-- Um corpo é caracterizado como sendo uma porção limitada da matéria, um objeto é a matéria transformada em algum utensílio ao homem. Assim, por exemplo, o vidro é matéria, uma placa de vidro caracteriza um corpo, já um copo de vidro define um objeto - o maldito professor falava.
Ouvir a voz do dele me irritava, ele ficava falando sobre essa coisa toda de massa e não sei mais o que, como se um dia eu fosse precisar disso. Olhei pro lado e Siena tava quase babando, sorri com isso, me lembro do tempo que ela passava a noite acordada olhando desenho e sempre acabava dormindo na aula, e sobrava pra rainha aqui copiar as coisas pra ela.
Finalmente o sinal tocou, enfiei tudo rapidamente na mochila e rumei para a sala de Biologia, quando entrei vi vários potes e alguns kits de dissecação, o meu dia só ficava melhor, sorri com isso e andei até o fundo da sala.
Fiquei desenhando no caderno, um bonequinho, ele tinha uma cabeça enorme, olhos totalmente brancos e em volta um ton de pele preta, no lugar de couro cabeludo tinha uma espécie de borracha preta como toca e de cada lado da cabeça saia aqueles negócios pontudos tipo de bobo da corte que tinha estampado um xadrez preto e branco, a boca era um linha com uma língua que poderia te cortar e era rodeada de dentes pontudos, era pequeno, exatamente do tamanho do desenho e tinha um corpo pequeno de mais, parecia que a cabeça tombaria para um lado levando o corpo junto a qualquer momento e isso parecia mais possível pois ele tinha um corpo esquelético.
Fui surpreendida por alguém sentando ao meu lado, olhei para a pessoa e vi o garoto dono dos olhos azuis, involuntariamente sorri.
- Desculpa é que eu não conheço ninguém - ele mantinha o olhar pregado em minha boca - e você resistiu ao charme do Thiago então acho que meio que sou um conhecido seu - ele olhou em meus olhos dando um sorriso fraco.
Dei uma risada.
- Não se preocupa, deus de que você não fassa o mesmo eu fico de boa - estendi minha mão - Darryl Richardson.
Ele apertou.
- Christopher Adams.
Sorri mais ainda.
- Família Adams?
Ele riu.
- Não, mas minha mãe poderia ser considerada uma verdadeira Morticia.
Neguei com a cabeça voltei a desenhar, encarei o boneco mal feito e me lembrei do sonho que tive com ele, " Você precisa estar pronta, algo grandioso lhe espera, você terá que fazer escolhas difíceis ", ele falou.
- Venham até aqui, peguem o kit de dissecação, o jaleco e as luvas - o professor parou de falar e mostrou para a sala a bandeja cheia de sapos - e peguem os animaizinhos.
Todos se levantaram e o fizeram.
~~~~~~O sinal tocou, sai da escola e logo rumei para casa perdida em pensamentos, de repente sinto algo se chocando contra mim bruscamente fazendo com que eu caísse no chão enlameado. Me levantei rápida e desesperadamente comecei a passar a mão pela parte traseira do short na tentativa inútil de limpar. Quando finalmente parei para olhar a pessoa em quem havia batido não vi ninguém, a rua estava completamente deserta, olhei em volta e nada, olhei pelo chão em busca de algo que pudesse ter feito eu cair e de novo não vi nada, fechei os olhos e balancei a cabeça, voltei a andar e em poucos minutos já me encontrava na sala sentada no sofá velho da cor vermelho que já estava desbotando, me sentei e liguei a tv.
- MÃE!!
Peter Park lutava com o Duende Verde.
- MÃÃÃÃEEEE!!!!
troquei de canal, pica-pau enganava o Zeca Urubu.
Me levantei e fui na cozinha, ela não tava lá, fui em seu quarto, ela também não estava lá, fui em todos os cômodos da casa e nada da mulher que passava o dia inteiro reclamando aparecer.
Fui para o quarto e retirei as peças sujas que eu usava, peguei uma camisa regata grande que mais parecia um vestido a vesti e voltei a cozinha, fui até a geladeira e me deparei com um bilhete:
Fui ao marcado, tem macarrão com queijo no forno. Não esqueça de estender a roupa.
Mamãe.
Essa mulher ta achando que eu so empregada.
Peguei o macarrão e fui para a sala.
Me sentei e fiquei olhando o desenho.
- Não entendo esse programa - uma criaturinha minúscula apareceu do meu lado - ele engana todo mundo?
E me olhou, no lugar dos olhos apenas uma imensidão branca. Era o boneco com quem havia sonhado.
- Quem ou o que exatamente é você? - encarei aquela coisa minúscula que estava na minha frente.
- Você não se lembra? - eu neguei, ele ficou de pé no sofá - eu sou Santanico, um espirito-demonio inquieto, e vim para lhe ajudar senhorita.
