Louise

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      O olhar de Louise vagueava entre as letras do endereço rabiscado no papel em suas mãos e no grande edifício em sua frente. A garota não estava acreditando. Finalmente tinha conseguido um horário com ninguém mais ninguém menos que Sophie Laurent, a estilista mais importante da última década e que conquistou o mundo com seu estilo único de fazer moda.

      A garota respirou fundo e tomou coragem para adentrar ao império da moda, o Laurent's Boutique. Olhou ao redor e viu diversas moças andando de um lado para o outro com peças de roupas, tecidos em mãos. Louise continuou andando e aproximou-se da recepcionista.

     — Olá, boa tarde. Sou Louise Fischer e tenho uma entrevista marcada com o senhora Laurent para daqui a trinta minutos. — falou tentando não batucar os dedos no balcão em sinal de nervosismo.

     — Só um instante, senhorita Fischer. — Assentiu e ficou observando mais uma vez o local enquanto a recepcionista falava ao telefone com a secretária de Sophie Laurent. — Sim... Claro... Tudo bem, eu aviso... Okay. Obrigada, Lindsay. — Colocou o telefone no gancho e dirigiu seu olhar a Louise. — Eu sinto muito, mas a senhora Laurent não irá poder recebê-la hoje.

     — Mas por quê? Eu marquei um horário com ela faz quase um mês! — reclamou sentindo o rosto começar a ficar vermelho por conta da raiva.

     — Ela apenas informou que por motivos pessoais. Desculpe.

     Não adiantava descontar toda sua raiva na pobre recepcionista. Então deu meia volta sem dizer mais nada e caminhou para fora do edifício. Como pudera ser tão ingênua em achar que uma simples garota como ela iria ter uma oportunidade com a Sophie? Claro que não! Burra, burra, burra. Xingava-se mentalmente.

     Lágrimas nublaram sua visão, pois tinha perdido uma grande oportunidade de realizar seu maior sonho. Ser uma estilista famosa. Limpou as lágrimas rapidamente e parou na calçada esperando sua vez de atravessar.

     Seu apartamento, que dividia com mais duas amigas, não ficava muito longe dali por isso tinha ido caminhando. E por uma parte foi bom, pois teria tempo para pensar em algo para dizer às amigas. A caminhada que outrora tinha sido tão longa, dessa vez fora rápida e logo se vira em frente ao seu prédio.

     Cumprimentou o porteiro com um aceno e foi em direção ao elevador. Para seu alivio, o mesmo estava vazio. Assim que as portas do elevador se fecharam, Louise encarou seu reflexo triste no espelho e sua postura nada elegante.

     Quando as portas abriram-se, ela caminhou rapidamente já com as chaves de seu apartamento em mãos. Ao abrir a porta viu Sarah e Judie com uma torta nas mãos e sorrisos que iam de orelha a orelha.

     — Meu aniversário já passou e vocês deveriam saber disso. — Resmungou e viu o sorriso das duas desaparecerem.

     — Nós sabemos. Apenas quisemos comemorar o sucesso da sua entrevista — respondeu Sarah meio incerta.

     — Comemorar? Acho que vocês tem que deixar para a próxima — Louise abaixou a cabeça.

     — Ah Lou, não acredito! — aproximou-se Judie e já foi abraçando a amiga, sendo seguida por Sarah. — Olha, aquela bruxa da Sophie Laurins...

     — É Laurent. — Corrigiu Louise soltando uma leve risadinha.

     — Tanto faz — Judie revirou os olhos. — Ela não sabe o talento que está perdendo, acredite.

     — E ainda vai chover pessoas naquela porta — apontou Sarah. — Atrás de você e a Sophie-bruxa-Laurent irá chorar sangue por não ter atendido você.

     — Ah, meu Deus! O que eu faria sem vocês?

                                                                                        (...)

     Até conseguir alcançar seus sonhos, o mundo real ainda está aí. E essa era a situação de Louise. Já recuperada do mais novo "não" de sua coleção, arrumou-se para ir ao seu mundo real, o trabalho. A garota já tinha perdido o turno da manhã e não poderia se atrasar à tarde.

     Saiu de seu quarto e encontrou Judie na sala. Judie estava tão concentrada no que via que provavelmente, bem provavelmente, estaria vendo reprises de Grey's Anatomy e não notou Louise passando. Louise ia caminhando até a cozinha quando quase foi derrubada por uma Sarah que passou quase voando. Sim, elas estavam vendo as reprises de Grey's Anatomy.

     Ao voltar da cozinha, passou pelas duas amigas na sala despercebida e saiu. Seu trabalho, na livraria do bairro, fica a duas quadras dali, porém, para evitar atrasos, Louise foi em sua bicicleta. O trânsito estava um caos para aquele horário. Mas nada que a amedrontasse.

     Dobrou na segunda esquina à direita e foi surpreendida por um carro que parecia ter surgido do nada. Por sorte, o carro não a atingiu. Havia dado tempo de o motorista frear. Sua manhã já tinha sido maravilhosa e agora um carro quase a atropelara. Toda a raiva que havia guardado o restante do dia tinha transbordado.

     A garota largou a bicicleta no chão e andou em passos decididos até o lado do motorista e bateu com toda sua força no vidro. Quando a pessoa que estava dentro do carro desceu o vidro, a garota explodiu em xingamentos.

     — Seu babaca! Você quase me matou! — berrava e o garoto que ocupava o assento do motorista a encarava assustado, mas essa expressão durou alguns instantes e logo ele abriu um sorriso irônico.

     — Você acha mesmo que eu mataria uma coisinha tão lindinha feito você? — o garoto lançou seu melhor sorriso e quase fez a raiva de Louise vacilar.

     — Eu não conheço você e nem faço questão, então não me chame de coisinha!

     — Não seja por isso. Sou Thomas Winkle e você é...?

     — Não é da sua conta!

     — Só estava tentando ser educado.

     — Tente ser educado não atropelando os outros.

     — Como você preferir, coisinha linda. — Tentou jogar seu charme para cima da garota, que apenas revirou os olhos e deu as costas indo em direção a sua bicicleta. —Você não vai mesmo me dizer seu nome, não é? Tudo bem. Eu descubro sozinho. — Soltou uma risada e fechou o vidro do carro, logo dando partida em seguida.

     Após pegar a bicicleta, Louise foi empurrando à mesma e xingava aquele garoto de todos os nomes possíveis. Babaca, ridículo, idiota, lindo, irrespon... O quê? Diante de tudo aquilo, seu cérebro ainda tinha tido espaço para ver que o garoto era bonitinho. Balançou a cabeça irritada por tá perdendo tempo com aquilo. Tinha coisas mais importantes para pensar e fazer.


(Capítulo escrito por Bea)  

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