Pedro estava parado na beira de um abismo, vendo sua esposa caindo e sendo abraçada por braços vindo das sombras, formas terríveis que nem mesmo os piores filmes de terror poderiam reproduzir, ela chamava ele com gritos de desespero, gritos que também faziam parte dele, ele não conseguia fazer nada, pois uma força agia sobre ele, que lhe prendia no lugar, não o deixava chegar até ela, somente os gritos de agonia tomavam conta da cena, enquanto isso ela se distanciava e era engolida pela escuridão, cada vez mais, até ele não pode mais vê-la.
Com um pulo e o rosto todo molhado e os olhos arregalados, Pedro acordava, nada mais era que um sonho, o mesmo sonho dos últimos três anos, toda noite ela se distanciava cada vez mais, caindo naquele abismo escuro , às vezes ele pensava se era o medicamento forte que ele tomava todos os dias que não conseguia jogar fora sem ser notado pela enfermeira, ou era a falta que Ana Júlia fazia em sua vida. A única certeza que ele tinha, era a que estava do mesmo jeito desde que foi internado na clinica psiquiátrica. Esse era um dia diferente, pois era o dia que iria sair e tentar voltar para sua vida normal, conseguiu um mandato de boa conduta de um psicologo, que diziam as seguintes palavras "totalmente apto para o convívio social". Já não fazia mais comentários sobre as pessoas que via sem elas estarem lá, ainda as via, mas fingia que não, esse foi o ponto que encontrou para poder sair de lá, mas estava mais do que determinado em saber o que ouve naquela noite onde perdeu sua esposa para o inexplicável, pelo menos para a justiça comum.
A esposa de Pedro morreu, mas ao contrario que muitos pensam, não foi ele que a matou. De forma direta não, mas talvez de forma indireta, com as consequências dela se aproximar dele. Ele a amava e isso era seu maior erro, deixou-se levar pelo sentimento, sem pensar no que podia acontecer.
Às vezes parava e se perguntava por que eu? Porque que tem que ser assim? Será que serei feliz? . Perguntas que nunca são respondidas, pois há muito tempo que são para ele mesmo e que desde uma criança até um velho bem vivido ficaria um pouco confusos. No começo de sua perda teve ajuda de parentes e amigos, mas se fechou, e não queria mais prejudicar ninguém, só queria ficar sozinho. Então a família que não o escutava muito e sempre o achou um completo alienado, resolveu interná-lo e ficar com o que sobrou do dinheiro do seguro de morte de Ana.
Como era seu ultimo dia naquele lugar, Pedro começou a andar e aproveitar seu banho de sol, olhava os outros pacientes que ali estavam e sabia que não era seu lugar, haviafeito um ou dois amigos que haviam, perdido a cabeça para estarem ali também. Sempreque podia jogava umas partidas de cartas e acendia um cigarro com um pouco de café. Era até um lugar bem limpo, paredes e chão bem limpos, brancos igual as roupas, que fazia esquecer as vezes que existia outras cores.Sem conexão com o mundo exterior fazia-o ficar angustiado constantemente, quando sua irmã Amanda vinha visitá-lo, perguntava sobre quem ganhou o campeonato nacional de futebol ou quem ganhou o Oscar, ela trazia para ele alguns livros de suspense e CDs, quase sempre de bandas de classic rock, era sua única visita, seus pais se preocupavam só com o dinheiro e seus antigos amigos tinham receio de visitar um louco.
Entre um pensamento e outro começou a se lembra da noite que mudou sua vida, era só fechar os olhos que a cena começava a se formar em sua mente, era uma noite chuvosa de 10 de setembro de 2007, foi esse dia que morreu uma parte de Pedro, acordou as três da manhã com um pesadelo que algo estaria falando com ele, era uma sombra negra, que dela saia braços o puxando pra baixo, "o mesmo sonho que tem até hoje", mas com uma pequena diferença, é que aquele sonho se tornaria realidade, mas não consigo mas sim com a sua maior fraqueza, Ana estava sendo puxada para baixo por braços vigorosos, braços que eram feitos de carne esfolada e ossos a amostra, mas não era ela mais sim a sombra dela , uma sombra interna , branca. Achava que era a alma dela ou algo do tipo. Tudo naquela imagem fazia sentido, o tempo parou e teve um flashback , de quando era criança e conversava com pessoas de rostos e pele esfolada. Sua mãe achava que era tudo fantasia, que tudo aquilo era coisa de criança, que ele estava só atrás de atenção, mas o que ela não sabia, que aquilo era seu dom ou uma maldição. Foram varias vezes indo ao psicólogo, em igrejas e benzedeiras, uma hora se cansou e fechou os olhos para aquilo, de uma forma que ele nunca tivesse visto mais nada, até aquela noite chuvosa, tudo o que aqueles seres sedentos queria era Pedro , mas o atacaram de forma indireta que o machucava mais , pegaram sua maior fraqueza, pegaram seu amor, e ele não pode fazer nada. Tentou agarrá-la, mas tudo que conseguiu segurar foi um corpo frio, sem alma, que o coração já não pulsava mais, aquele mesmo coração que um dia foi dele, já não o pertencia mais, foi roubado por aquilo que te perseguia desde antes. Não adiantou ele fechar os olhos!
Já se aproximava do horário do almoço sempre servido as onze e meia em ponto, se assentou em um banco no refeitório e veio mais algumas lembranças na cabeça de Pedro. Se lembrou de quando era criança e como odiava beterraba e cebola, e de como sua mãe o obrigava a comer, sempre com a frase acompanhada "deus não gosta de meninos desobedientes", mesmo com seus oito anos o que mais importava para ele era rebeldia e de como gostava de contrariar seus pais, ele apanhou muito. Mas tinha algo que fazia a sua mãe dona Alice ficar louca, era quando Pedro começava a falar sozinho, ela o perguntava com quem ele estava falando, as respostas eram diversas, ela sempre o batia e falava que era feio mentir, e que crianças que mentia não ia para o céu. Isso foi algo que sempre esteve nele, mal sabia sua mãe que ele via e ouvia pessoas, que já não estavam mais materializadas neste plano,mas que eram os reflexos que ficaram e que queria um pouco de atenção do seu filho.
Preocupada com a família e sua imagem, dona Alice presava pela boa educação dos filhos, que no total eram três, Davi, Amanda e Pedro o caçula, Davi o mais velho morreujovem em um acidente de moto, aos 16 anos , Amanda era dois anos mais nova e Pedrooito anos mais novo que Davi. Logo depois do acidente de Davi por vezes a mãe ouvia Pedro conversar com o invisível e citar o nome do irmão, ela ficava nervosa e pegava o garoto com palmada que deixavam as marcas de roxo pelo corpo, batia como se a criança fosse um adulto.
Pedro voltou sua concentração a onde estava e foi a procura de um bandeja para pegar seu almoço, que era servido sempre com a sobremesa de dois comprimidos. No prato, arroz, feijão, salada e os legumes que ele sempre não os comia, um pedaço de bife e refrigerante para acompanhar servido em um pequeno copo descartável. Alguns ali naquele lugar se acomodavam e viviam como se fosse algo permanente, mas Pedro sabia e queria que fosse somente um momento, algo que servia de aprendizado para controlar seus sentimentos e impulsos, e que uma hora o dinheiro iria acabar e ele teria que sair de lá.
Seu tempo dentro da instituição foram proveitosos, ele leu muito sobre espíritos , também sobre o psicológico das pessoas, leu relatos e artigos de pessoas que viam as mesmas coisas que ele, sua irmã trazia escondido esses artigos, além de irmã ela era sua melhor amiga, que sempre esteve presente em sua vida e que o defendia nas horas difíceis.
Após o almoço Pedro deitou e olhando para o teto pensou um pouco mais sobre lá fora e sobre sua família, teve lembranças de como seu pai Francisco nunca se importou muito para ele e seus irmãos, já que estava sempre na fazenda e seus raros momentos em casa passava lendo jornal ou assistindo a televisão, em programas policiais. Ele não batia e nem o obrigava a estudar, ir na igreja, etc... para essas funções existia sua mãe, que o obrigava a ir toda quinta e domingo nos cultos de sua igreja, onde falavam de demônios, de céu de inferno, de dinheiro e de como só pessoas de deus eram boas. Quase sempre Pedro acabava apanhando, porque falava o que via para as outras pessoas que estavam assistindo o culto, quem estava ali ficava horrorizado. Com o passar dos anos Pedro cresceu e para não apanhar mais e nem decepcionar a mãe e a imagem da família tentou parar de ver as pessoas que só ele que enxergava, de tanto tentar conseguiu e com seus quatorze anos começou a ter uma vida normal, já que normal era não apanhar tanto como antes. No colégio era um cara quieto na dele, sempre bom em tudo o que fazia, tinha um grupo de amigos onde saiam para escutar um bom rock, jogar conversa fora e fazer algumas outras coisas ilícitas. As memórias eram tantas e tão desorientadas que começaram a se misturar e Pedro acabou caindo no sono, quando acordou já era madrugada, se passavam das três e meia e aquele horário era algo muito propicio para ele se lembrar de Ana, parou olhando para uma luz que vinha da fresta da porta que ligava ao corredor e começou a pensar em sua ex-esposa, como tinham se conhecido aos 19 anos ele e ela com 16, dois jovem que gostavam de curtir a vida, ela muito simpática e descolada, ele na dele, mas muito atraente e misterioso, foi em uma festa de verão onde se viram e nunca mais se desgrudaram, entre uma cerveja e outra, entre um legião urbana e um capital inicial surgiuuma afinidade que viraria casamento.
As horas se passaram tão rápido como os pensamentos de Pedro, já era de manhã e chegará o dia tão espero que ele sairia daquele lugar chato e insuportável. As oito da manhã levantou-se e foi a diretoria para a ultima consulta e para receber conselhos de antigos internados que quando saíram conseguiram seguir suas vidas, toda aquela velha baboseira. Pegou seus pertences que tinha deixado quando entrou, uma carteira marrom com vinte e oito reais, e um ingresso do primeiro jogo de futebol que foi ao estádio com seu irmão, uma camiseta xadrez azul, calça preta jeans e um coturno cano baixo. Os dois anos e meio que passou ali eram demais pra saber se faltava algo mais. Se encaminhou a saída, e quase chorou de emoção quando viu seu opala do lado de fora e sua irmã sentada encima do capo do carro, acenando com um sorriso no rosto. Todaeufórica ela disse:
__ Ei maninho olha com quem vim te buscar, o Opalão!
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Ao Cair da Noite
ParanormalA história de um detetive que tem que resolver o caso mais importante da sua vida, a morte de sua esposa, depois de um longo tempo de fora da profissão, novos desafios fora do normal te esperam nesta dificil jornada.