Depoimento de um gay adolescente

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Não. Não é engraçado e nunca foi quando no colégio me chamavam de "viado, baitola, florzinha... ". Desde muito cedo sofri preconceito por apenas não me comportar de uma maneira heteronormativa imposta por uma sociedade hipócrita e preconceituosa que impõe que crianças disseminem um rio de discriminação.

Nunca me senti confortável quando estava com meus "amiguinhos" do sexo masculino, era excluído das brincadeiras que diziam ser de homem sem ao menos saber o motivo. Sendo assim, resolvi por conta própria me fechar no meu mundo e escolhi a solidão desde cedo.

Claro, tive minhas amigas que eu tanto agradeci por não me deixar sozinho na maioria das vezes, e que raramente me defendiam de insultos.

Quando criança eu não entendia muito bem, eu não entendia meus desejos. Imagina uma criança Gay, se sentindo excluído, estranho por não ser igual a todos, do interior, filho de pais conservadores. Realmente eu estava perdido.

E assim eu fui caminhando, aprendendo a sofrer sozinho, calado. No entanto, eu resolvi que eu tinha que estudar, porque pra me ver livre de tudo isso eu tinha que ser o melhor. Mas não deu muito certo, quanto mais eu estudava, mais eu sofria por isso na escola.

Quando eu cheguei na adolescência, eu achava que ia mudar, mas estava muito enganado, acho que essa fase foi a pior de todas, puberdade, descobertas, espinhas, nessa sim eu sofri. Agora sim eu já entendia que não gostava de garotas como a maioria dos garotos e era brutalmente machucado por isso, não foram agressões físicas, foram piores, foram psicológicas. Agressões que me acompanham até hoje e que chegaram a destruir minha auto estima.

Acho que no fundo pessoas que praticam o preconceito não sabem como isso é destrutivo pra quem sofre, e claro, como a maioria dos gays que não são apoiados pelas pessoas mais próximas, eu me sentia muito mal e até pensei em suicídio. Mas graças a Deus e uma música em especial (Born This Way - Lady Gaga) eu me aceitei como eu sou e passei a ignorar os comentários maldosos que eram dirigidos a mim.

O pior é que sofrer preconceito de fora não é tão pior quanto sofrer preconceito dentro da própria casa. Isso acaba com qualquer pessoa, a falta de apoio de quem aparentemente nos ama, nos destrói, é horrível chegar em casa depois de um dia de humilhação na escola e não poder contar com sua família.

Mas o preconceito que eu sofri , não foi de um tanto ruim, eu passei a usar isso ao meu favor, eu resolvi que cada vez mais que eu sofresse mais forte eu ficaria, e fiquei bem forte, passei a filtrar tudo que eu ouvia, o que possivelmente me destruiria passei a ignorar. Aprendi também que o único modo das pessoas me respeitarem é que eu deveria ser muito bom naquilo que eu fizesse, e sim eu terminei meu ensino médio e me livrei do preconceito que eu sofria dentro da minha segunda casa. Estou praticamente me formando no meu curso técnico, e já entrei na faculdade, e hoje eu realmente sou bom no que eu faço.

E por fim, gostaria encarecidamente de pedir a quem comete preconceito, que por mais que você ache que seja brincadeira, não é brincadeira pra quem é atingido. Imagine como ficaria seu irmão, seu pai, irmã, mãe...se eles sofressem preconceito ou se até mesmo fosse você que sofresse. Respeite, o mundo precisa de respeito, o seu próximo precisa de respeito, só faça para os outros o que você gostaria de receber, e a humanidade não vai acabar porque existem gays, gays existem desde que o mundo é mundo. É a diversidade que faz o mundo evoluir.

E aos gays que estão aqui, vocês não são inferiores e nem piores que ninguém, você é mais um ser humano que pode tornar o mundo um lugar melhor, acredite em você e só ligue para as boas opiniões, porque a gente só escuta aquilo que a gente quer ouvir.

Apenas um gay!

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