A musica ensurdecedora iria apodrecer junto de seu corpo, ela ficaria impregnada, putrificando sua alma. Anna teria entendido o motivo, mas existem pessoas com valores maiores que o dela, e não mata-la... Seria um erro.
A musica continuou a tocar num ritmo fúnebre, as batidas dançantes quase acompanhavam a respiração de Anna, suas pernas já não suportavam mais o peso de seu corpo, Seus cabelos não estavam mais presos num coque alto e elegante, agora estavam soutos, rebeldes como um embaraço de fios de cobre de uma engrenagem fodida pelo tempo.
A jovem continuou sem desistir de sua vida, suas lembranças rolavam em sua mente. Sua Mãe interesseira que por pouco não matou seu pai viciado em bebidas, sua linda casa de campo na qual ela e mais três amigas, que não estavam ali pela amizade de Anna, se drogaram pela primeira vez, o que levaria ao suicídio de um das "amigas" a prostituição da mais jovem e a internação forçada da mais burra, se é que posso dizer assim. Enquanto Anna corria, sua mente se encheu da podridão de sua vida. Ela lembrava de quando transou com o amante de sua mãe, depois dele prometer casamento a ela...
- Não corra - sua voz ecoou pela sala como um beijo. Anna não respondeu, quem responderia ?
- Anna... Me diga... - a voz continuou calma - Por que está aqui Anna ?
A jovem estava encurralada numa pequena sala vazia bem iluminada, branca que ardia os olhos. Era fácil ver seu próprio reflexo no piso. Ela não queria olhar, não queria ver seu rosto.
Ela sentiu a macieis de camurça puxar seu rosto para frente, a luva aveludada a acariciou. Ela encarou o vermelho de vidro, sentiu o cheiro acido de sua roupa, o azul doce de seu olho não suportava o que via... O desenho de madeira triangular formava uma raposa perfeita escupida na madeira vestindo a face de seu assassino. Um monóculo pregado no olho esquerdo escondia o único contato real que ela poderia ter com quem ela poderia implorar a vida.
- Por que esta aqui Anna?-