"Never say goodbye because goodbye means going away and going away means forgetting." - J.m Barrie
Sempre teve aquele receio do adeus, Alice não gostava de despedidas, mas convenhamos, quem gosta de despedidas? O adeus sempre deixou aquele gosto amargo na boca, a sensação de tristeza, o sentimento de saudade, sempre deixou duvidas, dívidas, ansiedade e tudo o que há de mais agonizante no ser humano.
Nas férias de verão de 1988, Alice, jovem e inatingível aos olhos que só enxergavam-na externamente, lá estava, deitada numa manta posta sobre a grama alta e verde, embaixo de árvores altas, o Sol achava uma brecha entre as folhas e os raios atingiam diretamente seu rosto, virava pra um lado e para o outro, tentando escapar dos raios de Sol. Sozinha não estava, um braço passava pelos seus ombros e tinha a cabeça apoiada no peito daquele rapaz, e mesmo sem os óculos, aquela visão borrada das folhas parecia perfeita, estava em paz, e você acha mesmo que Alice com seus quinze anos e quase nada vivido antes estava pensando em um fim? Não, ela não estava, quando se tem quinze anos tudo parece eterno, e naquele momento as folhas eram eternas, as formigas subindo pelas pernas eram eternas, o garoto de sardas no nariz era eterno. E esse eterno era confortável, bonito demais para uma garota de espírito rebelde cujo não tinha visto nada da vida ainda. Nunca pensou em dizer adeus a nada daquilo, os dedos entrelaçados aos dedos do garoto indicavam que aquele era o lugar em que tinha que estar, como se fosse o destino, nada é por acaso pensava ela, e se tiver um fim, tudo isso não valeria de nada. Mas Alice estava errada, mesmo com tanta ignorância em questão a vida, ela insistia saber das coisas, Alice, Alice... O primeiro passo para um sábio é reconhecer sua ignorância. E continuava a pensar que aquele sentimento de paixão ardente, beijos calorosos, palavras clichês eram todos infinitos. Mal sabia ela que nada daquilo tinha a ver com números.
Faziam planos, ela e o garoto sardento iriam morar juntos em Nova Iorque, iriam ter dois filhos, bons empregos e iriam ser felizes. Esse era o simples plano de vida dos dois, e dizia para ele que jamais conseguiria imaginar um futuro sem ele, e pensava que aquelas palavras eram simples, mal sabia Alice que eram palavras intensas, planos intensos tão difíceis de concretizarem... Dizia que aquelas férias de verão era a melhor férias de verão que já havia vivido. Mas não pensava que nunca tinha vivido tantas assim, costumava dizer coisas intensas de maneiras tão simples que só quando o fim chegou, ela fora perceber isso.
Quinze anos era o começo de tudo, mas depois daquele momento ela pensava que era o fim, tão tola pensava que nunca mais ia ser feliz na vida, o que vou fazer sem aquele cara aqui? Pra onde vou? E meus planos como ficam? Todos jogados no lixo lá no fundo do coraçãozinho que pulsava forte. E chorou por tanto tempo pelo fim, chorou, chorou, chorou e se perguntou, será que ele ainda pensa em mim? Será que a gente vai se encontrar de novo algum dia? Esse é meu fim, o meu fim, senhor me ajude a superar meu fim... Dezesseis anos e tão tola ainda pensando que esse era seu fim. Nessa idade é assim, qualquer pessoa que cativa à gente e depois vai embora a gente já pensa que estamos no final do caminho, mas então percebeu que dezesseis anos eram sós o começo, o começo do começo, o início de tudo. Talvez aquilo que ela pensou ser o fim, era apenas o prólogo. Talvez ela fosse conhecer outros garotos sardentos, outros garotos que a fariam pensar que era o fim. Outras risadas que se tornariam musica para seus ouvidos, outros sorrisos que fossem completar o seu. E então pensou que nunca havia dito adeus, e de acordo com seu conto de fada favorito, o fim só viria com um adeus, então ela não precisava esquecer, não precisava se forçar a esquecer. Alice, que Deus a perdoe por tanta ignorância.
É engraçado o fato de quando temos quinze, dezesseis anos, as pessoas possam não só se tornar parte de nossas vidas, mas também se tornarem nossas vidas, é engraçado e trágico também, Alice se deu conta disso e recomeçou os planos, seus planos, só seus, não envolvia mais ninguém além dela. Tão tola por pensar que ninguém nunca mais poderia interferir nisso. Alice, Alice... As pessoas sempre serão parte de você, não importa quantos planos egoístas tu fazes, outros corações estarão lá também e você sabe disso, então por que se dar ao trabalho de planejar as coisas assim? Vou te contar um segredo, os planos nunca realmente vão sair do jeitinho que você quer, porque eles vão interferir, vão mudar as rotas, os pensamentos, Alice, se entregue à vida, não tente controlá-la, no fundo você sabe que isso nunca dará certo.
Você tem que aceitar, que quando chegar a hora do adeus você irá para o lugar onde todos vão, eu, você, o garoto sardento, aquele outro garoto de cabelo grande que você achou bonitinho e aquele outro inteligente que aqueceu suas mãos numa noite de sexta feira. O adeus é inevitável Alice. O fim chegará para todos, se você acha que algo se eternizará em seu interior, estará enganada, até mesmo seu interior terá um fim e o que você pode fazer com isso? Viver agora enquanto o fim não chega. Dizer para aquele rapaz que não vive sem ele e para aquele outro que sua vida é completa com ele, dizer para aquele que mora lá longe que gosta dele e dizer para aquele mais velho que ele salvou sua vida. No final tudo vai dar no mesmo. Suas amigas não estarão com você para enxugarem suas lágrimas Alice, nem aquela que te conhece há dez anos, nem aquela outra que mora pertinho de você, e nem a outra que você conheceu ano passado, muito menos aquela que você ajudou quando estava em apuros. Você sabe, não é?
Alice, eu te adoro, eu juro que te adoro do fundo do meu coração, mas é preciso que você saiba, eu não estarei aqui por você quando a hora chegar, você terá que partir sozinha. Adeus Alice, Adeus.
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Dezessete Contos
Short StoryContos dedicados a uma vida clichê, essencial para a libertação da alma, histórias tediosas de amor, onde você se encontra e me encontra.