Muke Clemmings [Oneshot]

▫ fix this broken pieces ▫

Michael encarava seu reflexo no espelho de seu pequeno quarto. Ele estava se analisando. Isso soa quase como um ritual para alguém como ele, alguém que apenas não se sente confortável em seu próprio corpo, como se algo ali não estivesse certo.
Michael tocava seu rosto pálido em relutância, seus olhos cristalinos estavam meio desfocados essa manhã. Ele descia os dedos de suas bochechas ao queixo, seu rosto cheirava a loção pós barba e ele contraiu o cenho em repulsa.

"Eu sou tão horrível... "

Michael puxou os cabelos afundando em sua cama, cobrindo os olhos já marejados com as mãos. Ele se sentia como merda. Nada conseguia o deixar mais pra baixo ultimamente, nem mesmo quando Drew, o maior bullie da escola, o jogava contra os armários toda vez que cruzava com ele nos corredores, ou quando Chad o via chegando no refeitório e anunciava à todos que "a bicha colorida chegou".

Acredite.

Nada daquilo doía tanto, nada daquilo sequer se igualava ao sentimento que Michael tinha cada vez que mirava seu reflexo. Aquilo não era apenas mais uma luta diária que ele enfrentava, aquilo era a realidade. Uma realidade que ele não podia mudar.

- Michael! Vai se preparar pra escola senão vai perder o ônibus de novo! - Karen gritava do andar debaixo

- Estou indo mãe! - Michael respondeu antes de se preparar para seguir para aquele inferno.

Michael plugou os fones de ouvido em seu celular, pondo, - apropriadamente, pensou - I'm Not Okay do My Chemical Romance no último volume.
Em alguns poucos minutos, Michael era composto de calça jeans skiny, camisa do Metallica, all stars pretos e um corte de cabelo emo recém pintados de lilás.
Ele sabia que seria ainda pior agora que adotou esse tom, mas ele não podia fazer nada contra toda a zoação dos babacas da escola. Ele costumava dizer que não ligava. Adotar uma postura firme e segurar as lágrimas enquanto fugia dali em passos largos parecia ser a melhor opção. Ele queria apenas que isso fosse o suficiente para que ele passasse do centro das atenções à um mero nada.

Michael desceu as escadas às pressas, dando uma mordiscada na maçã que Karen lhe jogara da cozinha.

- Tchau filho, preste atenção nas aulas ok? - Karen disse rapidamente enquanto prendia seus cabelos alourados em um coque firme e colocava seu jaleco branco.

- Ok mãe, salve muitas vidas hoje - Michael deu uma piscadela à Karen, que trabalha como oncologista em um dos mais respeitados centros médicos da Austrália.

- O câncer não tem cura, meu amor. Mas eu faço o que posso - Karen bagunçou a franja de Michael, que revirou os olhos com o ato.

Enquanto seguiam caminhos opostos pela calçada, Michael pensou ter ouvido Karen murmurar um "eu te amo" que ele interpretou mais como um "Pode deixar, eu salvarei vidas. Eu apenas queria poder salvar a sua também".
Ele sabia que isso era meio que impossível. O que o deixava triste, mas era inevitável não se tornar um fardo para sua mãe ou pra qualquer um.

Michael morava há alguns poucos minutos de sua escola. Ele murmurava a letra de Stairway to heaven ao passar por alguma rua qualquer quando Michael resolveu cortar caminho e passar próximo ao playground, assim, poderia notar a interação total entre os seres mais maravilhosos da Terra, coisa que não fazia há muito tempo.

Michael estava distraído, e, ao analisar aqueles pequenos projetos de gente se divertindo, sem a menor preocupação ou responsabilidade pesando em suas costas, ele teve sua mente inundada pelas mais diversas lembranças de si próprio. Lembranças do próprio Michael sentado naqueles mesmos balanços, descendo pelo mesmo escorrega, jogando aqueles mesmos jogos que parecem nunca envelhecer.
Na verdade, ele se lembrou que tudo começou em um lugar exatamente como aquele ali, quando Michael viu seu melhor amigo Calum se beijando com uma menina de maria chiquinhas no parquinho do jardim de infância. Ao perceber os risinhos que sua professora soltava, Michael se virou para repetir o mesmo com um menino aleatório ao seu lado e foi repreendido pela mesma. Isso aconteceu mais algumas vezes nos anos seguintes, e ele soube que havia alguma coisa errada. Ele apenas não conseguia decifrar o quê.