MEU AVATAR SE MATERIALIZOU NA FRENTE DE MEU ARMÁRIO, NO SEGUNDO ANDAR do colégioque eu frequentava - exatamente no mesmo ponto em que eu estava quando tinha feito o
logoff na noite anterior.
Olhei para os dois lados do corredor. O ambiente em que eu estava parecia quase real.
Tudo dentro do OASIS era tridimensional, tudo muito bonito. A menos que você mantivesse
o foco e parasse para analisar o ambiente que o cercava com mais atenção, era fácil
esquecer que tudo o que os olhos alcançavam tinha sido criado por computador. E isso
usando o console do OASIS de baixa qualidade da escola. Eu já tinha ouvido falar que no
acesso à simulação com equipamentos de última geração era quase impossível distinguir o
OASIS da realidade.
Toquei a porta de meu armário, que se abriu com um leve clique metálico. O interior tinha
pouca decoração. Uma foto da princesa Leia empunhando uma pistola blaster. Uma foto dos
membros do Monty Python com suas fantasias de Santo Graal. A capa da revista Time com
James Halliday. Estiquei o braço e dei um tapinha na pilha de livros na prateleira de cima do
armário e eles desapareceram, e então voltaram a aparecer na relação de objetos de meu
avatar.
Além dos livros, meu avatar tinha apenas alguns poucos pertences: uma lanterna, uma
espada de ferro, um pequeno escudo de bronze e uma armadura de retalhos de couro.
Aqueles itens não eram mágicos nem de boa qualidade, mas eram o melhor que eu podia
comprar. Os objetos no OASIS tinham o mesmo valor das coisas no mundo real (às vezes
mais), mas não podiam ser pagos com tíquetes-alimentação. O crédito OASIS era a moeda
dali, que, naqueles tempos sombrios, era também uma das moedas mais estáveis do mundo,
valendo mais que o dólar, a libra, o euro ou o iene.
Havia um pequeno espelho do lado de dentro da porta do armário, e olhei para meu eu
virtual ao fechá-la. Eu havia criado o rosto e o corpo de meu avatar bem semelhantes aos
meus. O avatar tinha apenas o nariz um pouco menor que o meu e era mais alto. E mais
magro. E mais musculoso. E não tinha as espinhas típicas de um adolescente. Mas, tirando
esses detalhes, nós dois éramos mais ou menos idênticos. A regra a respeito das roupas na
escola era muito rígida e exigia que os avatares de todos os alunos fossem de seres humanos,
e do mesmo sexo e idade do estudante. Não permitiam avatares de unicórnios demônios
hermafroditas gigantes de duas cabeças. Pelo menos não dentro da escola.
O nome do avatar podia ser escolhido livremente, desde que fosse único. Ou seja, era
preciso escolher um nome que ainda não tivesse sido escolhido por mais ninguém. O nome
de seu avatar era também seu endereço de e-mail e identidade no chat, por isso era