Dois

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Sua gravata era prateada, e a camisa, branquíssima. A ausência de cor realçava ainda mais seus incríveis olhos castanhos. Vê-lo parado ali, com o paletó aberto e as mãos casualmente enfiadas nos bolsos da calça, era como dar de cara com uma parede cuja existência eu desconhecia.
Detive meu passo de repente, com os olhos grudados naquele homem, que parecia ainda mais impressionante do que eu me lembrava. Nunca tinha visto cabelos tão perfeitamente negros. Eram brilhantes e um pouquinho compridos, com as pontas roçando o colarinho. Pareciam um indício de vitória do jovem impulsivo sobre o homem de negócios bem- sucedido, uma pitada de chantilly em um sorvete com calda quente. Como diria minha mãe, aqueles cabelos longos eram sinal de juízo curto.
Minhas mãos tiveram que lutar contra a vontade de tocá-los, sentir se eram tão sedosos quanto pareciam.
A porta começou a se fechar. Ele deu um passo à frente e apertou o botão para mantê-la aberta.

- Tem espaço de sobra pra nós dois aqui, Liam.

O som implacável daquela voz me tirou do estado de inconsciência momentânea. Como é que ele sabia meu nome?

Foi quando lembrei que ele havia apanhado o crachá que eu tinha derrubado no chão do saguão. Por um instante, pensei em dizer a ele que estava esperando alguém e pegaria o elevador seguinte, mas meu cérebro logo voltou a funcionar como deveria.
Que diabos eu estava tentando fazer? Ele trabalhava no Malikfire, sem sombra de dúvidas. Eu não ia conseguir evitá-lo todas as vezes que o visse, e por que faria isso? Para poder admirar sua beleza sem me sentir abalado, precisaria vê-lo o bastante para me acostumar com sua presença, como se ele fosse apenas uma peça decorativa.

Rá! Como se isso fosse possível.

Entrei no elevador.

- Obrigado.

Ele soltou o botão e deu um passo para trás. As portas se fecharam e começamos a descer.
Não demorou muito para que eu me arrependesse de pegar o mesmo elevador que ele.
Eu sentia sua presença na pele. Sua energia poderosa se amplificava naquele ambiente pequeno e fechado, irradiando uma força palpável e um magnetismo sexual que me deixaram inquieto. Minha respiração e meus batimentos cardíacos ficaram caóticos. Senti de novo aquela atração inexplicável em sua direção, como se ele exalasse uma ordem silenciosa à qual eu me sentia instintivamente inclinado a obedecer.

- Gostou do seu primeiro dia?- Ele perguntou, despertando-me do meu devaneio.
Sua voz ressoava, fluía pelo meu corpo em um ritmo sedutor. Como é que ele sabia que era meu primeiro dia?

- Gostei, sim.- Respondi tranquilamente. - E o seu, como foi?

Senti seu olhar percorrer minha silhueta, mas mantive minha atenção concentrada na porta de alumínio polido do elevador. Meu coração tinha disparado, e meu estômago dava voltas e mais voltas. Estava me sentindo confuso e inseguro.

- Bom, não foi meu primeiro dia.- Ele respondeu num tom divertido. - Mas foi produtivo. E tem tudo pra ficar ainda melhor.

Acenei com a cabeça e esbocei um sorriso, sem saber direito o que aquilo significava. O elevador parou no décimo segundo andar e entraram três pessoas, que conversavam animadamente. Dei um passo atrás para abrir espaço para o grupo, encolhendo-me no canto oposto ao que estava o Moreno Perigoso. Nisso, ele também deu um passo, ficando ao meu lado. Naquele momento, estávamos ainda mais próximos do que antes.
Ele ajustou o já perfeito nó da gravata, roçando seu braço no meu enquanto fazia isso. Respirei profundamente, tentando ignorar o efeito que sua presença exercia sobre mim, procurando me concentrar na conversa que se desdobrava à nossa frente. Era impossível. Ele estava ali. Bem ali. Perfeito e maravilhoso, exalando um perfume divino. Meus pensamentos se perderam, fantasiando sobre como seria seu corpo firme por baixo daquele terno, sobre como seria apertá-lo contra mim, sobre como ele poderia ser bem dotado - ou não...

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