Perda

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Noite de sexta feira, a água da chuva batia freneticamente em minha janela, o frio cortante me fazia bater os dentes mesmo com todas as portas e janelas fechadas, e para piorar, uma gripe horrorosa havia me atacado, deixando-me completamente indisposta. E mesmo assim, eu estava emburrada na frente do meu computador tentando me distrair com jogos, ouvindo músicas, fuçando redes sociais e principalmente: Tentando tirar o ódio mortal que eu estava da minha mãe. Ela não podia ter expulsado Breno, ele era tudo na minha vida, e sem ele aqui em casa minha vida se tornava uma droga completa. Claro que eu tinha que admitir, Breno era muito marrento, rebelde em vista de algumas pessoas, mas nunca causou problemas com ninguém além de algumas discussõezinhas com a minha mãe. Mas quando eu digo que esse mundo é cheio de pessoas maldosas eu não estou exagerando. Sabe lá da onde surgiu uma fofoca que o meu Breno estava envolvido com drogas e isso chegou aos ouvidos da minha influenciável mãe que acreditou imediatamente, e o expulsou sem pestanejar. Sem ao menos se importar com os meus protestos e as negações de Breno.

Minha mãe nunca foi a melhor do mundo, nunca foi boa dona de casa, mesmo antes do meu pai morrer naquele maldito acidente de carro, eles já viviam em um casamento conturbado, cheios de discussões e louças quebradas. Para ela nada mais importava do que belas roupas e cabelos escovados, fora isso a vida estava perfeita. E os filhos? Ah os filhos, nada que comida congelada e refrigerante não resolvessem. Que saudade do meu pai! Agora então era mais complicado ainda, cada semana ela aparecia com um namorado diferente, e esse era o principal motivo de discussões entre ela e Breno. Minha mãe não parecia se importar com o sumiço de Breno, parecia que estava mais contente,passava mais tempo arrumando seus cabelos e colocando roupas que valorizassem seu belo corpo! Como isso me chateava.

Mas eu não ia desistir, uma hora Breno voltaria, ou me ligaria novamente e eu iria convencê-lo a me buscar para irmos morarmos juntos. Porém agora eu estava sozinha em casa, sem meu irmão, meu porto seguro para me dar um abraço.

Uma vez ou outra ele me ligava, sempre dizia que estava tudo bem, mas eu conheço o som da sua voz e sei que ele está passando por um momento difícil. E por mais que eu tente persuadi-lo ele desconversa. Lembro-me da sua ultima ligação.

– Ísis? – o número não era conhecido, mas reconheci sua voz imediatamente. Meu coração disparou no mesmo momento. - Ísis? Você está aí?- A tristeza estava evidente em sua voz.

– Estou- respondi tentando esconder o grande nó que se formava em minha garganta.

- Só queria saber se você está bem, tenho saudades, - nem parecia o mesmo Breno, ele estava doce demais para o meu gosto, mas eu tava com raiva demais pra ser boazinha, queria esbravejar em cima dele. E foi o que eu fiz.

- Eu que tenho que saber se você está bem! – eu berrei no telefone – Ah Breno! Se você soubesse como estou preocupada, por favor me diz como você está, você precisa de ajuda? – falei quase chorando.

- Eu estou bem, não precisa se preocupar. Eu te amo. – parecia que ele estava chorando. Isso me fez desabar, as lágrimas começaram a correr livremente na minha face, por mais que ele tentasse esconder, ele estava sofrendo e eu não podia ampará-lo, mesmo assim eu ia tentar descobrir uma maneira.

– Mas Breno?- porém para o meu desespero ele já havia desligado o telefone.

Continuei em prantos, como eu iria ajudá-lo? Se ele nem estava aqui para me ajudar! Breno era o meu irmão, mas também era o meu pai, minha mãe, meu amigo e confidente... Eu sempre fui um pouco retraída, e ele sempre esteve presente para me alegrar, e agora com ele distante minha vida havia se transformado em um mar de tristeza.

Aquela foi a última vez que Breno me ligou e mais nada, nenhuma notícia. Liguei para os seus amigos e nada. Andei pelas ruas, entrava nos seus lugares favoritos e nada, ninguém o viu, ninguém tinha notícias, mas eu não ia desistir, assim que minha gripe cessasse eu iria sair nas ruas novamente, uma hora eu iria encontrá-lo.

A Morte dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora