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- Hoje nesta sexta feira 13 estamos aqui para lamentarmos o falecimento de uma jovem que tinha muito o que viver pela frente, uma jovem que interrompeu seu destino para ir para o outro lado. É um dia difícil para todos os familiares, amigos e pessoas próximas de Mia, uma garota especial que deixará saudades em todos. – O padre que celebrava a cerimônia do adeus da garota. Tentava usar as palavras corretamente, para tentar ao menos confortar as pessoas que estavam ali.

Mia havia morrido a uma semana. A garota foi encontrada por Josh, seu irmão mais velho, dois dias depois, deitada em seu banheiro apenas com peças intimas cobrindo seu corpo. O corpo da garota estava com vários cortes fundos, destacando seus pulsos e o seu pescoço. Os cortes estavam espalhados em cada centímetro de pele branca da mesma. Junto ao seu corpo, estavam várias caixinhas de comprimidos de morfina e tarjas pretas, os quais estavam todos vazios.
Mia não deixou uma pista se quer do seu possível suicídio. Nem ao menos um bilhete que explicasse o ato trágico da garota.
Para todos que conviviam diariamente com a garota, ela era feliz. Sim, uma garota feliz com um mundo perfeitamente cor de rosa a sua volta.
Quando a notícia da morte da garota se espalhou pela pequena cidade de Bristol, chocou a todos. Ninguém conseguia acreditar que a filha de um dos homens mais influentes da cidade e talvez do estado de Virginia inteiro, havia perdido a filha de uma maneira tão cruel e dolorida.
Tirar a própria vida era quase um ato inaceitável.
Ninguém parecia entender porque a garota carregava tanto sofrimento. Logo que o corpo da menina passou pela perícia e uma Psiquiatra avaliou os familiares, amigos e até mesmo o corpo de Mia a pedido da polícia, eles tiveram a confirmação de que não era apenas do dia as cicatrizes que tomavam o corpo da garota. Ela escondeu muito bem a depressão em que estava, ela conseguia manipular tudo a sua volta. O transtorno na garota era simplesmente inaceitável, o que havia acontecido era inaceitável.
Foi e estava sendo muito difícil para Josh aceitar tudo o que estava acontecendo com a irmã, sua pequena. Se ele não tivesse embarcado com seus pais para Los Angeles talvez ela ainda estivesse aqui.

-Alguém gostaria de proferir algumas palavras? – O padre se manifestou, após terminar as preces para a salvação da alma garota.
Izabelly uma das melhores amigas da garota foi a primeira a levantar-se e manifestar-se. A aparência da garota estava horrível. Desde que recebera a notícia que sua amiga havia partido, não conseguia dormir direito, seus olhos afundados pelas olheiras negras, destacavam-se pelo rosto branco sardento da garota, seus cabelos ruivos estavam bagunçados em um rabo de cavalo mal feito, contendo uma aparência de não serem lavados a uns cinco dias. Ela já não conseguia mais chorar, não tinha mais lagrimas, nem força para isso.
O suspiro dado antes de começar a dizer suas palavras foi longo e delicado.
-Eu ainda não acredito que você se foi Mia, não entendo seus motivos por querer nos deixar desse jeito. – soltou outro suspiro, antes de levar seu olhar em direção ao caixão da amiga. – Eu conhecia você desde que éramos tão pequenas. Uma pessoa tão acolhedora, bondosa. Sempre se destacando em tudo, nas notas da escola, em ajudar os amigos, em chamar a atenção dos garotos, em ser a melhor filha. Sempre fez de tudo para que nos sentíssemos bem. – fungou.
-Não sei o que será de mim agora sem você e suas brincadeiras. Você foi a pessoa que eu mais confiei na minha vida e mesmo decepcionada por não ter sido essa pessoa para você, eu ainda te amo, amo e muito. Você era parte do meu mundo e agora não está mais aqui. Vou sentir sua falta. –Alguns aplausos foram dados assim que a garota terminou seu discurso e voltou a sentar-se sendo amparada pelos pais.
Mia não pensou em como Iza ficaria após sua morte, pois para ela não causaria tantos danos na antiga amiga. Para ela, Izabelly saberia lidar com a sua morte muito bem, jamais pensou que a amiga poderia se desmanchar como água.
Logo após o discurso de Izabelly, mais cinco ou seis pessoas se manifestaram durante o funeral antes de o Padre retomar as palavras.

