Sexto Capítulo

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Apesar de ser um dia relativamente quente na pequena cidade de Westcliffe, Annabelle tremia. Ela queria que não estivesse tremendo, nem que suas mãos estivessem suando. Principalmente porque estava de mãos dadas com Howl, parada em frente ao portão de sua casa, então seu nervosismo estava pra lá de óbvio. Apesar de ter sido menos de duas semanas que saíra de casa para sua viagem de comemoração à promoção no emprego, parecia que alguns séculos haviam se passado. Sentia que se pisasse dentro daquela casa que vivera a vida inteira, seus próprios pais não a reconheceriam.

O nervosismo era, obviamente, tudo culpa daquela maldita aliança que parecia pesar dez quilos em seu dedo anelar esquerdo e do homem que enlaçava seus dedos compridos aos dela. Desde que deixaram a cozinha de Loren e apressadamente se arrumaram para ir até a casa dos pais de Annabelle, a situação parecia que tinha piorado entre os dois. Annabelle sabia que ele a tinha beijado pra que ela se sentisse mais confortável e eles conseguissem agir melhor um com o outro. Sabia mesmo? Parte dela sentia um medo profundo de que ele só estivesse fazendo aquilo para que ela se apaixonasse por ele. É claro que se ela estivesse apaixonada por ele, as coisas iriam fluir bem melhor entre eles, mas ele estava acostumado a ter milhares de garotas aos seus pés e seria tão fácil descartar-se dela depois. Até porque estava nos planos que ela fosse descartada. Por isso, não tinha certeza se gostaria de se apaixonar por Howl e preferiria oferecer alguma resistência ao fato.

Porém, querendo ou não, gostando ou não, era isso que teria que fingir para as pessoas que a criaram a vida inteira. Respirou fundo e expirou lentamente.

- Tudo bem? – ouviu a voz de Howl e voltou seu rosto para ele, imediatamente corando. Por quê? Por que ele tinha que beijá-la? Certo, ela estava pensando nos lábios dele e tudo mais na hora, mas não esperava que ele realmente fosse fazer aquilo. Seria muito difícil não se apaixonar por ele se ele continuasse fazendo coisas como aquela inesperadamente.

- S-sim. – ela odiou-se por ter gaguejado. Respirou fundo mais uma vez e tentou de novo. – Sim. Acho que podemos ir.

- Certo. Vou dar meu melhor. – ele lhe lançou o sorriso gentil e ela concordou várias vezes com a cabeça. Soltou sua mão da dele, porque o portão era pequeno e apenas uma pessoa por vez passava por ele, então ela foi na frente.

Assim que o portão rangeu o seu costumeiro rangido, a porta escancarou-se, assustando o casal. Uma mulher típica do interior estadunidense saiu por ela, imediatamente pulando na direção de Annabelle e abraçando-a.

- Belle! Oh, minha pequena Belle! Eu estava tão preocupada! Como você pode fazer uma ligação daquelas e então demorar tudo isso para aparecer! – Amelie Gardens choramingava nos ombros da filha. – Eu sabia que aquela viagem seria uma loucura, mas já que Maddy e Lory estavam indo é claro que eu não podia negar... oh, que péssima mãe que eu sou! E só de imaginar todas as coisas horríveis pelas quais você deve ter passado! Oh, minha pequena Belle! – o escândalo provavelmente continuaria por algumas horas, se Annabelle não tivesse afastado a mãe, um pouco rudemente. Sentia vergonha por sua mãe estar agindo daquele jeito na frente de Howl, mas era impossível evitar. Amelie sempre fora extremamente protetora com sua pequena Belle dos olhos de mel, sua única filha.

- Mãe, menos por favor. Eu estou inteira. Estou bem. Nada daquela lista de trezentos e setenta e sete itens que você enumerou antes da viagem aconteceu. – o que, ironicamente, era verdade. Amelie Gardens, em suas mil e uma recomendações de cuidado e juízo à filha, nunca nem pensou na possibilidade de ela acabar bêbada e casada em Las Vegas. Ela advertiu sobre as bebidas, porém. Não que fizesse a situação melhor. – O que eu tenho pra te contar é totalmente diferente.

- Ah, é? – a Sra. Gardens sorriu brandamente, sem nem precisar limpar suas lágrimas de crocodilo, e acariciou uma mecha do cabelo da filha. – Eu sabia que as duas iam cuidar bem de você. Elas são sempre tão adoráveis e confiáveis, que bom que foi uma viagem ótima, estou louca para ouvir tudo o que vocês fizeram. Eu senti tanta saudade. Foi tudo bem ent... – finalmente o falatório interrompeu-se. Annabelle percebeu por quê. Amelie, por incrível que pareça, demorara todo esse tempo para perceber Howl, parado há alguns passos da garota. Seu rosto demonstrava que estava um pouco surpreso e talvez um pouco desconfortável, mas ele continuava parecendo asseado e educado. – Ora. O senhor precisa de alguma coisa? Desculpe, minha filha acabou de voltar de viagem e estou tão empolgada que acabei nem o notando. O que precisa, filho? Que eu assine alguma coisa para a igreja?

Uma Noite em VegasOnde histórias criam vida. Descubra agora