And I still get trashed, honey, when I hear your tunes

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Querido ninguém.

É a terceira vez que eu escrevo essa carta, para ninguém em particular. Eu só não queria que minhas lembranças fossem levadas com o tempo.

Engraçado não é? O tempo.

Você acha que tudo está bem e então não está, os sorrisos viram lágrimas e o mundo cai ao seu redor.

Eu deveria começar de forma mais clara, me desculpe.
É sexta feira, noite, me sinto sozinho.

Ele não está aqui.

As vezes me pergunto se ele realmente esteve alguma vez.

As memórias que tenho de sua presença são turvas. Me lembro do cheiro da sua pele no entanto. Ele está por todo o apartamento, nas minhas roupas, e tive de trocar o travesseiro, porque seu cheiro está lá também.

Aos poucos todas as recordações vão se esvaindo, não lembro mais do seu sorriso, ou se suas mãos eram frias. Seu cheiro por alguma razão não me abandona, como uma recordação cruel que ele o fez.

Há garrafas vazias espalhadas pelos cantos da casa, não as vou recolher. Ele que volte e as recolha, exceto que ele não vai.

As recolher ou voltar.

Fez um mês ontem, e as pessoas continuam repetindo que a cicatriz vai fechar.

Não quero que as cicatrizes fechem, curar significa esquecer, e de forma alguma eu posso o esquecer.

E então todos continuam repetindo que o tempo vai fazer com que tudo melhore. Novamente, o tempo.

Não confie no tempo, ele é um relógio cruel girando constante. Enquanto somos todos relógios girando ao contrario, quanto mais tempo, menos tempo.

Continuo caminhando para frente e meu coração se rompe a cada passo que dou.

Ele não está aqui.

Eu sei que já disse, mas acho importante ressaltar já que minha mente insiste em fazer com que eu esqueça.

Eu tenho sonhos sobre ele.

Nós dois deitados na cama, sua cabeça pendendo sobre meu ombro e seu cabelo cheirando a cigarro e suor.

"Você me ama?" Ele pergunta.
"Amo." Eu respondo.
Ele sorri e não diz de volta, porque eu sei que me ama.

E então sonhos sobre nossas brigas. Gritos, lágrimas e beijos raivosos. Porque não sabiamos demonstrar qualquer sentimento sem ser com um beijo. Beijos de amor, beijos de dor.

Beijos.

Os sonhos não param.

Talvez porque ele tenha sido meu sonho.

Louis Tomlinson era como um lindo sonho e eu não estava pronto para acordar ainda.

Mas acordei, e nunca mais dormi.

Exceto pelas vezes que o álcool embaralhava minha cabeça e eu o via na minha frente, com os ombros ossudos, cabelos caindo por todos os lados, despenteados e olhos azuis. Então dormia embalado pelo cheiro do álcool e o furacão de sua presença irreal.

Porque sua existência era um furacão.
...

Me desculpe, caro ninguém, as próximas palavras podem estar manchadas. As lágrimas vergonhosamente estão escorrendo do meu rosto e pingando no papel.

Tão estúpido, eu choro.

Ele não está chorando, porque está bem.

No entanto, eu não estou.

Sinto falta de cada detalhe daquele que amo.

Poderia conjugar a palavra no passado "aquele que amei", mas não vou.

A consciência do quanto o amo mantém a dor real e essa é a única coisa que me resta dele.

A dor. As vezes é mais fácil conviver com ela do que com o amor.

Porque a dor é suposta a machucar, o amor não.

Seu amor me rasga por dentro, dissolvendo cada pedaço do que eu era a poeira. Como o furacão que ele é.

As coisas dele estão exatamente da mesma forma que deixou. A xícara de chá suja continua na mesa, não vou lavá-la.
Seu casaco horrível ainda está pendurado na maçaneta da porta. Eu continuava dizendo para que ele tirasse, mas ele apenas se irritava e dizia que era mais prático assim.

Em algum ponto eu percebi que o amor não é suficiente e essa é a razão pela qual escrevo.

Percebi que meu fraco é o amor e é por ele que me perco.

Sou nada sem ele.

Sempre fui nada, então ele apareceu e por pouco fui alguém, mas agora que se foi volto a ser nada.

Sou nada entre milhões dos que são tudo.

Ponho um ponto final na minha irrelevância, agora.

Escrevo para você, Louis.

Me espere no portão de braços abertos.

Aguarde minha chegada e diga que me ama. Ou diga qualquer coisa, só preciso ouvir sua voz.

Estou indo à seu encontro agora.
A casa ficará sozinha, espero que ninguém toque em seu casaco horrível.

Sinceramente seu.
              Harry Tomlinson. X

Carta de suicídio encontrada na residência Tomlinson, ao lado de uma xícara vazia.

I lost myself when I lost you. (l.s)Onde histórias criam vida. Descubra agora