2- Novidades e normalidades

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No outono de 1997 comecei o tão sonhado Ensino Médio. Lembro exatamente daquela sensação, era um misto de nervosismo com empolgação. Meu coração batia forte e minhas mãos soavam frio. Naquela idade eu pensava que o modo como eu me relacionasse e vivesse aqueles anos determinaria o que eu seria para o resto da vida. Que belos anos os da juventude! Recomendo a você que os aproveite sem pressa de se tornar adulto, pois aquela sensação de que tudo é novidade, de planos e sonhos, diminuem conforme se vive a vida. E se você está lendo isso e não é mais jovem, não pare nunca de sonhar, pois, sonhos são a alegria da alma.

Nas primeiras semanas tive dificuldade de encontrar as salas de aula sem um atraso considerável. Sorte a minha foi que algumas turmas que eu fazia parte eram as mesmas de Anna, porque ela tinha facilidade de se localizar. Alguns professores se irritavam muito com atrasos e tudo que eu não queria era ser advertido verbalmente na frente de adolescentes que eu não conhecia.

Lembro-me da primeira prova que fiz, era de matemática, passei horas estudando no dia anterior e teria estudado mais se minha vizinha irresponsável não tivesse me chamado para tocar guitarra na casa dela. É claro que eu poderia ter negado o convite, mas ela era do tipo de pessoa mandona que não gostava de ouvir não como resposta, então peguei Julie (minha querida guitarra) e fui até a casa dos Carter, toquei a campainha e o pai dela foi quem me recebeu:

- Oi, Ben. Tem praticado aquele último solo que te mostrei? - Ele sempre me recebia com entusiasmo.

- Oi senhor Carter. Tenho praticado sim, depois podemos tocar ele juntos. A Anna está em casa?

- Sim, pode subir, ela deve estar no quarto. Tocaremos depois do jantar, eu estou assistindo uma comédia romântica com a senhora Carter, é algo que não se tem todo dia não é mesmo?!

Assenti e ri enquanto subia as escadas, eu sabia que ele odiava esse tipo de filme. Quando cheguei à porta do quarto dela vi que ela estava distraída e nem percebeu minha chegada. Me aproximei silenciosamente da cadeira onde ela estava sentada de costas para mim e assustei-a. Ela deu um pulo e começou a me xingar, enquanto eu gargalhava da facilidade que tinha de se assustar.

- Ben Turner Júnior! Não faça isso novamente, você quase me matou!

- Não seja exagerada garota. Pegue logo seu violão, vamos tocar uma homenagem ao nosso rei. Ainda não acredito que ele possa ter morrido!

- Vou pegar por que quero, não pense que você manda em mim. Jailhouse Rock do Presley?

- Pode ser Anna.

Tocamos durante meia hora. Ela cantava muito melhor do que eu. As vezes deixava a voz grave, de um jeito engraçado e eu como amigo criticava para provocá-la. A mãe de Anna apareceu na porta e nos disse que qualquer dia, esses músicos todos que os cercavam a deixariam surda. Em seguida pediu para que nós fossemos comer pizza. É incrível como as duas eram parecidas. Anna tinha herdado aqueles olhos lindamente azuis da sua mãe Lia, os cabelos loiros e também o gênio forte. Os Carter foram minha segunda família e demorei tempo para perceber o quanto eles eram importantes na minha vida. Eu ia bastante à casa deles, mesmo depois que Arthur estava namorando a Anna, de forma menos frequente talvez, mas nunca deixei de ter esse elo com eles. Era muito ligado também com o irmão mais novo dela, Peter, porque eu não tive irmãos, então me apeguei a ele. Querido leitor, perceba que existem pessoas que são parte da sua família e que você talvez não tenha caído em si. Trate de as reconhecer e dê valor as mesmas.


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⏰ Última atualização: Apr 19, 2016 ⏰

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