Capítulo Único

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Reencontrar o lugar foi mais fácil do que eu imaginava.

O calafrio que me consumia parecia ser gerado pela perspectiva da provável guerra que em breve estouraria do lado de fora.

Ergui a cabeça para o teto, relembrando o lugar que me trazia tantas recordações de anos atrás, e que agora estava definitivamente interditado e abandonado, desde o segundo ano.

As supostamente inofensivas pias no centro há muito haviam sido destruídas, e sua entrada, lacrada.

Senti um suspiro tenso ao meu lado, e ergui o olhar, deparando-me com a expressão prolixa de Rony.

Ele assentiu, sem nada dizer, apontando para o grande buraco á nossa frente.

Empunhei a varinha, erguendo-a na direção das tábuas que vedavam a cratera.

- Bombarda!

Para meu alívio, o feitiço foi potente o suficiente, destruindo a vedação e espalhando fragmentos de madeira por todo o lado.

Recuei um pouco, tossindo com a fumaça que subiu em seguida.

- Muito bom – engasgou Rony, dando uma risada nervosa.

Aproximamos-nos do abismo abaixo de nós.

Senti-a minha bolsinha pesar, apesar de saber que isso não devia acontecer.

Sentia-a vibrando, encostada em meu corpo, dentro da bolsa.

As vibrações pareciam subir por minha nuca, me arrepiando. Pressentia a vontade dela de dominar minha mente e minha alma, como o medalhão havia tentado perpetrar conosco tempos atrás.

Um efeito terrivelmente perverso.

Os pesadelos, incubados cruelmente durante aquelas semanas angustiantes, pareciam querer ressurgir diante de meus olhos, levados pela aura maligna que retinia ao meu lado.

Pensei que iria sucumbir àquela sensação horrível.

Mas senti algo segurar minha mão.

Levantei a cabeça, encarando-o.

Ele sorriu de modo tranquilizador.

E, por um momento, nada me pareceu mais curioso, do que o efeito que aquela pequena expressão teve sob meus batimentos já acelerados.

- No três?

Concordei com o queixo, apertando a mão que ele me dera.

Agachei-me com Rony, preparando o impulso.

- Um... – Rony contou - dois...

Impulsionei o corpo, de mãos dadas com ele, em direção á cratera.

- Três!

Pulamos.

A queda foi curta, mas atordoante.

Assim que atingi o chão, cambaleei, erguendo minhas mãos adiante para amenizar o impacto.

Porém, a mesma mão que eu havia soltado ajudou a me reerguer.

- Tudo bem?

Assenti, ainda tonta.

Olhei ao redor, sentindo um calafrio desagradável na espinha, enquanto reconhecia o mar de ossos sob meus pés.

Rony resfolegou, enrijecendo.

Com um assomo de pena, percebi que o lugar não lhe trazia boas memórias.

O Segredo da CâmaraOnde histórias criam vida. Descubra agora