E ao fundo, no ultimo banco, no canto mais escondido da igreja coberto pela sombra escura que pairava por lá. Ele estava lá. Lamentando por não ter sido forte o suficiente para deixa-la viva, lamentando por não ter conseguindo salva-la dele mesmo. A dor que ele sentia não poderia ser compara com a de ninguém ali, era tão forte e tão funda que parecia ter sido arrebentado por dentro. Ninguém sabia da verdade por trás da morte da garota, nem ao menos ele.
A cada palavra dita, a cada fungada ouvida era demais para ele, tantas mentiras tantas pessoas que fingiam importância com tudo que estava acontecendo, que ele estava chegando ao seu limite.
Assim que o padre terminou a cerimonia, a primeira coisa que a mãe de Mia fez foi correr em direção ao caixão e abraça-lo, ela gritava palavras desconexas , chamando-a, lamentando-se por tudo que deixou de fazer por ela. Logo o pai da garota e o irmão foram até a mãe e a acolheram.
Todas as pessoas presentes passavam uma última vez pelo caixão para se despedir da garota. Com ele também não foi diferente, esperou que a igreja estivesse praticamente vazia, e se direcionou ao caixão. Assim que olhou para a garota que estava em sono profundo dentro daquela caixa não conseguiu ser mais forte, algumas lagrimas silenciosas escorriam pelo seu rosto.
Observou o rosto pálido que agora Mia tinha, seus lábios antes rosados agora eram roxos, em um tom quase azul. Não resistiu em tocar a menina pela última vez, passou a mão pelo rosto gélido que agora ela tinha e logo deslizou pelos braços cobertos pela maga do vestido preto que haviam posto nela. As mãos da garota estavam entrelaçadas, juntas a um rosário. Ele engoliu em seco ao perceber esse detalhe, não iria se arriscar em tira-los dali sabia que seria notado.
Antes de dar as costas ao caixão, observou pela última vez o rosto da garota e controlou o que sabia que viria a seguir.
Ninguém parecia ter notado sua presença por ali, ou pelo menos fingiam isso.

Ele acompanhou tudo. O fechamento do caixão. A última prece do Pai da garota. O caixão sendo levado pelo Pai, o irmão, um tio e o que ele menos esperava o ex namorado da garota. O silêncio das pessoas ao seguirem o caixão até o cemitério que ficava ao lado da capela. O caixão sendo colocado em um buraco fundo e escuro. Acompanhou as pessoas jogando rosas vermelhas e brancas em cima do caixão. A terra cobrindo o buraco e logo depois o tapete verde de grama sendo posto em cima da terra seca.
Observou cada segundo sem acreditar que esse era o fim. O fim da pessoa que mais o fez feliz, apesar de todas as circunstâncias, o fim da única pessoa que foi capaz de fazê-lo amar.
Quando todas as pessoas que estavam ali haviam ido embora, foi a vez dele se aproximar da lápide da amada. Seus olhos ainda estavam embaçados pelas lagrimas que insistiam em cair. O garoto se acrocou e varreu seus olhos pelo local ainda sem acreditar.
Como a vida tinha sido injusta com ele.
O garoto então retirou a rosa negra que tinha dentro do seu paletó, depositando-a sobre a grama nova que haviam colocado ali. Não pode evitar de se lembrar como essa cor fez parte da vida de Mia, como essa cor a descrevia tão bem.
Passou uma das mãos sobre o cabelo e olhou para cima, sentia as lagrimas caírem sobre seu rosto, queimando como um ácido, em uma intensidade insana.
-Você disse para mim seguir em frente... –suspirou profundamente antes de sentir um soluço estourar na sua garganta. –Mas não me disse que ficaria para trás.
Então ele ficou ali. Deitou ao lado a cova de sua amada, apenas olhando para as estrelas. Imaginando como tudo poderia ter sido diferente.


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⏰ Última atualização: Sep 05, 2015 ⏰

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