Coisas estranhas acontecem com pessoas normais

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1994
A garotinha acordou, rolou por toda a cama, até que parou e olhou o teto, o quarto estava inundado de escuridão, exceto pelo pequeno feixe de luz que vinha da janela que dava para a rua.
Um trovão foi ouvido e logo o barulho de chuva já se tornava um tanto irritante, a garota começou a se sentir sonolenta, então se sentou.
" Volte a dormir", uma voz alertou.
A garota olhou pelo quarto, porém estava escuro de mais. " Quem falou isso?"
"Alguém que quer ajudar", a voz soou após alguns minutos.
" Por que preciso de ajuda?", a garota foi até o canto da cama e levantou.
" Você corre perigo, garota tola" a voz foi ouvida com um ton de preocupação.
" Por que eu correria perigo?", a garota já se perguntava se não estava tendo alucinações, afinal, ela estava conversando com uma voz que vinha de lugar nenhum.
" Você é especial, volte a dormir, você não pode ficar acordada, é três da madrugada, a hora em que os demônios ficam mais fortes", a voz agora era de alguém preucupando. A garota olhou o relogio e marcava exatamente 3:30.
" Me diga seu nome", ela pediu.
" Eu sou Santanico, um espirito-demonio inquieto, agora volte a dormir Darryl, você precisa se proteger". E depois disso a garota não ouviu mais nada, ela andou até a janela e olhou a rua, no exato momento em que ela olhou para o prédio da frente, ela viu um homem parado a encarando, com um sorriso psicopata nos labios e sangue nas mãos, rapidamente fechou a janela, voltou para a cama se cobrindo da cabeça aos pés, e agarrada ao seu pequeno urso voltou a dormir.

