Estou sentado na grama, fitando o horizonte. Respiro fundo e fecho os olhos, sentindo a brisa fria em meu rosto e o doce toque da mão de Helena na minha. Ela recosta a cabeça em meu ombro, e eu a abraço, trazendo-a mais para perto. Apesar de estarmos no meio do verão, Helena usa um suéter de lã. Isso me deixa triste, pois sei que o motivo é esconder as cicatrizes dos cortes que fez. Terceira. Essa foi sua terceira tentativa de se matar. Isso provavelmente teria acontecido se eu não tivesse chegado a tempo e a levado ao hospital. Na hora ela me odiou, não queria mais viver onde passava apenas por preconceito.
Assim que ela recebeu alta, coloquei-a no carro e vim para cá, no meio do nada. Há alguns anos comprei uma chácara, que fica uns 70 km da cidade. Totalmente isolado e silencioso. Era um local que apenas eu conhecia, nunca havia trazido ninguém aqui. Mas Helena é diferente. Preciso dela, e mesmo negando, ela precisa de mim. Sinto como se levasse um soco no estômago só de pensar que ela poderia estar morta agora.
A analiso atentamente. Pele bronzeada, cabelos cacheados, lábios carnudos que sustentam um sorriso que me faz perder o chão. Seus olhos, que parecem duas amêndoas me encaram. Como alguém pode odiar uma pessoa tão linda quanto Helena? Ela é encantadora, de todas as formas possíveis. Seu jeito calmo de falar, a atenção que ela dá as crianças, sua forma delicada de andar. Parece uma garota frágil. Mas que garota frágil passa por três tentativas de suicídio? Helena é a garota mais forte que já conheci.
"Eu sei que é difícil." Sussurro em seu ouvido. "Mas não deixe que o mundo acabe com você. A dor que está sentindo vai passar, e você não precisa ter medo de passar por isso novamente, porque eu não vou deixar. Só promete pra mim que você vai ficar nesse mundo Helena. Porque se você não ficar, eu não tenho motivos pra continuar. Só me diz que vai ficar."