Capítulo 5.

285 23 10
                                    

5.

Babi reclamou pela centésima vez ao chegarem no local da trilha. Tinha dito a si mesma que não iria reclamar e passaria a imagem de uma pessoa adoradora da natureza. Tudo parte do seu plano de seduzir Leo, mas quando chegaram ao destino final, todas as suas promessas internais caíram por terra e ela quase teve uma síncope. Haviam mosquitos por toda parte, picando suas pernas a todo momento. Leo havia insistido que ela usasse uma legging, mas pra contrariar, ela tinha decidido usar um short jeans curto e uma camiseta. Arrependeu-se profundamente.

- Se você me trouxe aqui pra fazer com que eu odeie a natureza, já conseguiu. Eu odeio tudo isso. Milhares de insetos querem o meu sangue, esses bichos não param de fazer barulho e podem haver cobras e animais perigosos por aqui, ok? Pelo amor de Deus, vamos pra casa, pedimos pra sua mãe fazer pão de queijo, você finge que me vigia e pronto.

Leo apenas sorriu e continuou andando.

- Ah, então você vai me ignorar? É isso? - Babi disse. - Não acredito que estou andando numa floresta em plena manhã de sábado. Eu devia estar sonhando.

- Com unicórnios e dinheiro?

- E você sonharia com o que? Pessoas mandonas e chatas como você?

- Touchè. - Leo disse, rindo e percebendo que Babi continuava com a cara emburrada. - Você podia apreciar a beleza da natureza que mora pertinho de você e parar de reclamar de tudo.

- Eu posso reclamar do que eu quiser.

- Não pode não.

- E por que? A minha vida é uma porcaria mesmo.

Leo parou onde estava e Babi acabou esbarrando nele. Ficaram a centímetros de distância. Leo, então, segurou o braço de Babi e olhou profundamente em seus olhos, a fúrias transbordando.

- Não pode reclamar porque tem a porra de uma vida perfeita. Todos fazem as coisas por você, tem dinheiro excessivo, vai pra festas todas as noites... Eu queria ver você sentindo o que é ter que acordar ás cinco da manhã todos os dias pra ajudar na casa, depois ir pra faculdade e trabalhar em qualquer lugar à noite pra conseguir dinheiro pra casa e depois, quando finalmente pensar que vai descansar, se deparar com seu pai e seu irmão se drogando e sua mãe se acabando em lágrimas pela décima vez no dia. Além de tudo isso, tenho que aguentar essas suas birras de criança. Eu tenho todos os motivos pra reclamar da vida, não acha? Você não tem nada. - Disse, soltando-a, por fim.

Babi engoliu em seco e sentiu as palavras pesarem. Sentiu o quão machucado Leo era e o quão difícil era a vida que tinha. Infelizmente, ele não sabia o que ela tinha passado.

- Desculpe. - Disse, olhando para o horizonte à sua frente e continuando a caminhar. - Não vou mais falar nada. Podemos continuar.

E continuaram caminhando por alguns minutos até chegarem em um espaço vasto e sentarem. Uma cachoeira ao fundo e uma pequena caverna ali perto. O tempo não estava tão bonito. As nuvens povoavam o céu e Leo estava incerto sobre o tempo, mas apenas sentaram com uma cesta de piquenique que Leo havia levado e começaram a comer em silêncio. Depois das palavras de Leo, Babi ficou calada a maior parte do tempo, apenas perguntando algumas vezes sobre o tempo ou trivialidades. Não tinha mais reclamado de nada, mas seu plano continuava povoando seus pensamento. Continuaria em outro momento, só não naquele dia.

- Então, por que não me diz mais sobre você? - Babi disse, enquanto comia uvas da cesta.

- Eu?

- Não, o unicórnio do meu pijama. É óbvio que é você, gênio. Quem mais está aqui?

- O seu sarcasmo?

- Touché.

Leo riu e apenas deu de ombros.

Opostos.Onde histórias criam vida. Descubra agora