Chapter I

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Aquela garota se chamava Alice. Alice Manfro, melhor dizendo. Seus cabelos eram castanhos e seus olhos donos de uma cor apagada e acinzentada. A menina ao seu lado, Mandy, sua melhor amiga, era dona de cabelos louros e olhos claros. Alice passava incessantemente a mão por seu pescoço - uma alergia devido à blusa vermelha do trabalho - enquanto Mandy tagarelava milhões de motivos para a garota sair e fazer novos amigos, e, quem sabe, algum namorado.

- Não - respondeu Alice, num sorriso fraco. - Você sabe que agora tudo que eu quero é estudar, estudar, ajudar minha mãe, trabalhar para ajudar minha mãe, e... estudar.

Mandy revirou os olhos ao que caminhavam pela calçada um pouco deserta. Ela poderia falar ah sim eu entendo, mas sabia que não entendia. Porém, sabia que admirava Alice.

Alice, desde que se vê por gente, tem buscado o melhor possível para ajudar sua mãe. Aliás, não fora fácil criar uma menina de 2 anos sozinha, muito menos crescer sem o auxilio do marido, ou no caso de Manfro, sem o auxilio do pai. Ainda hoje, com 19 anos, não entendia. Por que merda ele nos deixaria? questionava todas as vezes que pensava em seu pai. E, aparentemente, a mãe de Manfro não tocava no assunto. Que assim seja então.

Depois de dobrarem a esquina e Mandy tagarelar mais outros milhões de motivos para Alice parar de ser tão paranoica, ouviram passos apressados atrás de si. Mandy ficou quieta de repente e olhou para Alice, que também não disse nada. Quando finalmente decidiram - em meio a uma briga silenciosa - olhar para trás, deram de frente com um homem de estatura nem tão alta, cabelos loiros, pele pálida e um belo terno azul marinho. Não podiam ver seus olhos, pois estavam cobertos por um belo óculos escuro.

Mandy apertou o braço de Alice num impulso.

- Oh, me desculpem se assustei. Sei que não é agradável ouvir alguém correndo atrás de você ou algo assim - o homem disse, apoiando as mãos em ambos os joelhos, um pouco dobrados - Meu nome é ... Niall - fez uma pausa para pegar fôlego. - e, sabe, estava indo em direção ao cartório e vi vocês.

- Ah... oi - disse Mandy, um pouco na defensiva.

- Ah, não! Não pensem desse modo! - Niall disse, com um sorriso confortante - sou fotógrafo, de uma empresa que meio que patrocina desfiles de moda e... - fez uma pausa, apalpando o terno na parte interna - e... bem, estava a procura de novas modelos - finalizou, por fim, com mais um sorriso enquanto estendia um cartão branco, com algumas palavras e números em um prata reluzente. - E então?

- An... só um instante... - Mandy diz, intrigada. - Está nos oferecendo a oportunidade de... ser modelo? Modelo? Tipo... modelo?!

- Sim - o homem responde, ainda esticando o cartão. Antes de Alice sequer questionar, Mandy arranca o pequeno pedaço de papel como se ele pudesse fugir. Ela queria poder mentir para si mesma quando pensou ter visto um sorriso malicioso em meio ao puro de antes. - Entrem em contato. É sério. O corpo de vocês é o tipo perfeito do que preciso.

Essas foram as ultimas palavras antes que Niall se virasse e sumisse por entre as curvas do quarteirão.

- Você tá louca Mandy? - Alice questionou, libertando o braço do aperto das mãos da garota. - Você nem sequer conhece esse cara ou sei lá, ele pode ter saído de qualquer lugar.

- Pelo amor de Deus Alice, você não vê? Destino! - a loira disse empolgada ao que suas pupilas se dilataram - Quantas vezes você é abordada assim, do nada, por um cara bonitão que quer que você seja modelo? Quantas vezes Alice? Nenhuma! - disse mais empolgada, anotando o número presente no cartão na agenda telefônica. - Toma, você precisa.

- Não Mandy - Alice resmungou, recusando a pegar o tal cartão.

- Olha Alice... acho que você não está compreendendo. Você vive trabalhando e se matando de estudar pra poder ajudar sua mãe em casa ou pagar o que a bolsa da faculdade de Administração não cobre. Você sempre diz que tem hora certa pra tudo, e, quando uma merda de oportunidade aparece na droga da sua janela você fecha ela? - Mandy começou seu discurso e, mesmo que fosse um pouco irritante, Alice sabia que era verdade.

- Tá - respondeu, pegando o cartão e colocando no bolso da calça. Voltou a coçar o pescoço. Então lembrou que se não andassem logo, iriam se atrasar. - Vamos Mandy, não somos modelos ainda e temos que cumprir o horário.

O ambiente era agradável e amplo. As portas e janelas de vidro proporcionavam uma visão das ruas de Nova Iorque. E, o que Alice mais gostara naquele Cybercafé, era que era um ambiente tão calmo e silencioso. Não é como "posso trabalhar aqui por toda a minha vida" , mas o trabalho era um pouco próximo a sua casa e o salário ajudava sua mãe e a faculdade.

Alice amava sua mãe mais do que tudo.

Sempre admirara o jeito e o gênio forte da mãe, o modo como ela superou tantas coisas e ainda poderia dar um belo sorriso, daqueles que nos fazem esquecer-se dos problemas. Alice mal superaria, com toda a certeza, a perda de sua avó se não fosse sua mãe. Mas, neste caso, sua mãe também não superaria se não fossem os remédios.

Bem, a vida continua, com ou sem você. É simplesmente assim.

xXx

Já eram oito da noite e Alice só chegara tão cedo assim em casa por causa de Jessie, que morava a poucas quadras de sua casa e tinha grande afinidade com Alice.

Jessie possuía cabelos negros e curtos que combinavam perfeitamente com seus olhos castanho-mel. Ela era o tipo de pessoa com quem Alice adotara como irmã, e sentia que sempre podia se abrir com ela. Jessie era o tipo de pessoa que você sempre pode contar.

Depois de ler a mensagem de sua mãe - na qual dizia que a mesma estaria de plantão no pronto-socorro - Manfro foi até o banheiro tomar banho. Logo após, se olhou no espelho, dando uma olhada na vermelhidão de seu pescoço e algumas pequenas bolhas cobertas de sangue, porque Alice simplesmente não conseguia não coçar aquilo.

Voltou para a sala, se apoiando de leve sobre uma pequena mesa que ficava ao canto da sala, próxima a cozinha. Olhou em volta.

As paredes possuíam um tom branco-amarelado devido o tempo, o teto poderia ser considerado em ótimo estado - se fosse comparado à tintura das paredes, por exemplo. Em outro canto, encontrava-se uma mesa de jantar, não tão grande, de um mármore branco, e, ao lado, uma estante com vidraças impecáveis, onde podiam-se ver alguns objetos de porcelana - tais como bonecas e essas coisas que pessoas, por algum motivo, gostam de guardar.

Voltou seu olhar para a mesinha onde se apoiava, e, de relance, viu o quadro pendurado na parede em sua frente. Uma linda foto de sua mãe e ela, sorrindo, sentadas na grama, enquanto o vento bagunçava os grossos fios de cabelo de ambas. Enquanto sentiam a felicidade.

Neste momento, lágrimas começaram a brotar de seus olhos e escorrerem lentamente por suas bochechas pálidas.

- Um dia, você terá uma vida melhor mãe, eu prometo... - Alice dizia em meio ao choro, passando seus dedos longos e finos sobre a fotografia. - Nem... que eu tenha que me prostituir para fazer isso.

Porém, Manfro nunca pensara que o destino levaria tão a sério tais palavras.

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N/A: Olá lindas pessoas, espero que vocês tenham gostado :) dá um aloha quem é do Sp. ai. E sobre a capa, eu vou ver se arrumo uma ai, então por enquanto vai ficar sem msm.

Não posso deixar de dizer que to feliz


O Cabaré (h.s.)Onde histórias criam vida. Descubra agora