Prologo

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RUBEN

Quatro gigantes faziam sombra a qualquer tentativa de brilho próprio de Ruben...

Quatro nomes que o faziam carregar um fardo insuportável para qualquer outro que não tivesse uma força interna inabalável...

Abimael Guzman, o lendário avô que passara metade de sua vida encerrado em uma prisão por defender um ideal...

Elena Ipaguirre, a avó cujo nome era inspiração para poetas que louvavam seu amor, idealismo e dedicação a Guzman...

Gonzalito, o pai concebido em prol de uma causa, que conseguira um triunfo épico ao fundar, com apenas 15 anos, a República maoísta do Peru...

Elena Ipaguirre Guzman, a irmã que tinha sido a mais jovem membro do secretariado...

Desde que podia se lembrar Ruben tinha que provar seu valor.

Na academia militar onde ingressara como cadete aos sete anos de idade, uma das brincadeira favoritas de seus colegas era espancar o "filho de Gonzalito", sob a conveniente omissão de seus superiores.

À medida que crescia, a sombra de seus parentes famosos ,tornava, também, cada vez maior: como superar seu feitos?

Ao longo dos anos foi desenvolvendo um ódio secreto à sua irmã que havia roubado, no seu entendimento, a única coisa que poderia conquistar: a predileção de seu pai.

Ruben considerava anormal que uma mulher tivesse conquistado tanto destaque em um órgão responsável pela condução de um país.

Dia e noite havia aguardado silenciosamente uma oportunidade de demonstrar a inaptidão da irmã para as funções que exercia.

Inesperada e casualmente o dia tão aguardado havia chegado. De uma forma que ele jamais havia esperado.

ELENA

Qualquer habitante da República Maoísta do Peru teria dificuldade em reconhecer na mulher entregue à paixão, totalmente submissa ao seu parceiro, a figura de Elena Iparraguirre Guzmán.

Uma mente mais inquisitiva poderia se questionar que reação teria o pai da senhora em questão, ao ver a filha predileta entregue de forma tão avassaladora aos desejos carnais que tanto abominava. Ser filho de Mariatégui Gonzalo Iparraguirre Abimael Guzmán era uma honraria que apenas duas pessoas na República Maoísta do Peru desfrutavam e como tal era acompanhada de deveres, obrigações e limitações no agir. Afinal descender dos míticos Abimael Guzman e Elena Iparraguirre, líderes (mártires para muitos de seus seguidores) do Sendero Luminoso no longíquo e caótico século XX era uma dádiva.

Alheia aos questionamentos de hipotéticos observadores, Elena não era naquele momento a enérgica membro do Secretariado, considerada a primeira em um conselho formada por iguais. Em sua mente, tampouco, passava questões de Estado. Nada era mais importante, para ela naquele momento, que sua entrega total a Juanito Alvarez. Se em algum momento algum pensamento sobre o pai houvesse passado sobre sua cabeça seria apenas para questionar os métodos antinaturais adotados pelo pai em sua concepção e na do odioso meio irmão Rubén. Afinal o metodo antigo era tão bom.

Tal como o pai, Elena era fruto de uma inseminação artificial. Os mais antigos moradores da República Maoísta do Peru atribuiam a ela uma idade que variava entre os 50 e 60 anos. Era uma das poucas coisas a seu respeito que não podia se afirmar com precisão. Nada na sua compleição física, no entanto, indicava que ela teria mais que 35 anos. Aprimoramento genético, alimentação fornecida desde a mais tenra idade pelos melhores nutricionistas da UniAmazônia, aliados aos exercicios militares praticados desde quando a memória podia lhe levar eram reponsáveis pela boa forma que exibia.

O homem a quem se entregava de forma tão voraz aparentava ter entre 35 e 40 anos. Tinha os traços fortes de um descendentes das antigas tribos que habitavam a América no século XVI, antes da chegada dos europeus.

MARIÁTEGUI

O semblante plácido de Mariátegui Gonzalo Iparraguirre Abimael Guzmán não denunciava o turbilhão de emoções que se agitavam em seu íntimo.

Durante sua longa e vitoriosa jornada frente ao Sendero luminoso, Guzman nunca havia conhecido a derrota. Tal fato fez com que o sentimento que brotasse em seu peito se tornasse insuportável.

Ele que, por longos 80 anos, segurara com mãos firmes a lanterna que jogava luzes sobre as trevas do capitalismo e guiara a República Maoísta do Peru na trilha do Sendero Luminoso jamais imaginaria que sua única derrota na vida viria no plano pessoal.

Até onde podia se recordar, e sua memória era lendária, tinha sido um pai exemplar. Desnecessário dizer que um líder de uma sociedade que se pretende igualitária não pode demonstrar favoritismo nem mesmo para os próprios filhos. A despeito disso, julgava ter conseguido colocar nos filhos os mesmos princípios éticos e morais que guardara ao longo da vida.

Um filho alcaguete...

Uma filha que se entrega às paixões carnais de forma desavergonhada e temerária...

Pela primeira vez em sua vida Mariátegui se permitiu duvidar...

... De sua liderança;

... De sua causa;

... De seu papel como pai.


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