Seu coração esta seguro!

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- Vamos conte até dez.
- NAO, me diz no que isso vai me ajudar.
- Por favor, você precisa se acalmar.
Era a sexta vitima desse caso desde que me formei, a quase dois anos mulheres vem morrendo de um jeito inexplicável e surpreendente. Essa a cima que esta gritando um "NÃO" comigo é a mãe da vítima, e essa pedindo para se acalmar sou eu, é meio egoísta pedir para que alguém se acalme, quando sua filha estará a sete palmos em baixo da terra daqui algumas horas. Mas me desculpe, é o meu trabalho, tenho que estar calma e manter a calma por aqui.
- PELO AMOR DE DEUS, VOCÊS NAO VÃO FAZER NADA? NAO VÃO INVESTIGAR, OU SEI LA O QUE VOCÊS FAZEM AQUI PARA ACHAR UM ASSASSINO.
Quando eu estava na faculdade me disseram palavras e como usa-las, como investigar, como usar uma arma, como prender alguém, mas não me disseram como acalmar uma mãe que está uma pilha de nervos, isso a gente aprende na prática, a vida te da os ingredientes e você tem que aprender a cozinhar sozinho, sem se queimar e todos tem que gostar.
Sabe ver pessoas morrendo assim misteriosamente, me da uma insegurança absurda, estamos propensos a qualquer coisa, a qualquer circunstância, qualquer deslize. Aliás eu entendo um pouco da dor dessa mãe, aos 12 anos vi minha mãe se suicidar, ela nem se despediu, não me disse o que fazer depois, não me disse como agir, como cuidar de mim sozinha, ela apenas se foi, por causa de um homem, assim como uma pessoa pode ser extremante feliz, ela pode ser extremamente triste ao ponto de dar um fim em si próprio.
Eu não tive quem me ajudasse quando tive minha primeira menstruação, não tive um abraço que comportasse depois do primeiro coração partido. E eu aprendi a cozinhar com os ingredientes que a vida me deu, e pensando por um lado eu sou grata por isso, porque hoje através da águas do meu passado eu movimento novas águas nas vidas das pessoas. Minha mãe tinha 37 anos quando se suicidou, nos morávamos em uma cidadezinha pequena no norte de São Paulo, e minha vida ao meu ponto de vista hoje, era até que muito boa, eu tinha meus amigos, minha casa, um pouco de dinheiro que eu achava que era muito na época, mas com doze anos você não tem nem noção do porque você veio para o mundo, eu descobri dez anos depois o porque de eu estar aqui.
Minha mãe era o tipo de mulher que chama a atenção dos homens sabe, bonita, com cabelos compridos pretos, corpo de dar inveja a qualquer menininha de 20 anos e eu sou uma réplica quase perfeita dela, um pouco mais magra e mais pálida, pessoas chegavam a perguntar na época se éramos irmãs, e eu gostava disso, gostava de ser comparada fisicamente com a minha mãe, mas quando me diziam que eu parecia com ela no jeito de ser, eu me revoltada, não aceitava de maneira nenhuma ser parecida com ela nas minhas atitudes e fazia de tudo para que isso não acontecesse, minha mãe era um poço de tristeza, ela era falsa, não o tipo de falsa com as pessoas, falsa pra si mesmo, ela inventava uma felicidade superficial que mesmo eu com a minha pouca idade conseguia entender. Ela sempre foi uma mulher submissa, mas não do tipo de que ajuda o homem a tomar as decisões da casa, que ajuda a ele ser a pilastra da familia, era submissa ao ponto de se esconder em baixo da cama pra chorar porque seu atual marido não poderia escutar o seu choro, se ele dissesse não, seria não e ponto final, se dissesse sim, não podia discutir, mas não era uma coisa que ele impunha para ela, era uma coisa que ela mesmo se sujeitava e isso me irritava muito, as atitudes dela faziam a minha visão sobre ela mudar e eu não queria repetir essa mesma burrada entende. Que a beleza e parte boa fossem iguais mas isso não, eu não aceito.
