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EEu imaginei como minha vida seria se meu pai não fosse o homem que é. Apesar da sua ocupação, sou devota a amá-lo como a filha que sou. Minha irmã mais nova, Paige, tem outros planos. Ela raramente sai de casa, ameaçada pelas pequenas coisas do mundo. As pequenas coisas a afetam muito, e eu sempre temi que ela se tornasse distante de nós.

Quando fecho a porta do meu carro sei exatamente o número de rifles apontados para mim e a barreira de pistolas que me aguardam; 64. O homem da frente relaxou seus ombros tensos quando viu quem eu era. Fiz meu caminho em direção a eles para que me guiassem até onde meu pai estava.

"Boa tarde, senhorita Gates." Um dos homens, que eu conhecia como Gator, me cumprimentou.

Eu ri suavemente deixando minha mão descansar no seu ombro. "Só porque meu pai disse que você deve me cumprimentar sempre, não significa que o tenha que fazer."

Ele escarneceu um pouco, se mostrando desconfortável. "É o educado a se fazer."

O ar quente mexicano se tornava distante a medida em que eu entrava na casa climatizada. Meu pai tinha uma queda por calor e áreas tropicais. Ele compra mansões em todos os lugares em que ele vai e ama.

Suspirei profundamente sabendo que a razão de estar aqui não era porque ele queria dar um "oi" ou ver como eu estava. Mas porque ele queria que eu fosse à algum lugar. Eu sou constantemente movida para outros lugares devido a sua preocupação com a minha segurança. Contudo, eu não o culpava. Estou feliz que ele ainda se preocupa com o meu bem estar.

Não houve surpresa quando eu entrei na casa. Tudo estava de acordo com o que meu pai desejava. A mobília era de madeira escura, quase negra. As paredes eram revestidas com um carmesim profundo. O comodo era espaçoso e tinha corredores que levavam a várias outras salas. Eu não estava fascinada pela bela decoração ou pela maneira como o chão de mármore brilhava por ter sido esfregado até estar imaculado. Ele era um homem de perfeições, e não cometia erros. 

Papai estava bebendo chá na janela que, tenho certeza, era à prova de balas. O cabelo marrom com fios grisalhos estava penteado para trás, seus olhos verdes encaravam à frente enquanto ele conversava com um homem alto que mantinha seus olhos na janela com uma postura perfeita.

"Sr. Gates, sua filha está aqui." Gator o informou, se virou e nos deixou sozinhos para fazer negócio.

Ele abaixou sua xícara de chá e se levantou com um suspiro enquanto olhava para mim. Ele observou meu visual. Meus shorts não eram necessariamente apropriados segundo ele e notei isso quando ele balançou sua cabeça. Ele insistia que eram muito curtos, mas eu usava mesmo assim porque gostava. Eu estava com uma regata simples e, por cima, uma camisa xadrez desabotoada, rosa com branco. A camisa xadrez estava com as mangas dobradas e eu calçava saltos nude, com meu cabelo dourado caindo sobre meus ombros.

Apesar disso, ele me deu um sorriso. "Você parece mais crescida a cada vez que te vejo. Vem aqui e dê um abraço no seu pai".

Eu sorri para ele envolvendo meus braços firmemente ao seu redor. Não é segredo que senti sua falta. Eu não entendo como Paige consegue, mas meu pai sempre foi a única pessoa que amei tão profunda e verdadeiramente. Ele foi a razão de eu ter entrado em uma escola. Eu queria mostrar que era digna.

"Ei, pai" Sussurrei enquanto nos afastávamos.

"Vem, vamos nos sentar." Ele nos guiou ao sofá no qual estava sentado à pouco. Me ofereceu chá, mas neguei, querendo que ele chegasse logo no ponto. "Você sabe que eu não chamei você aqui para conversar."

Minhas mãos se entrelaçaram no meu colo, mantendo minhas pernas unidas no momento em que inalei profundamente. "Eu imaginei."

"Agora, você sabe que me preocupo com a sua segurança. E ultimamente tem ocorrido coisas com as quais estou familiarizado. Eu só estou pedindo que tenha paciência comigo quando lhe digo que você ficará por um tempo no Texas." Ele explicou firmemente.

