito que eu parecia um anjo. Um anjo que não poderia salvá-lo.

"Pense em anjos" falo "Pense neles, felizes. Sinta eles" o garoto me encara antes de fechar os olhos e parecer relaxar. 10 segundos.

Retiro minhas mãos dos seus ombros e me afasto. Olho pela última vez para a imagem do pequeno garoto, que estava com os olhos fechados e uma sombra de sorriso nos lábios. Ele estava imaginando anjos.

Corro até a saída antes que me arrependa. Saio rapidamente da casa e penso no que acabei de fazer: havia acabo de deixar uma criança morrer para eu sobreviver.

Escuto um grande estrondo e sinto meu corpo ser impulsionado para frente. Meu corpo machucado agora estava no chão e sei que não há mais vestígios da casa ou dos cadáveres que estavam nela.

Não há vestígio de nada além de eu deitada na grama chorando.
A voz suave do garotinho não saia da minha cabeça. Tão inocente para morrer tão cedo.

Eu me sentia culpada. Por que eu fui aceitar jogar os jogos de Zayn?

"E-eu sinto muito" sussurro para o pequeno garoto que, talvez, está com os anjos agora.

Me obrigo a levantar-me da grama e ando na direção do portão. Não limpo as lágrimas das minhas bochechas e me limito a parar de chorar.

Olho para o que sobrou da casa e para a floresta ao lado dela. A floresta estava em chamas. E essa cena não devia ser tão bonita. Mas até as coisas ruins tem sua beleza.

Quando estou preste a virar-me, algo me chama a atenção. Um grito.

Penso em estar ficando louca mas outro grito soa. E ai que reconheço que é um grito de criança.

Não penso antes de correr na direção da floresta em chamas. Zayn estava me testando, ele queria que eu desligasse meus sentimentos, queria que eu não me importasse com as pessoas. Mas eu não consigo fazer isso.

Chego na entrada da floresta, não conseguindo ver nada. Só há fogo e fumaça.

"Socorro!" uma voz infantil e aguda grita já sem forças e eu entro na floresta.

Coloco minha mão no nariz na intenção de não respirar fumaça e escuto outro grito. Corro na direção da voz e minha pele começa a ficar irritada por causa do calor do fogo.

Vejo uma menina, com no máximo 5 anos, encolhida numa árvore. Ela estava agarrada a um urso de pelúcia e parecia frágil e fraca.

Corro até ela e me abaixo na sua direção. A garotinha dos olhos verdes me encaram e eu penso que já os vi em algum lugar.

Ela parece não ter forças para dizer nada e eu apenas a coloco no meu colo. Mesmo estando fraca, desvio do fogo e acabo inalando fumaça. Saio da floresta com a garotinha no meu colo e a coloco no chão.

"V-você está bem?" minha voz está trêmula e fraca. A menina dos cabelos cheios de cachos acena com a cabeça tossindo.

Olho ao redor vendo um carro preto não muito longe de onde nós estávamos.

Sei que a criança não conseguiria andar até lá então a carrego. Chegamos pouco tempo depois e eu penso que não vou aguentar mais.

O carro está aberto e a chave no banco. Coloco a pequena garota no banco de trás e sento-me no banco da frente tentando controlar minha respiração.

"V-você parece um anjo" a voz da menininha soa "Um anjo que me s-salvou" diz me fazendo encolher com a culpa.

Eu podia a ter salvado das chamas. Mas havia deixado um garoto morrer com uma bomba.

Olho para a garotinha que estava com os olhos lentamente fechados.
"Qual seu nome?" minha voz está rouca e cansada.

A garotinha abre os olhos e me encara antes de responder "Kate" a pequena fala "Kate Styles".

Kill and Kiss | 1D fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora