Ela disse para você não pensar em nada enquanto beijava seus lábios com cor de melancia. Esfregava o quadril com força contra o seu, desespero explícito para chegar ao fim, ou talvez como se estivesse com raiva.
Você pensava que sim.
O modo como ela franzia as sobrancelha e gemia alto, enfiando as unhas com cor do céu forte contra suas costas brancas - tornando-as tão vermelhas quanto a bandeira de seu time preferido -, te fazia ter total certeza do sentimento envolto e canalizado pela menor.
Cor de sangue. Gosto de sangue.
Era isso que você sentia ao morder os lábios com tanta força quanto a que usavam para levar uma nave ao espaço. Você sabia que ficaria com marcas por semanas, aquelas nas quais todos olhariam e pensariam que você tinha alguém.
Você sabia que tinha. Ela também.
Quente, bem quente. Fogo vívido em suas veias, perambulando por seu corpo na velocidade da luz. Você jurava que via galáxias até depois de abrir os olhos ao sentir seu corpo relaxar e, por uma fração de segundo, se enlaçar no dela do modo que tinha que ser. Era pra ser. Mais do que escrito nas estrelas, mais do que predestinado. Você jurava com todas as juntas possíveis esticadas que o que tinham era a prova viva de que as coisas foram feitas com um propósito e uma ligação antes mesmo de criarem Deus.
Mas, tão rápido quanto seu coração batia, ela recolhia as roupas espalhadas no chão e ia embora sem olhar para trás. Não forçava nenhuma porta e nem fazia barulho, muito menos trazia o carro. Voltava sempre a pé, com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa.
E você se perguntava, recuperando o ar e triste ao olhar para a imagem sumir ao virar a rua, se um dia conseguiria prender uma tempestade dentro de si.
-/-/-
Você a viu a primeira vez dois anos antes. Ela beirava aos quinze e já tinha olhos tão nebulosos quanto os cigarros que você fumava. Ela mantinha os braços abertos e se equilibrava num muro que dividia a praia da rua, os cabelos escuros voavam junto com o vento e o vestido parecia prestes a escapulir do corpo.
"Você vai cair se continuar curvada assim." As palavras saíram de sua boca tão do nada que você se surpreendeu.
Não era do tipo corajosa. Não falava com estranhos, não iniciava uma conversa se não fosse de extrema importância.
Ela olhou para você por um tempo em silêncio, parada do jeito que estava antes. Até que sorriu. E tal sorriso fora tão brilhante que cegou toda a beleza do restante da paisagem.
"Que bom que você está aqui para me impedir, então."
Você olhou para o relógio no pulso quando a outra voltou a andar - agora com a postura reta e digna de circo -, vendo se tinha tempo o suficiente para gastar com a desconhecida, ou se teria que correr para casa antes que sua mãe desse falta.
"Se você ficar olhando para baixo não irá ver o que o céu tem para mostrar, Salvadora."
"Estava vendo as horas."
"Tem coisa mais bonita para se ver do que isso. Tempo bom é aquele que não se vê, que passa direto e você só percebe que passou quando está escurecendo." Ela pulou do muro, caindo à passos de você. Seus olhos arregalaram-se ao ver que a menina era ainda mais bonita de perto, e sentiu-se estranhamente coagida pelo modo como essa te olhava.
"Camila."
"O que?"
"Meu nome." Explicou, sorrindo levemente. "Ou você pensou que eu não tivesse um?"
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Sparkle's Theory | camren oneshot
FanfictionVocê se perguntava, recuperando o ar e triste ao olhar para a imagem sumir ao virar a rua, se um dia conseguiria prender uma tempestade dentro de si.