11° REMOENDO O PASSADO

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Camila

"Princesinha".

Ela me chamava assim. Princesinha. Quando ia pentear meus cabelos ou explicar como o liquidificador funcionava. Antes de sumir. Antes de me abandonar. De nos abandonar. E ele, me chamou de Princesinha. Tal como ela. O celular passou a tremer em minhas mãos.

Princesinha. Princesinha.

- Princesinha - repeti, calma e bravamente. Procurando não ceder ao abismo. Procurando não dizer "sim" a essa aventura louca que sem querer querendo acabara de assinar um pacto. Um pacto com o amor.

Passei a querer compartilhar aquela maluquice do Allan e entrar na brincadeira com ele.

Brincar de amar? De se apaixonar? De se envolver?

Quem me deu o direito de brincar com os outros?

Foi a maldita piranha que me pôs no mundo? Aquela que nem o melhor dos maridos foi capaz de saciar suas aventuras sexuais e foi a procura de um novo alguém?

Quem me deu esse direito? Por qual razão ajo assim? Tenho medo... Não de sofrer, pois evitar isso faço com maestria... Contudo, de ser a dita cuja sofrida, a corneada ou a largada.

Não sei.

Talvez tivesse que me abrir mais, me permitir mais. Ah, isso é bobagem... Nada que uma boa terapia de melhor amiga não resolva.

Aquela maldita mulher, que deixou esposo e filhos. Que não hesitou em deixar nem um adeus. Apenas arrumou suas malas e se foi. A vadia que não soube se reapaixonar por seu marido e filhos.

Eu amaldiçoo os olhos de quem você esteja a olhar. Amaldiçoo quem te levou. Amaldiçoo quem faz parte do seu ciclo de vida. Que seja amaldiçoada essa maldita vida que escolheu. Enfim, eu lhe desejo... Tudo de pior.

Não quis deixar minha fúria destruir meu cinema com Luíza, pois quem estava precisando desabafar seus problemas era ela e não eu.
Isso poderia ficar para depois. A tristeza. O rancor e a dor também. Eu sempre deixo para depois.

Durante metade de uma hora concentrei-me no problema entre Lu e Mat. Ela estava nitidamente abalada pela situação. Eu via em seus olhos o que era o amor. Ah, o doce amargo amor. Que machuca, fere e não deixa as pessoas ficarem uma com as outras.

Será mesmo que valeria a pena?

O que teria no coração daquele homem loiro que me conhece há três dias e está tentando como um louco se aproximar. Foca na sua amiga, Cá. A toda frase que saía de sua boca, a imagem nítida de Allan vinha em meus pensamentos. Estava prestes a pegar um dos palitinhos chineses que estavam na mesa e perfurar minha mente para conseguir tirá-lo de lá. Droga.

Por quê? E pra quê?

Não quero ter que ligar pra Lu de madrugada aos prantos por um babaca. Não.

Aceitaria esse jogo de amar com ele. Mas o babaca seria ele. O babaca por tentar me fazer amar. Um sorriso tímido nasce no canto da minha boca. O idiota que pensa que vou me apaixonar por aqueles lindos olhos verdes. E por aquele sorriso perfeito. Inferno! Sai da minha cabeça! Seu maldito príncipe perfeito.

Diga alguma coisa para a Luíza! Distraía-se!

- Lu, você sabe que eu amo você tanto quanto amo meu irmão.. Mas vocês não vão dar certo... Ele se envolveu demais com a Clarisse... Ele não quer fazê-la sofrer. Entende Lu? - Fiquei sem respirar por alguns minutos. Eu, de longe, sou a pior pessoa para aconselhar alguém amorosamente.

Foi Por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora