Reza a lenda que em algum lugar do universo dos contos de fadas, um jovem príncipe buscava a sua princesa. Um pouco enfezado, diga-se de passagem.
É que Azim ficou pra titio. Todos os príncipes haviam encontrado uma donzela e casado com ela, menos ele. Talvez não estivesse procurando direito, ou então sua aparência não ajudava muito. Era mais baixo e mais magro que os demais príncipes. Tinha cabelo loiro que contornava sua cara pontuda, olhos azuis sempre alertas, bochechas salpicadas por sarnas e nariz pequeno. Digamos que Cebola, o corcel branco real, chegava a chamar mais a atenção do que ele.
Enfim, aquela vida de solteiro já estava cansando Azim.
Sendo assim, um belo dia ele tomou uma decisão. Pegou seu cavalo e saiu do palácio à procurar do amor.
Capítulo 01
Eu sei o que você está pensando, caro leitor. Por que esse príncipe não procura a princesa dele em outro castelo? Ora, porque os tempos são outros! Nos castelos só moram as princesas casadas e as que estão guardadas por dragões capazes de provocar queimaduras de terceiro grau. Princesas não são tão fáceis de achar. É preciso ser persistente. Até mesmo o príncipe mais vaidoso de todos os tempos, aquele que fez um baile só pra escolher uma noiva (como se ele fosse a última gota d’água do deserto), teve que sair estrada afora com um sapato de vidro na mão e experimentar no pé de cada donzela até achar aquela que o deixou plantado feito um tomateiro no meio da festa.
Mas voltando à história, a primeira parada de Azim foi um vilarejo não muito longe do castelo. Desses que as crianças correm pela terra com os pés descalços, as donas de casa compram pães e bolos, os camponeses vendem o produto da safra para os mercadores... Enfim, essa coisa bem caipira. O jovem príncipe sabia que não encontraria sua princesa num local tão comum. Parou naquela cidade apenas para pedir informações.
Azim amarrou Cebola e bateu na porta da primeira pensão que encontrou.
- Entre. - Disse a voz feminina de dentro do estabelecimento.
Ele entrou num ambiente mal iluminado e acabou batendo a testa num pedaço de ripa que estava pendurado e ligava uma parede a outra.
- Ai!
A dona da pensão percebeu que ele havia se batido e fechou o livro, deixando-o em cima do balcão de recepção. Ergueu as sobrancelhas e abriu bem os olhos e a boca. Não era uma princesa. Sequer parecia com uma. Era apenas uma moça com o cabelo marrom amarrado às pressas num rabo de cavalo alto e desarrumado. As roupas eram coloridas demais, chamativas demais e desleixadas demais. Tudo puxando para o roxo, vinho e azul marinho. A peça mais sóbria da vestimenta era a capa preta com capuz. Tinha olhos bem verdes e bem ressaltados.
- Bom dia. - Cumprimentou Azim massageando o local batido. – Eu vim procurar uma...
- Um cliente! - Ela pegou um espanador e saiu apressadamente detrás do balcão da recepção - Você está bem? – Começou a espaná-lo sem nenhuma delicadeza - E que vestimentas boas! Certamente é bem rico!
- Ai! Eu... Eu estou bem sim! - Azim fechou os olhos e a boca com força quando sua cara começou a ser espanada pela figura. - Está bem. Está bem. Pode parar. - Cuspiu algumas cerdas que haviam chegado à sua língua.
A dona do estabelecimento virou o rapaz para tirar a poeira das costas dele, agora usando as mãos.
- Pronto! Novo em folha!
- Tá bem, tá bem! Obrigado.
- O que o traz à minha humilde pensão? - O sorriso dela era tão elétrico quanto os movimentos. - Já sei! Vou servir um chá! - Correu até à cozinha, que não era dividida da sala.