Ninguém falou com Elissa, nem mesmo um "oi, como vai?". Na verdade, acho que ninguém nunca reparou nela. O típico caso de garota que anda sozinha nos corredores do colégio. Que se senta sozinha na sala de aula e nos intervalos. Nenhuma amiga para conversar. Vestindo roupas tão apagadas, até que parecia não querer ser notada. Não sei dizer se é só coisa de colégio ou se é assim fora dele também. Parte de mim quer pensar que não. Que ela tinha várias amigas e todas se reuniam depois do colégio para se divertir, ir ao cinema, falar sobre garotos, esse tipo de coisa que toda garota faz. Mas sei que isso é só um pensamento vago. Ninguém havia notado Elissa até o início da semana, quando uma das patéticas garotas do último ano - aquelas que acham que são a última bolacha do pacote - finalmente notou nela. Mas não de uma forma boa. De uma hora para outra, ela foi de Elissa Ninguém para Elissa Perdedora. Foi aí que começaram os xingamentos, as derrubadas de livros e cadernos, os empurrões, as brincadeiras de mau gosto. Pela primeira vez eu notei aquela garota. E quando seus olhos encontraram os meus, pude sentir a dor que ela sentia. Olhos que esbaldavam dor e sofrimento. Queria voltar a ser desconhecida. Sinto-me mal por não defender ela. Muito mal mesmo, mas não o fiz.
Alguém deveria ter feito isso. Ter dito a ela que o que os outros diziam não importava. Que ela era linda, maravilhosa. Que ela deveria ter orgulho da pessoa que era. Alguém deveria ter ouvido seus gritos silenciosos de ajuda. Talvez, se isso tivesse acontecido, se só talvez... Elissa não teria se matado.