Novamente me mudaria e iria para uma nova escola. Eu estou cansada da mesma velha situação. Novos amigos, nova escola para explorar e se perder, novos professores, novas turmas para se afeiçoar. Eu não curto mais viajar pela quantidade de vezes que já o fiz. Mas não há reclamação. Se tem uma coisa que meu pai odiava mais do que falhas no sistema, era reclamações.

Não tendo escolha, assenti devagar. Ele parecia satisfeito por eu não estar reclamando. Então, não o fiz. Paige era a única que estaria gritando com ele no telefone, desejando que tivesse uma vida diferente. Eu posso me identificar com ela, mas levo as coisas de outra forma.

"Sua irmã está a salva no Texas, ela está esperando sua chegada."

Ele não iria conosco. Ele ficaria pra depois viajar metade do mundo para planejar como sairia da situação, qualquer que seja ela, que ele tenha se metido. Sempre confiei nele, ele sabia o que estava fazendo, mas isso não significa que não fique preocupada.

"O Harry vai ficar encarregado de você. Agora escute tudo o que ele diga, não importa o quão ridículo, tem que fazer tudo o que ele disser. Ele é meu melhor mão direita e o único disposto a arriscar a vida por você." Meu pai explicou firmemente enquanto meus olhos viajaram para o homem alto parado na janela.

As palavras que meu pai dizia se tornaram um borrão enquanto eu estudava o homem, cujo nome era Harry. As suas pernas eram longas e realçavam sua figura magra. Ele estava vestido todo de preto. A parte de cima, os jeans e os sapatos. Meu pai fazia todos se vestirem assim, durante o dever, ele esperava perfeição. A sua camisa estava dobrada até os cotovelos, revelando um turbilhão de tinta preta na sua pele suavemente bronzeada. Não estava completamente coberta, mas tenho certeza que eram muitas tatuagens.

Seu queixo estava erguido, seus olhos verdes imersos nas expressões do meu rosto. Ele parecia desinteressado, mesmo não tirando os olhos de mim. Seus lábios rosados e volumosos em formato de coração não estavam curvados nem um sorriso nem em uma carranca. O piercing preto no lábio inferior realçou sua figura sombria. Ele tinha uma mandíbula bem definida, enquadrando perfeitamente seu rosto. Eu desfaleci momentaneamente quando vi seu piercing na sobrancelha. Ele estava impassível, sério e parecia relaxado. Seu silêncio completo me fez perguntar se ele estava vivo, já que nem mesmo sua respiração se fez notável.

Cachos de avelã estavam puxados para trás, um visual bagunçado que o fez parecer ainda mais atraente. Olhos verdes, insanamente bonitos, me olhavam sem emoção, enquanto os meus olhos batalhavam para achar algum tipo de reação.

"Catalina.", meu pai estalou, obviamente com raiva pelo fato da minha atenção ter sido tirada dele pelo estranho que deveria me proteger com sua própria vida. Desviei meus olhos dos de Harry, franzindo a testa ligeiramente quando olhei para meu pai. "Tudo o que ele fará é proteger você. Ele só está encarregado disso e, quando você estiver a salva, ele irá voltar para cá. Ele já conhece o trabalho e não será enganado pelas suas tendências de sair da linha."

Estreitei meus olhos preparada para me defender. "Eu não preciso dele pra me proteger. Ele é um estranho para mim. Não estou preparada pra confiar completamente nele."

Ele se ergueu, seus joelhos estralaram. "Eu não ligo para o que você acha. Você tem dezessete anos e está sobre meus cuidados. Eu não quero ouvir mais nada. Esta noite você irá do Norte do México até o Texas. Na fronteira há homens esperando por vocês dois. Você vai cruzar a fronteira em três dias." Ele instruiu severamente. "Quando você chegar, eu quero uma ligação sua e da sua irmã."

Nem preciso dizer que estava com raiva. Eu não posso nem viajar de avião, porque, seja lá com quem ele está em dívida, vai ser capaz de me rastrear. Eu tenho que estar em um carro com um completo estranho que se parece com a morte na forma de um homem bonito. Papai começou a se afastar e Harry se inclinou para a janela e olhou lá fora. Eu o observei quando ele começou a se afastar também, sem dizer uma palavra para mim. Até mesmo seus passos eram silenciosos. 

Dust Bones // H.S. [Tradução - PTBR]Onde histórias criam vida. Descubra agora