Capítulo 1

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Engoli em seco e senti meu estômago revirar. Era tão engraçado que por tanto tempo eu tenha esperado por isso, e no momento eu estava com tanto medo. Talvez o fato de haver uma pequena multidão ao meu redor ajudasse um pouco com a insegurança.

Desde sempre eu vinha contando nos dedos os anos que eu teria que suportar até terminar a escola e ir para a faculdade. E finalmente a hora tinha chegado. O meu futuro estava escrito na carta em minhas mãos, que eu ainda não tinha tido coragem de abrir.

Eu sempre tinha me sentido tão estranha e fora de órbita nessa cidade. Sempre me senti deslocada no espaço, como se eu nunca tivesse feito parte disso. E sempre tive a certeza de que quando eu saísse daqui, eu iria me encontrar, ou encontrar o que quer que fosse que eu estivesse procurando.

Minha mão tremia tanto que nem consegui abrir o envelope direito. Todos ao meu redor estavam cheios de expectativas. Meus pais, meus irmãos e minhas amigas. Não podia decepcioná-los e, principalmente, não podia decepcionar a mim mesma.

Tirei a carta do envelope. É agora ou nunca, pensei. Meu sonho estava nesse papelzinho. Ou melhor, mais do que um sonho: uma necessidade. Eu tinha que ter conseguido.

Sem mais demora, abri a carta e meus olhos correram para o lugar onde estava escrito a única coisa que me importava. Meu sangue gelou.

Fiquei paralisada ao ver a resposta.

- Ai meu Deus! – alguém falou, mas não soube quem era – O que foi? Mostra logo!

Não mexi nenhum músculo, apenas continuei parada, com os olhos arregalados sobre a carta.

Eu consegui. Foi o que eu pensei antes de alguém, provavelmente a Débora, arrancar a carta da minha mão e lê por si mesma.

- Ah!!! – ela deu um berro de alegria e jogou os braços ao redor do meu pescoço – Você conseguiu! Você passou!

E de repente todos estavam gritando e me abraçando também. Os sorrisos felizes e orgulhosos no rosto dos meus pais e dos meus irmãos não tinham preço.

- Vamos para a faculdade juntas! – Bruna gritaram e abraçou a mim e a Débora – Eu não acredito!

- Nós temos que comemorar – minha irmã disse – Mãe, deveríamos fazer um jantar especial hoje.

- Com certeza – mamãe disse – Estou indo ao mercado agora mesmo.

- Eu quero ir também – meu irmãozinho mais novo grudou nas pernas dela.

- Tudo bem, garotinho. Mas nada de ficar pedindo tudo.

Depois que eles saíram, subi com as meninas até o meu quarto.

- Eu nem acredito! – eu disse, me jogando na cama junto com as garotas. A respiração ofegante – Parece surreal, nem acredito que finalmente está acontecendo.

- Você conseguiu o que queria – Bruna disse – Finalmente vai sair desse buraco.

- Shhhhhhh! – eu a repreendi – Não fala alto, meu pai pode ouvir. Você sabe que eu não falo disso perto dele e da mamãe. Eles não iam gostar nada se soubessem que eu quero é ir embora.

- Amorzinho, eles não podem te culpar – Débora disse – Até eu odeio isso aqui, é o fim do mundo.

- Não acho tão ruim assim – Bruna disse.

- Deve ser porque você tem dinheiro – Débora disse.

- Você não fica muito para trás, não é, Débora?! – Bruna retrucou - Sua mãe é podre de rica.

Aurora SilenciosaOnde histórias criam vida. Descubra agora