Dica: leia esse e todos os outros capítulos ouvindo "Over the Garden Wall - Theme Song".Uma luz forte vinha do corredor da mansão. Como chegava até ali? Eu não sabia. Apenas sabia que o mais seguro de se fazer naquela casa durante a noite era ficar quieta, não importando o medo que sentisse. Naquela época eu não sabia, mas algo estava prestes a acontecer. Algo incrível, trágico e macabro. E foi assim que aconteceu:
A menina decidiu ficar calada, seguir seus instintos e não mover um músculo.
Um barulho percorreu todo o quarto, desde a porta até a cama. Anna preferiu ter ido com a mãe para a festa esnobe. Lá, não se preocuparia com monstros, espíritos ou feras.
Ao lado dela, um livro se abriu. Não havia ventos. Nenhum modo de aquilo acontecer. Apenas os mesmos medos de quando era pequena: coisas se movendo sozinhas.
Aos onze anos, ela já percebia que algo acontecia lá. Por mais que sempre estivesse assustada, ela até gostava. Se sentia importante e interessante o suficiente para que fantasmas a asombrassem. Eram sua companhia. Enquanto ninguém conseguia entendê-la, eles a entendiam.
Então, aconteceu.
A janela abriu. Ventos confusos entraram pelo quarto. Os cabelos negros de Thalia se bagunçaram. O livro se levantou, e começou a seguir, flutuando, para o corredor.
A luz se tornou mais forte. Uma parte dentro dela dizia: siga seu coração. Siga-me. A outra parte dizia: siga sua inteligência. Fique.
Inteligência, pensou. Eu escolho inteligência.
No entanto, ela se levantou. Não sabia o porquê. Seu corpo fez isso. Sua mente, juntamente com o coração, estavam confusos. Pela primeira vez concordavam: aquilo era suicídio.
Suas mãos foram habilidosas e ágeis. Annathalia pegou uma mochila, colocou lá dentro uma garrafa vazia, roupas que não eram dela, e sim de uma amiga estranha que gostava de vestimentas como capas, cartolas e botas de couro que pareciam ter saído de um conto de fadas. Também colocou lá dentro alguns livros que não teve tempo de identificar, uma faca de açougueiro que com certeza não estava ali antes e um cordão.
Em seguida, seu corpo a levou até a porta. Um frio percorreu minha, quer dizer, a espinha de Annathalia. Desculpe, crianças.
O corredor não estava mais iluminado. Apenas um pontinho branco e dourado dentro de uma sala. Dentro da biblioteca.
Para quem estava com medo, ela conseguia esconder.
Quando chegou perto, o livro veio até Annathalia e pousou em suas mãos. Ela conseguiu sair da dominação de seu corpo. Nada a controlava mais. Porém, agora não iria recuar. Se estava ali, então isso significava que era para acontecer.
Ela olhou o livro com mais atenção. Na capa feita de couro, em francês, estava escrito Fille de la Bête, ou Filha da Fera.
A menina abriu o livro logo na primeira página. Havia algo parecido com um poema, mas sem nenhuma das regras que deveriam ser seguidas na hora de escrevê-lo:Quem pode dizer se atrás da janela de vidro há um mundo oculto? Bestas caminham pela terra amanhecida do horror. Cães caçam pela floresta. Segredos escondidos aparecem. Livros são conquistas há muito perdidas. Ecos e sussurros assustam bebês. A filha do monstro e o filho do lobo caminhando juntos. Seria esse o fim? Quem pode dizer se depois do amanhecer ainda estaremos aqui? O medo toma conta e a sede é de vingança. Os dias se passam e a dor nos alcança.
Ao acabar de ler, Anna sussurrou em seu pensamento: que coisa é essa?
Como que em resposta, o livro saiu de suas mãos, pousou na mesa velha de madeira e passou por várias páginas em branco, até parar em uma com o número oito escrito em dourado.
Então, uma luz pálida e azulada saiu de dentro do oito. Por um momento, ela soube o que fazer. Annathalia entrou. Entrou em um lugar desconhecido. Percebeu que lá era escuro. Haviam árvores de aparência melancólica. Ela ouviu alguém caminhando em sua direção. Depois, levou um coice no rosto. E então tudo se transformou em escuridão.
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Fille de la Bête
FantasySou das que pensam que a ciência tem uma grande beleza. Um cientista em seu laboratório não é só um técnico: é também uma criança colocada ante fenômenos naturais que o impressionam como contos de fadas. ...