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Dias atuais
- DARRYL, LEVANTA JA - será que era possível um ser humano acordar como um?
- DA PRA PARA DE GRITAR - essa mulher era impossível - QUEM FAZ ESSA GRITARIA AS... AS - olhei o relogio, arregalei os olhos - AS 7 DA MANHA - gritei mais alto do que devia.
- DARRYL RICHARDSON - ela parou de falar - AGORA!!!
Essa mulher ainda vais explodir meu ouvido. Me levantei e fui até o banheiro, parei na frente do espelho e me encarei, a pele pálida, em todos os meus 16 anos de vida eu me perguntei como podia ser tão pálida, minha mãe e meu país eram morenos, então eu também me perguntava por que era ruiva, tantas bizarrices genéticas em uma só pessoa, a única coisa que era igual ao do meus país eram os olhos absurdamente pretos. Tirei a roupa e entrei no box, liguei o chuveiro e me sentei, deixando a água quente entrar em contato com minha pele fria, coisa estranha pois fiquei menos de um minuto longe de algo quente. Me levantei e passei o sabonete pelo corpo todo, me enxaguei e sai do banho, fui pró quarto e logo abri as portas do roupeiro, vesti a primeira peça de roupa que vi. Fui pra sala e lá estava a mulher que gritava todos os dias da semana no mesmo horário.
- Rápido garota você vais se atrasar para a aula.
Assenti, fui até a cozinha e peguei um hambúrguer congelado, pus no microondas e fui atrás de um refrigerante, servi em um copo de plástico e voltei correndo no quarto para pegar a mochila.
Voltei para a cozinha peguei o " café da manhã" e fui pra escola, mas antes ouvi mamãe dizer um "toma cuidado".
Quando cheguei na escola estava só com o refri na mão, me sentei no muro que tinha do lado da entrada da escola e esperei Siena aparecer.
Peguei o celular e comecei a jogar o jogo irritante do quadradinho que pula de acordo com a música. De repente sinto alguém tapar meus olhos.
- Adivinha quem é - ouvi a voz feminina e abri um pequeno sorriso.
- Minha mãe? - falei debochada.
- Não, mas eu acho que algum dia vo acaba ocupando esse cargo - Siena se sentou do meu lado, os cabelos loiros avermelhados presos em um rabo de cavalo - você viu os garotos novos?
Bloqueei o celular e olhei pra ela.
- Não - ia parar de falar mas rapidamente acrescentei - e não importa.
- Darryl, você tem que sair dessa - ela me olhou um pouco triste - não é por que o Michael fez aquilo que outros vão fazer.
Olhei para o chão, a chuva tinha feito um estrago, todo o pátio da escola era coberto por grama, exceto onde eu e Siena estávamos, em volta de todo o pequeno muro era areia, que no momento tinha virado barro, basicamente algo sujo, e o sujo me lembrava de Michael.
- Eu só não quero um namorado - olhei pra ela com um sorriso mínimo nos labios e encarei os grandes olhos esverdeados- ok?
Ela sorriu novamente.
- Ok.
Ela havia alargado o sorriso, mas ela não me olhava, segui seu olhar me virando para a porta da escola e de lá saia um garoto alto, branco, cabelos castanhos olhos azuis, logo atrás vinha outro esse era cheio de tatuagens pelo braço, tinha cabelos encaracolados e olhos verdes.
Involuntariamente perguntei.
- São eles? - logo me amaldiçooei, não podia mostrar que eu precisava de alguém, afinal, eu não precisava, uma arte que eu havia dominado em meus 16 anos de vida foi não me envolver com pessoas sentimentalmente, claro, eu tive namorados, mas o último... Michael era um cretino, e eu tola o deixei me manipular pelo amor cego que tinha por ele.
Ela abriu um sorriso malicioso.
- Pra quem não tava interessada - ela riu, mas quando me voltei para ela e a olhei um pouco irritada ela parou - são sim, vieram dos Estados Unidos, o grandão tem 17 e o outro que por sinal é bem gostoso tem 18.
Olhei rapidamente para eles, os dois estavam sentados em um banco a nordeste da gente, desviei o olhar rapidamente, o sinal tocou, me levantei e com cuidado para não me sujar tanto pisei na trilha de concreto que levava ate a entrada do colégio.
- Você tem o que hoje? - Siena perguntou, surgindo do inferno.
Olhei pra ela com as sombrancelhas quase grudando nos olhos.
- Biologia, Química - olhei o horário no celular - e depois tem um documentário no anfiteatro, sobre o nazismo.
- Eu acho tudo isso horrível - ela pegou um saquinho de alcaçuz, pegou um e me entregou outro - sabe eu não entendo esse lance de alguém se achar superior e melhor do que os outros só pela cor da pele.
Chegamos nos nossos armários, abri e fui surpreendida por uma chuva de tinta laranja que me cobriu por inteira.
Todo mundo a minha volta riu, fechei o armário com força, fazendo o som metálico acoar pelo corredor, escorei a testa na porta e suspirei, limpei a tinta no meu rosto.
- QUEM FOI?! - gritei, a raiva era mais do que evidente em minha voz, eu mataria o primeiro que aparecesse na minha frente - QUEM FOI O FILHO DA PUTA QUE FEZ ISSO - todos pararam de rir.
Fechei a mão, cravei as unhas na palma da mão até sair sangue, fechei os olhos e sai dali deixando Siena lá discutindo com todos, rumei para o vestiário feminino, tomei outro banho e peguei uma muda de roupa no armário, não era a primeira vez que isso acontecia, então já estava preparada, fiz um rabo de cavalo, coloquei uma camisa branca e um short laranja ( irônico não? ), sai do vestiário e fui até a sala do diretor.
- Já é a terceira vez em um mês - cheguei na sala do diretor já falando, nem havia reparado que os dois garotos estavam ali - tem um filho da puta...
- Isso não é um palavreado decente Sra. Richardson - aquele velho filho da égua.
Eu explodi.
- ACHA QUE EU TO PREOCUPADA COM O JEITO QUE EU FALO, TEM UM FILHO DA PUTA QUE TA PONDO TINTA NO MEU ARMARIO E TU NÃO VAZ NADA SEU... SEU - olhei pra ele sentindo muito mais do que só raiva, me controlei e voltei a falar normal - o senhor tem que fazer algo urgente, a pessoa que ta fazendo isso não se preocupa com meus materiais, já é o terceiro livro de Biologia que eu tenho que comprar - peguei o livro encharcado de tinta e joguei na mesa dele.
- Me perdoe por isso - e só agora eu havia reparado os dois garotos presentes ali - Sra. Richardson, pode pegar um novo livro hoje depois da aula, agora se me permite, fassa o favor de mostrar a esses dois rapazes a sala de química.
Olhei pra ele indignada e sorri.
- Claro.
Sai da sala e rumei para o corredor, desci o primeiro lance de escadas e logo ouvi os dois garotos correndo atrás de mim.
- Ei garota espera - o cachos falou.
Me virei pra eles.
- Olha amigo, eu tenho mais o que fazer do que ta levando João e Maria pra sala - eles me olharam estranho.
- João e Maria - o alto disse - serio?
Revirei os olhos e voltei a andar.
Logo ouvi o cachos falar.
- Eu não sei seu nome.
Parei e me virei pra eles, o cachos tinha um sorriso malicioso nos labios.
- É por que eu não disse - o sorriso desapareceu, brotou um em meus labios e voltei a andar, rumo a sala de química, nem so maléfica.
Cheguei lá e logo me sentei com Siena.
- O que ele falou - ela perguntou.
- O de sempre, descobriu quem foi?
– Desculpa, não.
Tirei os materiais e me pus a copiar o que estava no quadro, não demorou muito e ouvi a porta sendo aberta, sorri com isso e levantei a cabeça, logo eles me olharam, parecia que iam me matar e eu sorri mais ainda.
- Rolo algo que eu não fiquei sabendo? - Siena falou.
Olhei pra ela com um sorriso travesso.
- Ah, os novos alunos - o professor levantou de sua cadeira e foi até eles - turma dêem as boas vindas a Thiago e Christopher.

O Diabo mora ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora