Capítulo 2

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Margot tinha um medo estridente de água. Tinha pavor só de pensar em estar em um barco, ou de ver alguma foto tirada de baixo do mar.

Já disse antes, quando seu antigo namorado a jogou dentro da piscina. Ela travou na hora. Congelou. Não conseguiu se mexer, e Joe, ficou rindo na beira da piscina.

Quando ela tomou posse de seu corpo novamente, conseguiu agarrar a borda de mármore, mas ainda não conseguia respirar. Foi sua prima Emelly - que no caso tem doze anos - que teve que tirá-la da piscina.

Ela ficou roxa por alguns minutos antes de finalmente retornar à consciência.

Me lembro exatamente de seus passos. Levantou, olhou de relance para a água, tremendo. Socou-lhe a fuça de seu namorado e claro, terminou com ele.

Margot estava usando sua blusa de ondinhas. Era azul, bordada, cheia de desenhos arredondados perseguindo toda as suas curvas. E, ah, como ela ficava linda com essa blusa.

Ela caminhava pelos corredores da escola sozinha, como sempre. Escutava Major Lazer em seus fones do último volume, e fazia coreografias quando ninguém estava olhando.
Ninguém, exceto eu - que particularmente posso ser chamado de ninguém, já que para todo mundo, eu realmente sou um ninguém.

Nossos olhares se cruzaram, e ela mandou uma piscadela. Mas fingiu que não havia feito nada e começou a dançar pelos corredores novamente.

O fusca vermelho conversível de Margot passou por mim hoje, como passou por mim ontem, e também anteontem.

Escutava Highway to Hell, como sempre. Cantava alto com sua voz fina e afinada. Margot tinha a mania de mudar o ritmo da música.

Como, por exemplo, se a música tem afinação na primeira palavra, Margot estendia e terminava com uma ópera.
E ela fazia isso como ninguém.

Jogo minha mochila no quarto e posiciono-me perto da janela, observando a mesma ruiva dançar ao som de I'm Outta Time, música típica favorita de Margot do Oasis.

Era uma banda legal, e por mais que seja uma música extremamente depressiva, Margot pulava de um lado pro outro com as mãos pro ar.

E em poucos metros de mim, pude ouvir sua voz, dançando com as palavras.

-Oooout to sea...
Is the only place, i honestlyyyyy!
Can get myself some peeeace of miiiiiind!
You know is getting haaard to flyy! - sua voz percorria todo o ambiente, hipnotizando tudo e todos à sua volta. Inclusive eu.

-Iiiiiiif im to faaal...
Would you be there to aplause..
Or would you hiide behind them aaall?

Então, quando estava terminando o refrão, ela olhou para mim. E sabe o que ela fez? Absolutamente nada. Continuou com as mãos pro alto, cantando a música triste, apenas olhando para mim.

E eu continuei olhando ela. Olhando seus olhos verdes brilhantes, lacrimejantes por conta da música.

Seu sorriso enfraquecido enquanto soltava as palavras depressivas.
Mas ela olhava para mim, e eu olhava para ela. E isso sustentava tudo.

Quando a música foi se acabando, ela abriu a janela de vidro, e lentamente pulou para fora. Caminhou entre os tijolos e sentou-se com as pernas cruzadas, olhando para mim, cantando os últimos versos da música.

A Fases de Margot WhiteOnde histórias criam vida. Descubra agora