Ela foi casada com diversos homens, antes desse e com todos foram iguais quem acabava com o casamento era ela mesmo e eu como era criança não podia falar nada, só tinha que aceitar todas as mudanças tanto no coração como de casa, mudavamos de casa como se muda de roupa, eu estava quase entendo isso como uma lei na vida dela, até o veio o último e tão "amado" padrasto, infeliz, conseguiu acabar com o que já estava acabado, mas não aguentou morreu três meses depois também, parada cardíaca, era culpa demais para um pobre cidadão, mesmo ele não sabendo que toda a parcela de culpa não era só dele, a maior parte era culpa dela mesmo, que se negava a ser feliz para o fazer feliz, tudo errado. Sabe leitor, minha família sempre foi desestruturada, sem apoio, sem comunhão, nada daquilo que vimos em filme, todo mundo almoçando em um dia ensolarado de domingo, eu não em quem começou o problema só sei que era um grande problema. Acho que isso ajudou minha mãe a tomar a atitude que ela tomou, depois de cinco anos casada com esse infeliz, cinco anos vegetando ne, porque eu não chamaria aquilo de viver, ela partiu. Eu estava na escola quando me chamaram na diretoria, quando te chamam na diretoria ou você fez merda ou aconteceu alguma merda e dessa vez eu não tinha feito não, tinha acontecido.
- Luiza estão te chamando na diretoria. - disse uma tia que foi na sala me chamar.
- Eu? Que que eu fiz?
Aí começam todos aqueles olhares pra você na sala, do tipo, "eita Luiza seu forninho caiu" e pior que tinha caído mesmo. Quando eu cheguei na diretora estavam todos com um olhar estranho como se alguém tivesse morrido, algumas pessoas até chorando, meu pai estava lá e meu irmão também.
- Aí me diz logo o que aconteceu.
- Luiza, a notícia não é boa e voce vai ter que ficar calma
É nessas horas que você tem um mini ataque cardíaco e seu corpo parece sair fora de órbita.
Fiquei em silêncio esperando a resposta.
- Sua mãe faleceu.
- O que? Vocês só podem estar brincando, eu vi ela hoje de manhã antes de vir para o colégio e ela estava bem.
- Lu, tenta entender, ela não estava bem a semanas que ela vem tendo crises de pânico, só você não percebeu, ela estava tomando remédios para se controlar, estava abatida, triste, sua mãe estava com depressão.
Então você percebe o que todo mundo já havia percebido antes, menos você, a vida te deu algo para cozinhar e você esqueceu e deixou tempo demais. Pra mim aquilo não era verdade ainda, não parecia.
Eu não chorei, não tive reação, permaneci em silêncio até chegar em casa, mantive silêncio em casa também, meu padrasto aquele miserável era o ocupado mas eu também tinha uma parcela de culpa, minha mãe apanhava todas as vezes que ele chegava bêbado e eu nunca fiz nada, minha mãe chorava todas a noites pedindo socorro e eu estava ocupada demais para ouvir, minha mãe estava mergulhada em um mãe de desilusão e eu? Ah eu, onde eu estava.
Meu desespero começou quando todos saíram para preparar o corpo e me deixaram sozinha em casa, meu padrasto estava se sentindo tão culpado que havia sumido e ninguém sabia do paradeiro dele até então.
Quando me deixaram sozinha lembro que fui para o quarto dela, peguei todas as suas roupas, coloquei na cama e deite lá com elas, sentindo o seu cheiro que ainda permanecia muito presente ali, como se ela estivesse aí, mas não estava foi aí que a minha ficha caiu e eu tive uma crise, exatamente como ela teve, depois disso eu não me lembro mais, quando eu acordei já não tinha mais roupas, eu não estava mais no quarto, já havia trocado de roupa e estava pronta para o velório, eu me senti tão incapaz , culpada, incompetente que durante dois anos.


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⏰ Última atualização: Oct 06, 2015 ⏰

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