TRÊS

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A cidadela da Companhia dos Magos fora construída sobre uma ilha rochosa encravada em um extenso banco de areia que o fluxo das marés mantinha inundado pelo mar. Sua única ligação com o continente era feita por uma longa ponte de pedra que ligava o seu lado sul ao porto comercial fortificado e controlado pelos Magos. Era a cidade mais inexpugnável que se conhecia em Närvik, pois a qualquer momento a Cidadela poderia se isolar, já que para se conseguir entrar era necessário passar por um trecho levadiço feito de madeira.

Toda a fortuna amealhada pelos comerciantes da Companhia estava guardada numa cripta da fortaleza na parte mais alta da ilha. Dizia-se que se podia ficar cego pelo brilho do ouro que estava armazenado lá. Uma pequena guarda era mantida ali, formada pelos melhores guerreiros jurados que também faziam a segurança do Grão Mestre. E havia apenas uma rua por toda a cidadela que ligava o portão da ponte à fortaleza no alto. Era larga, pavimentada, subindo numa espiral que tornava o caminho longo e tortuoso e por todo o caminho, postos de guarda podiam acionar armadilhas para impedir o avanço de um exército. Chegar até lá seria uma tarefa bastante complicada.

Manter uma guarda nas muralhas era praticamente uma formalidade, um exercício de disciplina que cabia aos soldados em treinamento com um veterano no comando. Poucos, muito poucos, haviam tentado escalar aqueles muros para assaltar a cidadela apesar de o saque ser muito, mas muito recompensador. E todos os que tentaram estão pendurados nos muros com um laço no pescoço.

Amanhecia, o ar tinha cheiro de sal, de algas e dos lobos marinhos que habitavam as pedras que formavam a base da ilha. Estava frio e ventava no alto da muralha que circundava toda a extensão da cidadela. Otávio se embrulhou mais no pesado manto de lã, estava ansioso por deixar seu posto de vigia, mas como comandante do turno não podia fazê-lo antes que seu substituto se apresentasse para rendê-lo.

Observou os pequenos barcos de pescadores que chegavam à praia ao norte, onde o estuário do rio Dii mantinha o banco de areia mais alto. A maré estava baixa expondo uma longa faixa de areia escura e os pescadores tinham saltado para fora puxando os barcos para que ficassem presos a estacas fincadas próximo à costa. Eles voltavam da madrugada de trabalho com os barcos abarrotados de tudo quanto podiam retirar do mar. Aves marinhas gritavam enquanto tentavam capturar uma refeição matutina diante de tamanha fartura.

Ele havia passado ali os últimos 6 anos de sua vida e em breve anunciaria se faria os votos para permanecer na Companhia ou se voltaria para casa. Como herdeiro de um ducado e estando na linha de sucessão ao trono, ainda que de forma distante, ele não os faria. Mas o que o impedia realmente não eram os títulos ou as terras que herdaria, o motivo estava no Leste e os votos envolviam castidade.

No último ano só vira Morgan uma vez, ela estava numa fase de seu treinamento que exigia períodos de isolamento e sentia falta de estar com ela. Vinham se comunicando por cartas, no entanto, há alguns meses que não recebia nada dela. Estava preocupado com a falta de notícias e cheio de saudades.

Passava um pouco da hora combinada quando seu substituto chegou cheio de pressa e ainda ajeitando o cinturão da espada seguido de uns 25 rapazes que renderiam sua guarnição.

_ Estou atrasado?

_ Como sempre, Ulfric!

_ Desculpe! Passei a noite com uma garota incrível! Precisava ver os peitos dela!

Otávio deu uma gargalhada. Ulfric tinha o hábito de se referir sempre à mesma garota como se fossem várias. Ele tinha uma queda por ela, mas não gostava de parecer que era fiel a uma garota de taverna.

_ Eu vi anteontem à noite e o Arn ali também viu.

O rapaz deu um sorriso largo como se a lembrança evocada fosse muito feliz. Ulfric amarrou a cara, era duro para ele saber que a "sua" garota também era de todos.

O Peregrino de NärvikOnde histórias criam vida. Descubra agora