Relato- Os Anjos do Apocalipse.

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—Você continua fazendo isso?

—Mãe, infelizmente eu não tenho escolha, a senhora não entende...

—Eu entendo que ninguém é obrigado a fazer o que não quer.

—Me desculpe...

—Boa noite Kevin.

Assim que abriu os olhos caminhou até a beirada do terraço onde estava. Seu sincronismo estava baixo. Tinha discutido com a mãe novamente, ela não aceitava a vida que o filho levava, não podia cobrar isso dela.

Contemplou a mesma visão de sempre, prédios e mais prédios. A Lamborghini ainda estava lá, pendurada no prédio vizinho, com metade do capô para fora, a uns bons quinze metros de altura. Desde que foi designado para aquele distrito o carro esportivo estava ali. Nunca se perguntou como diabos ele fora parar lá. Depois que soube de um antigo navio cargueiro que navegava de ponta cabeça no céu não quis mais perder tempo — e sanidade— para tentar entender a REDE. Preferia manter seu pensamento pragmático, descobrir como aquele carro chegou ali em cima não faria o mesmo descer.

O Distrito 224— ou Distrito Lamborghini como seus amigos de equipe chamavam — , era uma área com poucos dormentes, vez ou outra, alguns Devoradores nível 1 fugindo de uma reciclagem iam parar lá, em outras palavras, um lugar seguro, mas não existe segurança na REDE, a segurança é só uma ilusão.

Kevin sabia muito bem disso. Enquanto olhava fixamente para a imensidão à sua frente se perdeu em seus devaneios. Era impossível não lembrar dele. Já haviam se passado alguns meses, mas ainda sentia a perda. Mesmo que não possuíssem um link, tinha algo que unia os dois, uma amizade sem igual.

— Chegou cedo. A voz o despertou, causando um leve susto e uma pequena queda em seu sincronismo que logo foi restaurado. 

— Peguei no sono rápido, onde estão os outros?   —  Perguntou, em sua interface o rosto de Lucas apareceu.

 — Daqui a pouco estão chegando, eu acho... Como você está?

 — Bem, soube do novo membro, o que descobriu?

 — Que é nova, saiu do treinamento há pouco tempo, é uma técnica em USV.

 — Só descobriu isso?

  — Sim.

Kevin suspirou, às vezes Lucas era um péssimo operador.

 — E aí grande K!

Virou-se e pode ver Cauê se aproximando. O especialista em armamentos era alto e magro. Com uma linha bege seguindo pelo USV.

 — Oi.

 — O Kevin e suas poucas palavras...Giovana chegará também. Antes de dar três passos já foi agarrada por Cauê que beijava seu rosto incessantemente.

 — Amor, calma... A garota de cabelos loiros tentava se desvencilhar sem sucesso dos braços do namorado que era bem mais alto que ela.

 — Estão atrasados... Kevin falou, mas foi ignorado.

 — Ela acabou de descer.

A voz de Lucas foi serena como sempre. Ouviu o clássico som que lembrava um chiado com folhas secas e viu o corpo da novata tomando forma.

Ela abriu os olhos negros como a noite e sorriu para os três. Sua pele era de uma tonalidade que lembrava chocolate. E seu sorriso era convidativo e ao mesmo tempo misterioso. Seu cabelo cacheado estava penteado de maneira que o lado direito ficasse mais volumoso que o esquerdo.

Relato de uma noite na REDE.Onde histórias criam vida. Descubra agora