- É claro que veio.
Meu rosto continha confusão.
- Deixe eu lhe explicar - ele subiu no meu colo - você tem muito envolvimento com o anormal.
Preciso dizer em que estado me encontrava?
Me levantei e a coisinha minúscula cravou os ossos no tecido da blusa, escalou ela e se sentou no meu ombro, virei meu rosto pra ele e o observei, parecia que a qualquer momento eu seria sugada por seus olhos.
- Eu to enlouquecendo - fui até a cozinha e enfiei a cabeça na pia liguei a torneira e deixei a água gelada entrar em contato com meu crânio.
- AIII - ele ainda estava no meu ombro? - cuidado garota, nós demônios inquietos somos sensíveis a água.
- Claro que são - olhei para a parede e tive uma ideia - e como eu to sonhando eu sei que posso atravessar aquela parede.
Fui correndo em direção a ela e eu a atravessei e sai em uma casa e lá estava Michael me esperando nu em uma cama. Sério? Você acreditou? Eu bati com a cabeça na parede e isso me custou um corte na testa.
- Cuidado garota tola - olhei para o ser que ainda estava parado sentado em meu ombro.
E como último recurso eu belisquei meu braço, fechei os olhos, contei ate 10 e voltei a abri-los.
Ainda me encontrava na cozinha, olhei novamente para Santanico.
- O que você quis dizer com muito envolvimento com o anormal?
Algo apareceu em seu rosto, ao meu ver pareceu um sorriso.
- Vamos para um lugar reservado.
Sai da cozinha atravessei a sala e subi a escada, parei no início do corredor.
- Algo errado? - Santanico perguntou.
Olhei o corredor observando cada detalhe.
- Parece que... Nada - sussurrei a última palavra.
Fui até meu quarto, entrei e fui sentar na cama.
- Bom o primeiro de tudo - ele me olhou, mesmo sem uma pupila e íris eu sabia que aquele olhar era de preocupação - você é filha de Lúcifer.
- eu ri - Tipo Lúcifer Lúcifer mesmo, o anjo que foi expulso do céu? Como é isso? Meu pai ta escondendo que ele é um anjo?
- Esse mesmo - ele parou de falar subitamente - ainda não te contaram?
- Contaram o que?
- ele hesitou - Você é adotada criança.
Essas palavras me atingiram como um soco na cara, eu sei que tem todas as desigualdades físicas e tals, mas adotada? E por que eles ainda não tinham me contado? Eu já tinha 16 anos.
Me levantei e fui até o quarto dela, revirei tudo procurei no criado-mudo no roupeiro, de repente uma sensação começou a se espalhar pelo meu peito, eu sentia como se tudo fosse dar certo, olhei ao redor quando parei na cama senti uma fisgada no coração, fui até lá e comecei a mexer nos lençóis, retirei tudo o que cobria o colchão e vi pequenos pedaços de linha, como se fossem pontos na lateral, comecei a arrancar e o colchão começou a rasgar, quando o buraco era grande o suficiente para passar uma mão eu pus a minha e tateei o estofado e logo senti algo se dobrando em baixo da minha mão, puxei e pude ver o papel pardo servindo de pasta para outros papéis, abri e comecei a ler, ficha de adoção, meu nome, o de minha mãe, de meu pai, data da adoção, mais um monte de baboseira.
Cai sentada no chão e por minutos fiquei encarando o nada até sentir meu olho arder e algumas lágrimas saírem.
- Você está bem criança? - Santanico estava ao meu lado.
Assenti, me levantei e fui para a sala, fiquei lá sentada no sofá esperando minha "mãe" chegar.
- Você não vai ficar aqui vai? - olhei Santanico.- Preciso criança, preciso lhe proteger.
- Me proteger do que? - uma lágrima.
- Você corre perigo. Eu já te disse criança, você tem escolhas difíceis para fazer, algo grandioso lhe espera.
- Por que? O que eu tenho que fazer? - mais lágrimas.
- Isso não cabe a mim lhe dizer, criança.
- Então por que me falar?
- Foi necessário.
Suspirei e simplesmente desisti de perguntar, me deitei no sofá e abracei os papeis.
- O que pretende fazer agora?
Olhei para a cabeça grande de mais para o corpo.
- Não sei - sussurrei.
Fechei os olhos e em questão de segundos já estava dormindo.
- DARRYL RICHARDSON - nem pude processar o que estava acontecendo e já me encontrava de cara no chão - cuidado garota.Me levantei e vi minha mãe e meu pai com várias sacolas em mãos.
Logo a raiva me tomou.
- Quando iam me contar que sou adotada?
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O Diabo mora ao lado
ParanormalDentre tantos problemas de adolescente, outros muito piores vem para atormentar nossa protagonista: acabar descobrindo ser adota, um demônio que a visita deus de criança, e o maior deles: ser a filha de Lúcifer.