Capítulo 03

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— Era um acampamento improvisado. Eles foram pegos de surpresa, porra — Daiki mostrou sua experiência em ler rastros. Apesar da confusão de marcas no chão, era bem fácil de montar a história do que acontecera ali.

Tudo estava destruído, devastado, saqueado.

Contaram cinco corpos no total. Três rapazes mais ou menos da mesma idade de Daiki e Taiga, cujas mortes foram rápidas e misericordiosas. Cada um deles tinha um tiro certeiro na cabeça, execução a sangue frio.

Já as outras duas pessoas...

Daiki aproximou-se do rapaz. Abaixou-se ao lado do corpo e pegou um par de óculos caído perto, todo retorcido e com respingos de sangue seco. Provavelmente tinha ficado assim durante a surra que o pobre infeliz levou antes de ser morto.

Taiga não respondeu. Estava usando o blusão que tirara de um dos rapazes para cobrir a única garota. Concentrava o olhar nos cabelos curtos e castanhos, para evitar olhar seu judiado corpo nu. Quanto sofrimento teria encontrado antes de ser assassinada tão covardemente?

— Oe — Daiki exclamou — Nada disso é culpa nossa.

— Eu sei — o rapaz respondeu triste.

— Animais fizeram isso — Daiki falou com firmeza. Taiga apenas balançou a cabeça. Não tinham nenhuma garantia de que a milícia com quem brigaram causara aquela tragédia. Mas tudo apontava naquela direção.

Irritaram os membros da gangue e foram jurados de vingança. Talvez os bandidos estivessem com raiva o bastante para descontar nos primeiros inocentes que lhe cruzaram o caminho. Parecia uma caravana das que migravam em busca de uma vida melhor. Fácil deduzir que iam para Tokyo.

— Isso é só... terrível. Sinto muito por eles. Se a gente tivesse enfrentado aqueles caras...

— Nem isso garantiria a segurança dessas pessoas, Taiga. Nós poderíamos ter vencido os três, seriamos caçados do mesmo jeito pelo resto do bando. E eles estariam no caminho. Não controlamos o destino de todo mundo.

O ruivo balançou a cabeça, desolado. Estava acostumado com a lógica racional e fria de Daiki, mas não conseguia pensar como ele. Ou agir como ele. Sentia por aquelas vidas perdidas, não conseguia evitar ser diferente.

— Quer voltar para Tokyo e se vingar? — Daiki sugeriu. A oferta era tenebrosa, bem o sabia. Contudo faria qualquer coisa por aquele cara. Até mesmo se jogar sem hesitar em um abismo.

Taiga negou. Era um cabeça-quente e impulsivo, agia no calor do momento. Mas planejar uma vingança desse jeito não fazia parte de seu temperamento. Achava que violência só gerava violência, saíram as pressas de Tokyo. Não por covardia ou medo, apenas para evitar o olho-por-olho.

— Vingança não resolve porra nenhuma — ele falou convicto — Mas vamos dar um enterro decente a essas pessoas.

— Tudo bem — Daiki estava de acordo com o pedido. Não era tão indiferente assim ao sofrimento alheio para virar as costas e deixar aquelas pessoas apodrecerem ao relento enquanto abutres devoram-lhe o corpo lentamente. Era capaz de mostrar piedade pela miséria humana.

Apesar da decisão, não encontraram pá ou qualquer outro instrumento que pudesse ser usado para cavar a terra árida. A única coisa que podiam fazer era cobri-los com um túmulo de pedras. Melhor do que nada.

E foi o que fizeram. Baldearam não apenas pedras, mas pedaços de concreto e o que ajudasse a improvisar o lugar que serviria de descanso para os cinco viajantes desconhecidos. Anoitecia quando deram o trabalho por terminado. E foi justamente nesse instante que Taiga arrepiou-se de um jeito inusitado.

Survivors (AoKaga)Onde histórias criam vida. Descubra agora